Ação Solidária

Plantar solidariedade, enfrentar a fome: MST no Sudoeste paulista se soma às ações que marcaram a semana

Dois mil quilos de alimentos saíram das áreas de Reforma Agrária para as mesas dos trabalhadores
As cestas de alimentos foram entregues na Cooperativa de Catadores Santa Maria. Foto: Camila Bonassa

Por Coletivo de Comunicação MST em SP
Da Página do MST

“Só, só sai, só sai Reforma Agrária, com a aliança camponesa e operária”. Embaladas pelos versos do cantador Sem Terra Zé Pinto e imbuídas da mística da solidariedade entre a classe trabalhadora, famílias assentadas e acampadas da Regional Sudoeste do MST no estado de São Paulo se somaram às atividades da Semana de Ações Solidárias organizada pelo Movimento, de 25 a 31 de julho. Cerca de dois mil quilos de alimentos saíram das áreas de Reforma Agrária para as mesas de trabalhadores e trabalhadoras dos municípios da região.

Na última sexta-feira (30), cestas de alimentos foram entregues na Cooperativa de Catadores Santa Maria, vinculada ao Movimento Viva Janaína Alves, em Itapeva (SP). Os cooperados são trabalhadores que há cinco anos viviam no lixão da cidade e a partir de parcerias e apoios tiveram a oportunidade de iniciar o trabalho de reciclagem com material proveniente de empresas do município.

De acordo com a cooperada Ana, representante do grupo, há uma luta para que a prefeitura adote a coleta seletiva, o que geraria mais oportunidade de trabalho para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Hoje são 21 trabalhadores e trabalhadoras, mas o local tem condições para abrigar em torno de 60 pessoas.

Além das cestas, também foram doados alimentos para o refeitório coletivo que atende os trabalhadores da cooperativa.

Entre os produtos havia feijão, milho verde, abóbora, pepino, banana, abacate, mandioca, tomate, laranja, limão e hortaliças, oriundos das agrovilas do assentamento Pirituba, localizado em Itaberá e Itapeva, e do assentamento Emergencial 8 de Março, em Riversul.

Uma diversidade de alimentos foram doados durante um importante ato de solidariedade. Foto: Camila Bonassa

Para Adalberto de Oliveira, da direção estadual do MST, a doação de alimentos é uma forma de retribuição por toda a solidariedade recebida pelas famílias Sem Terra nos processos de luta. “Estar aqui hoje para nós é simbólico. Estamos num momento de disseminação do ódio e hoje estamos aqui para mostrar que o ódio não prevalece, o que prevalece é a solidariedade de classe. Se não fosse a solidariedade nos acampamentos, onde viviam as famílias que hoje estão assentadas, teria sido muito mais difícil seguir; foi graças a essa união que hoje podemos estar aqui retribuindo a solidariedade prestada pela classe trabalhadora.”

Adalberto também lembrou que mais de 500 mil pessoas perderam a vida vitimadas pela Covid-19 e pela política genocida do governo Bolsonaro. Ele enfatizou que a ação de doação de alimentos é ainda mais simbólica numa semana em que circularam nas redes oficiais do governo uma foto de um agricultor portanto uma arma de fogo.

“E nessa semana, que comemoramos o dia do trabalhador e da trabalhadora rural, nós vimos circular uma foto de um agricultor segurando uma arma e nós estamos aqui, neste momento de solidariedade, provando que agricultores não precisam de armas, não portam armas. Agricultores precisam de ferramentas de trabalho, precisam de políticas públicas para continuar trabalhando e produzindo alimentos saudáveis”, frisa o dirigente.

Antes da partilha dos alimentos, o padre Márcio Dias, vigário geral da Diocese de Itapeva, representando o bispo Dom Arnaldo Carvalheiro, conduziu uma oração de agradecimento e lembrou que os trabalhadores do campo e da cidade se unem através da luta. “Independente de crença, todos nós somos irmãos. O Deus que nós acreditamos sempre foi o Deus da generosidade, da unidade. Tanto os assentados do MST, quantos os trabalhadores da cooperativa têm uma marca comum. Qual a marca? A marca da união e da luta. As conquistas vieram por meio da união. E claro que tudo isso só foi possível também por meio de muita luta.”

As ações reforçam o papel que os assentamentos e acampamentos têm desempenhado na produção de alimentos. Foto: Camila Bonassa

Ao final da atividade, em nome dos trabalhadores e trabalhadoras da cooperativa, a catadora Ana agradeceu ao MST pelos alimentos recebidos e disse que “essa ação é muito importante porque com essa pandemia as famílias precisam bastante, a situação está bem difícil; diminuiu o volume de material e a gente fica muito feliz com essa contribuição que vocês trouxeram”.

Apiaí

Durante a semana, famílias do PDS Luiz David de Macedo e do acampamento Ilda Martins, localizados em Apiaí (SP), também realizaram uma doação simbólica para o Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) do município. Abóbora, limão e repolho produzidos nas áreas foram compartilhados com as famílias atendidas pela entidade.

As ações realizadas na Regional Sudoeste, bem como em todo o estado de São Paulo, reforçam o papel que os assentamentos e acampamentos têm desempenhado na produção de alimentos e no combate à fome, especialmente neste momento de pandemia e com 19 milhões de famílias em situação de insegurança alimentar no país.

*Editado por Wesley Lima