Plantar Árvores

“Plantio massivo de árvores enraíza mudança cultural contra o desmatamento”, diz dirigente do MST no Paraná

Mutirão de plantio cultivou mais de 21 mil mudas durante os dias 21 e 25 de setembro
Escola Milton Santos, Maringá/PR. Foto: Antonio Kanova

Por Lucas Souza
Da Página do MST

Em comemoração ao Dia da Árvore, entre os dias 20 e 25 de setembro, o MST plantou no Paraná 21.290 mudas de árvores de espécies nativas florestais, frutíferas e algumas arbustivas que fazem parte da produção agrícola. Entre as 21 variedades estavam a araucária, cerejeira, ingá, gabiroba, goiaba, ipê roxo, manga e café. Em sua grande maioria, espécies nativas do bioma da Mata Atlântica.

Lançado no ano de 2020, o Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, da qual a Semana da Árvore fez parte, já distribuiu 110.753 árvores e arbustos nas áreas de reforma agrária no estado.

Com o tema “Semear o Presente, Respirar no Futuro: Árvores Vivas e Fora Bolsonaro”, as ações da Semana colocaram em prática, de maneira massiva, o Plano Nacional, e envolveram 18 municípios, com participação de 20 acampamentos e assentamentos do MST, além de cinco escolas do campo.

De acordo com João Flávio Borba, engenheiro agrônomo e integrante do Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente, o Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” tem como objetivo a preservação do meio ambiente, da biodiversidade, o cuidado com os agroecossistemas em que o MST está inserido e, principalmente, a perpetuação da vida no planeta. “A campanha se encaixou perfeitamente com o cenário de crise ambiental que vivemos em todo o mundo”, complementa João Flávio. 

Para o agrônomo, o produtor acampado ou assentado, que consegue conciliar a produção com a preservação natural, salta à frente no sentido de reconstruir e manter os tecidos ecológicos, mantendo um sistema agroecológico equilibrado e harmônico. Assim, o camponês cria um ambiente arborizado, que mantém a água no solo e que também é produtivo e saudável. 

Acampamento Valdair Roque, Quinta do Sol. Foto: Matheus Henrique

As ações do MST surgem dentro de um cenário também de chuvas abaixo do esperado nos últimos anos. Em maio de 2021, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), disparou o alerta de que oito grandes hidrelétricas da Região Sudeste devem chegar a novembro perto do colapso. Frente à isso, o brasileiro vive hoje com o aumento do valor da energia elétrica e o medo de apagões.

De acordo com João Flávio, as áreas de reforma agrária no Paraná são potencialmente territórios para proteção ambiental da fauna, da flora, dos solos e da água. Para ele, “fatores como a cultura camponesa dos assentados, implica em aumentar a biodiversidade de seus sistemas produtivos.” Outro componente é quanto a capacidade de organização social das famílias nessas áreas, evidenciado pela quantidade de mudas plantadas desde o início do Plano Nacional. “Essa característica também contribui de forma determinante para uma auto fiscalização de eventuais violações ambientais, de qualquer natureza, dentro de suas comunidades”, completa.

O Plano Nacional dialoga também com o esforço para uma mudança de cultura, de mudar hábitos que às vezes estão postos com força na sociedade. “Plantio massivo de árvores alimenta a mudança cultural contra o desmatamento. Para o povo do campo, plantar árvores com viés econômico e ambiental será determinante para se atravessar qualquer crise, minimizando seus impactos”, explica o agrônomo.

Centenário de Paulo Freire

Tendo em vista o centenário do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, que nasceu no dia 19 de setembro, o Setor de Educação do MST no estado do Paraná, também se somou nos mutirões de plantio com os educandos das escolas do campo.

Em homenagem ao educador, foram organizadas ações de cultivo e embelezamento dos entornos de escolas, acampamentos e assentamentos, criando espaços educativos, sombreados e ampliando a produção.

Joélia Godoi faz parte da coordenação pedagógica da escola Caminhos do Saber, do Acampamento Maila Sabrina, de Ortigueira, norte do Paraná, e vê como muito importante criar formas de resistência nestes espaços. “Desde pequenos já incentivamos as crianças a plantar, produzir, cuidar da terra e da água e ampliar os espaços de vivências”, explica.

Escola Itinerante Vagner Lopes juntamente com famílias dos acampamentos Dom Tomás Balduíno, Fernando de Lara e Vilmar Bordim, de Quedas do Iguaçu (PR). Fotos: Euzébio Odair, Vanderleia e keila Dalepiane 

Preservação e solidariedade permanente

No mês de setembro também completou um ano das agroflorestas mantidas no Assentamento Contestado, na Lapa. Como forma de unir ações permanentes com produção de alimento, o coletivo Marmitas da Terra, semanalmente, realiza o plantio, manutenção e colheita na comunidade.

Durante este período, foram produzidas mais de seis toneladas de alimentos orgânicos, entre eles 4.260 kg de feijão, além de legumes, hortaliças, temperos, batata, milho e mandioca.

Parte dessa produção vai para a cozinha do coletivo, que produz semanalmente 1.100 marmitas e que no total já distribuiu 79.600 quentinhas, desde o começo da pandemia. Outras partes são enviadas para a cozinha comunitária da União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), que fica no Bolsão Formosa, e para complementar as cestas da União Solidária.

A construção coletiva de hortas comunitárias, uma iniciativa que partiu do MST e de seus militantes, ultrapassou os limites dos territórios do Movimento e se estendeu para as regiões urbanas periféricas de Curitiba. Foram implantadas agroflorestas nos bairros Chacrinha e Sabará, frutos da união solidária entre o campo e a cidade.

Horta manuseada pelo coletivo Marmitas da Terra, Assentamento Contestado, Lapa/PR. Foto: Leonardo Henrique

*Editado por Maria Silva