Livros

4 livros para celebrar e entender o legado de Octavio Ianni

Neste 13 de outubro, o sociólogo e professor Octavio Ianni completaria 95 anos; entenda a importância de seus estudos a partir de alguns de seus livros
Sociólogo e professor Octávio Ianni. Imagem: Reprodução

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Octavio Ianni foi um dos pensadores mais importantes das ciências sociais no Brasil, e nesta quinta-feira (13/10) se estivesse vivo, completaria 95 anos. Marxista por formação, foi discípulo de Florestan Fernandes e trabalhou a questão racial e os problemas do desenvolvimento, assim como a análise do populismo, do imperialismo e do globalismo, mantendo sempre uma visão muito crítica, humana e lúcida.

Considerado um dos pais da moderna sociologia brasileira, Octávio Ianni ressaltou em suas obras a luta pela terra no Brasil, como lembrou o Coletivo de Arquivo e Memória MST. Em 1984, escreveu com exclusividade para o Jornal Sem Terra, aonde defende que a História do Brasil é a História da Luta pela terra.

Em toda a sua trajetória, Ianni construiu um compromisso com o povo brasileiro, com a classe operária e com a luta pelo socialismo, ajudando a desvendar os segredos das contradições sociais brasileiras e a compreender a ação do imperialismo, mas também a cultura, a ideologia, a hegemonia exercida pelo imperialismo no campo das ideias.

E para ajudar na formação e educação com base neste grande pensador, confira abaixo a seleção de 4 livros que oferecem um panorama deste legado, todos disponíveis* na livraria Expressão Popular:

1. Estado e capitalismo

A análise do Estado é uma forma de conhecer a sociedade. Se é verdade que a sociedade funda o Estado, também é inegável que o Estado é constitutivo daquela. As forças que predominam na sociedade, em dada época, podem não só influenciar a organização do Estado como incutir-lhe tendências que influenciam o jogo das forças sociais e o conjunto da sociedade. Sob vários aspectos, a análise do Estado é uma forma privilegiada de conhecer a sociedade.

Estudar a formação do capitalismo no Brasil é, também, estudar a formação da democracia e da antidemocracia. Estas são algumas das teses defendidas em Estado e capitalismo por Octávio Ianni, obra republicada mais de vinte anos após sua primeira edição mas que permanece atual, preservando a visão antecipatória deste renomado sociólogo em relação às tendências que iriam se impor nas décadas posteriores.

2. Origens agrárias do Estado brasileiro

É possível dizer que todos os momentos mais notáveis da história da sociedade brasileira estão influenciados pela questão agrária. Na transição da Monarquia à República, do Estado oligárquico ao populista, do populista ao militar, na crise da ditadura militar e nos movimentos e partidos que estão lutando pela construção de outras formas de Estado. Há muito campo nessa história.

Ianni lembra que a questão da terra é muito forte porque se manifesta em todas as regiões do País. A terra é um problema muito antigo. Não há dúvida que, na história social do Brasil, as lutas operárias são muito importantes. Mas muitos imaginam que a história das lutas sociais no Brasil é a história das lutas operárias. A realidade é um pouco diferente, a história das lutas sociais é antes e muito mais uma história das lutas sociais do campo. Primeiro foram os índios lutando para manter os seus territórios, o seu trabalho, sua vida. Depois encontraram populações de procedência africana, os negros escravos, que lutavam para conquistar um pedaço de terra no território nacional.

3. Teorias da globalização

Segundo o relatório anual (1993) da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), um terço da capacidade produtiva mundial no setor privado está sob controle direto ou indireto (através de subsidiárias ou associações locais) de corporações transnacionais (TNCs). Trinta e sete mil delas, com 206 mil subordinadas em todos os continentes, foram responsáveis por investimentos totalizando 2 trilhões de dólares no ano de 1992. Seus ativos no exterior geraram transações comerciais no montante de 5,5 trilhões de dólares. As 100 maiores TNCs têm sede em nações desenvolvidas, sendo a metade de suas subsidiárias localizadas no chamado Terceiro Mundo. Coube a Octavio Ianni analisar o tema, investigar seu curso atual e conjecturar objetivamente sobre seus possíveis desdobramentos. Resultam deste enfoque o título e a própria natureza da obra Teorias da globalização.

4. A ditadura do grande Capital

Neste livro, Octavio Ianni faz uma análise da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) em seus aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais. Destaca-se a compreensão de que o golpe de Estado de 1964 e a ditadura instaurada a partir dele servia aos interesses da burguesia financeira internacional, utilizando o aparelho de Estado como forma de consolidação de uma nova fase de acumulação do capital, monopolista, no Brasil.

Ianni também analisa as contradições internas à própria ditadura que a desgastaram e também as formas de resistência popular que ganhava força, é bom recordar que o livro foi escrito em 1981, ainda no período da ditadura no Brasil.

Este livro nos ajuda a compreender como o Estado brasileiro é utilizado pelas classes dominantes nacionais e internacionais para alavancar a acumulação de capital e manter a dependência com relação aos países imperialistas. Além disso, ele também contribui para compreendermos como as necessidades de transformação do capital se relacionam com as formas políticas das classes dominantes, algo bastante atual.

*Algumas destas edições podem estar fora de estoque devido ao fluxo de pedidos da livraria.

**Editado por Solange Engelmann