Debate da Conjuntura

Assentadas e assentados reafirmam o semear da Reforma Agrária Popular

Durante a 2ª Assembleia Nacional virtual, o povo Sem Terra debateu sobre a conjuntura política no Brasil e na América Latina, além dos desafios da Reforma Agrária Popular
2ª Assembleia Nacional contou com a participação de Sem Terras de todas as regiões do país. Foto: Wellington Lenon/MST-PR

Por Lays Furtado
Da Página do MST

Na última quinta-feira (7/10), assentadas e assentados do MST se reuniram mais uma vez de modo virtual, durante a 2ª Assembleia Nacional, com o intuito de debater a conjuntura atual nacional e internacional, levantando projeções dos desafios pela Reforma Agrária Popular.

Com participação de Sem Terras de todas as regiões do país, a análise de conjuntura iniciou com a fala do companheiro João Pedro Stédile, da direção nacional do Movimento, sinalizando que nunca vivemos uma crise tão grave como a que passamos atualmente, onde esse tempo histórico tão difícil, vai exigir a união da classe trabalhadora para a luta em longo prazo.

Stédile destaca que a crise em que estamos vivendo no Brasil, também faz parte de uma conjuntura internacional, que deve durar muitos anos, até que uma mudança significativa desse cenário aconteça. Dessa forma, a crise estrutural do capitalismo e a luta de classes imediata entre as duas grandes classes – burguesia versus trabalhadoras (es) – no contexto mundial, se intensifica no espaço nacional com a tragédia da pandemia da Covid-19 e governo neofascista.

“O governo Bolsonaro é um governo de crise em si”

Chegamos ao triste patamar do luto por mais de 600 mil vidas ceifadas pelo Coronavírus no país, onde graças à CPI da Covid, fica cada vez mais evidente a irresponsabilidade criminosa do governo na gestão da pandemia. Os lastros de corrupção de escândalos ligados à governança, enquanto o povo está literalmente ‘correndo atrás do osso’, são contrapontos que nos mostram cotidianamente a gravidade da situação que vivemos no Brasil.

Ato de protesto Bolsocaro, em denúncia ao alto preço dos alimentos. Foto: MST-DF

“O governo Bolsonaro é um governo de crise em si, ele não resolve problemas, só cria mais alguns”, sintetiza Stédile. O Movimento, assim como o campo popular tem se mobilizado permanentemente nas ruas em denúncia à tragédia em que estamos imersos e em protesto contra o governo Bolsonaro. Nesse processo de mobilizações, é perceptível que “a burguesia não tem base social, eles mandam no legislativo, no judiciário, mas não tem base social”.

“A crise é também do modo de produção, por isso é estrutural e concentrada na economia,  o sistema não produz mais os bens necessários para a população. Qual a contradição? Estão acumulando, enquanto milhões de brasileiros estão à mercê da economia, inclusive a pequena burguesia”, salienta João Pedro.

Stédile também comenta que neste momento: “O centro da nossa luta ainda é a batalha de ideias”. E que em 2022, considerando a expectativa de imunização contra a Covid-19, haverá um grande Abril Vermelho pela Reforma Agrária Popular. Além disso, ele fala da importância do povo Sem Terra se unir às lutas indígenas por terra, principalmente, contra o Marco Temporal, que impede o reconhecimento ancestral de territórios dos povos tradicionais nativos do país.

“O agronegócio não serve para a sociedade brasileira”

“Há também a faceta nunca vista antes de crimes ambientais, seja no campo, na água e em todos os biomas, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, provocada pelo agronegócio”, menciona João Pedro. O que traz consequências para as populações do campo e da cidade, atualmente, “cerca de 70% da água do Brasil é de uso para o agronegócio, enquanto a imprensa bota a culpa em São Pedro”, complementa Stédile.

“Hoje, 400 empresas controlam o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro, e na agricultura são 53 que controlam o PIB”, declara Stédile. Por isso, faz parte dos desafios da Reforma Agrária Popular semear a luta contra a concentração de terras, mas também contra o agronegócio. Nesse sentido, o  Movimento tem dado passos firmes diante da resistência da classe trabalhadora no campo, mas é necessário fazer ajustes contínuos do programa agrário, em debate com a base, é o que declaram em comum acordo.

A assentada Maria de Jesus, do MST no Rio Grande do Sul, comenta que para o próximo ano precisamos ter um debate eleitoral sobre o programa agrário. E destaca duas principais iniciativas do Movimento que têm sido muito importantes nesse momento: “O plano nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, para recompor nossos sistemas agroecológicos e produzir alimentos, fazendo a defesa de nosso território frente a ganância da privatização dos assentamentos e outras ameaças do agronegócio”. E a outra iniciativa, integrada à produção e comercialização, é a consolidação da Rede de Armazéns do Campo, “que contribui com o desenvolvimento das famílias em seus acampamentos e assentamentos”.

Para Ana Terra, do MST em São Paulo, os ataques feitos por meio da tentativa de privatização dos títulos de terras em nível nacional e pelos governos estaduais, como o “Bolsodória”, são uma tentativa sistemática de enfraquecer a luta pela Reforma Agrária Popular, e destaca que: “as nossas escolas do campo são espaços fundamentais pro nosso diálogo”, é um meio importante para “podermos fazer essa batalha das ideias em nosso territórios”.

Tito Moura, da região Amazônica do MST, declara que “temos que ir pras pequenas cidades e municípios pra juntar forças e acumular forças pras próximas batalhas.” Foto: Gustavo Marinho. MST-AL

O agricultor e assentado, Vilson Santin do MST em Santa Catarina, comenta que o Movimento precisa aumentar a produção e a safra, para contribuir de maneira decisiva contra a fome nas zonas rurais e urbanas. E fala da importância de praticarmos a pedagogia do exemplo com o trabalho de base: “para que o povo possa se engajar na luta por um projeto popular para o Brasil”.

O companheiro Dinho, do MST no Mato Grosso do Sul, menciona que “o agronegócio na nossa região é muito devastador. Essa tempestade de areia, por exemplo, é um dano provocado por ele. Precisamos contrapor com muita seriedade enfrentando o debate do discurso dos latifundiários”. Ele concorda que precisamos nos unir na resistência da luta indígena: “O povo Guarani Kaiowá na região está há mais de 500 anos fazendo a resistência, nós temos que nos juntar na luta pela terra”.

Tito Moura, Sem Terra da região Amazônica do MST, declara que a análise vem de encontro com o que está se passando em sua região, com o avanço do agronegócio: “Nós temos que ir pras pequenas cidades e municípios pra juntar forças e fazer o que a gente tem que fazer, acumular forças pras próximas batalhas. Esse ano não é o tempo da colheita, mas é tempo de plantar e de concentrar nossas sementes.”

Para Ceres Hadich, assentada do MST no Paraná, lembra que: “nossa luta pela Reforma Agrária é para termos uma vida melhor, para nós e para o povo brasileiro”. E que precisamos ter nossa bandeira hasteada em todos os territórios conquistados pelo Movimento, para que todos os dias possamos lembrar do objetivo do MST, “para o triunfo da nossa luta, na luta pela terra”. Com a tarefa de produzir comida saudável com fartura, com preços justos e compartilhando o que temos de melhor de forma solidária. “Fazer o extraordinário se tornar cotidiano e essa ser nossa revolução”, sintetiza Hadich.

*Editado por Solange Engelmann