Educação
MST inaugura Escola do Campo Paulo Freire, no acampamento Clodomir de Morais/TO
Por Setor de Educação do MST em TO
Da Página do MST
O acampamento Clodomir de Morais, localizado entre os municípios de Ipueiras e Brejinho de Nazaré, no Tocantins, amanheceu em festa. Depois de quatro anos de luta, as famílias acampadas comemoram a abertura da Escola do Campo Paulo Freire, construída em mutirão pela própria comunidade.
A construção da escola fez parte da “Jornada Nacional Viva Paulo Freire!”, em homenagem ao centenário do grande educador do povo. Erguida por trabalho coletivo, mobilização de recursos da comunidade e da solidariedade de aliadas e aliados da região, o canteiro de obras já se constitui um espaço educativo, de encontro e de troca de saberes, envolvendo homens, mulheres, jovens e crianças do acampamento.
No sábado, 09 de outubro de 2021, foi realizada a inauguração da escola. O evento teve início com um momento ecumênico, logo pela manhã. À tarde, o Ato Político contou com a participação do deputado federal Célio Moura (PT); a Prof.ª Rejane Medeiros, Pró-Reitora de Extensão da Universidade Federal do Norte do Tocantins – UFNT; Prof.ª Etiene Pires, diretora do campus de Porto Nacional da Universidade Federal do Tocantins – UFT; Prof. Elizeu Lira, do Núcleo de Estudos Urbanos, Regionais e Agrários – Nurba da UFT; Filogonio Luiz, do Conselho Indigenista Missionário – CIMI; Eutalia Barbosa, Secretária de Movimentos Populares do PT; Nayara Ayres da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD/TO, além da participação das famílias acampadas do local e de outros territórios do MST, representantes de secretarias setoriais do PT, de professores e estudantes universitários. As prefeituras e Secretarias de Educação dos municípios de Ipueiras e Brejinho de Nazaré foram convidadas, mas não compareceram ao evento.
As crianças Sem Terrinha marcaram o dia com cantos, palavras de ordem e muita brincadeira, ocupando a escola, os balanços e todo o espaço com a alegria dessa conquista que elas ajudaram a construir. Thaygor Ferraz, acampado de 10 anos, relatou que as crianças também participaram ativamente da obra, desde o aterramento até a consolidação do prédio escolar, por isso essa escola era delas também.
Em função da pandemia, o processo de construção da escola buscou garantir as medidas de proteção contra Covid-19. No ato de inauguração, o uso de máscara e o cumprimento das medidas de prevenção foram adotados, de modo a diminuir o risco de contágio.
A Escola do Campo Paulo Freire
Chegar ao acampamento só é possível por travessia de barco pelo Rio Tocantins, pois fazendeiros da região proíbem o acesso por terra ao local. O município de Ipueiras se negou a oferecer transporte escolar aos estudantes, violando o direito à educação de quem mora no acampamento. Devido aos riscos que a travessia diária do rio impunha às famílias, elas alugavam uma casa de apoio em Brejinho de Nazaré para garantir a frequência dos estudantes nas aulas.
Após intenso processo de luta e reivindicação judicial das famílias acampadas, a Secretaria Municipal de Educação de Ipueiras se comprometeu a oferecer a estrutura e contratação de pessoal para que as crianças estudassem no acampamento, se as famílias construíssem o prédio da escola. O acampamento cumpriu com a sua parte do combinado e a escola está de pé. São quatro salas de aula, com a previsão de atender turmas de Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos – EJA.
Zenilda Ferraz, acampada no Clodomir de Morais, ressalta que com a inauguração da unidade de ensino, as famílias esperam que os estudantes possam frequentar a escola no próprio território, garantindo uma maior proximidade entre a instituição e a comunidade.
A data de inauguração da escola foi escolhida pela comunidade como uma forma de marcar o início da Jornada das Crianças Sem Terrinha Cultivando Solidariedade e o Legado de Paulo Freire. A presença das crianças trouxe cor e alegria para o ato político, que aproveitaram a ocasião para anunciar a escola que querem estudar.
Histórico do acampamento
Fotos: Janaína Rezende
A área corresponde a duas grandes fazendas, conhecidas como Tucum e Mutum, que foram apropriadas indevidamente por latifundiários da região. Nelas, trabalhavam diversas famílias camponesas como arrendatários, meeiros, vaqueiros, posseiros entre outros.
Com a construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Lajeado no Rio Tocantins, nos anos 1999 e 2000, o parecer técnico e político era de que a área seria totalmente alagada. Assim, os grileiros, que se diziam proprietários do local, foram indenizados pela desapropriação para fins de “interesse social”. No entanto, os verdadeiros atingidos nesse processo foram expulsos das terras, sem direito a receber nada.
Com a finalização da obra, parte das antigas fazendas não foi coberta pelas águas do lago e essa área foi destinada para a criação de uma reserva gerida pela Investco S.A., como forma de compensação sobre passivo ambiental resultante da construção da barragem.
Porém, pouco tempo depois, outros grileiros se apropriaram indevidamente das terras. Em 2017, as famílias que haviam sido expulsas da área, vendo a situação, ocuparam a área, fincando a bandeira do MST no território, com intuito de retomar sua luta no campo, criando o acampamento Clodomir de Morais. Desde então, os latifundiários atuam de forma violenta para impedir a permanência das famílias no local.
Porém as famílias acampadas resistem, produzindo alimentos saudáveis e preservando os recursos naturais, a fim de garantir o direito de viver e trabalhar no campo.
Com a pandemia, o acampamento participou intensamente de ações de solidariedade e doação de alimentos saudáveis para população mais carente realizadas no estado. Além disso, as famílias acampadas têm atuado de forma significativa no Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, com produção e plantio de mudas. O entorno da escola é coberto por árvores plantadas recentemente pela comunidade e cultivadas com muito cuidado por todos.
Como forma de resistir e se organizar, as famílias construíram importantes espaços sociais, como uma bonita plenária em que são realizadas as reuniões, o Bosque da Juventude Oziel Alves e a Escola do Campo Paulo Freire.
A construção da escola é mais uma conquista, expressão da luta das famílias Sem Terra e uma forma de garantir o direito à educação. Paulo Freire vive na organização e luta das famílias do acampamento Clodomir de Morais, que conjugam o verbo esperançar na sua inteireza com a inauguração da sua escola: Lutar, construir Reforma Agrária Popular!
*Editado por Fernanda Alcântara