Festividade

23º Aniversário do assentamento João Batista

Com alegria e muita animação, famílias Sem Terra celebram território conquistado pelo MST há 23 anos
Foto: Acervo do MST no Pará

Por Viviane Brigida
Da Página do MST

O massacre de Eldorado dos Carajás, onde foram executados 19 trabalhadores em 17 de abril de 1996 e provocou indignação mundial que ocorreu no sudeste paraense, foi um marco histórico que fortaleceu a luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais em todo o Pará e no mundo.

Após o massacre, o MST seguiu ocupando terras até chegar próximo à capital; o primeiro território ocupado na região foi a fazenda Bacuri, em 15 de novembro de 1998, no município de Castanhal, nordeste paraense. A região tem uma forte presença do agronegócio no estado, mas também é marcada pela luta por reforma agrária.

No local foi criado o assentamento João Batista, em homenagem ao advogado e parlamentar militante João Carlos Batista, assassinado a mando do latifúndio em 6 de dezembro de 1988.

E com alegria e muita animação, após anos de resistência e luta, as famílias Sem Terra continuam fortalecendo laços, reafirmando compromissos fincados no território conquistado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra há 23 anos.

Foram mais de 150 famílias cadastradas no assentamento, hoje com as novas gerações de Sem Terra. A presença de novos moradores mais que triplicou em número de famílias. São filhos, netos, pessoas que chegaram depois do assentamento já consolidado.

Entre os dias 15 e 20 de novembro, as famílias organizaram diversas atividades na comunidade para as comemorações pelo 23º aniversário do assentamento. A primeira tarefa foi sediar a reunião da regional Cabana do MST, um encontro de três dias com estudos e avaliações para debater os principais compromissos da organização para os próximos períodos.

No dia 15, as famílias organizaram alvorada e café da manhã comunitário com os assentados e assentadas, e um dia inteiro de atividades para celebrar o dia da conquista da terra. Houve brincadeiras com as crianças, oficinas, torneio esportivo, celebração religiosa, exposição de fotografias e muita cantoria.

O que antes era uma área de pasto, totalmente degradada e devastada, agora tem escola, posto de saúde, vasta produção de alimentos e desenvolvimento de experiências agroecológicas de referências na região.

No último dia 20, foi realizado a I Feira da Agricultura Familiar Camponesa com participação e organização da nova geração do assentamento. Os jovens buscam formas de garantir renda e contribuir com suas famílias tiveram destaque na atividade. Estavam lá com seus pais, na venda, mas haviam aqueles que organizaram para expor seus produtos.

Carla Araújo, filha de assentada que desenvolve artesanato com a fibra do cipó relata que aprendeu como o tio o ofício em São Paulo, mas somente quando retornou para o Pará é que se descobriu artesã. Quando chegou no assentamento, a região já estava em outra fase de organização.

“Quando a minha mãe chegou aqui há 23 anos, na sequência veio os filhos, mas eu estava indo morar em São Paulo, fui a última a vim para cá. Em São Paulo morava na cidade, trabalhava na indústria. Aprendi o artesanato com meu tio como ofício. Quando retornei em 2010, vim morar com minha mãe e me reencontrei, comecei a fazer cursos para aprimorar o artesanato que aprendi e vi a importância da terra em minha vida e na minha família. Aqui me descubro como artesã na cultura popular” comentou Araújo.

Heloísa dos Santos, de 11 anos, também faz artesanato para vender. “Minha irmã me ajudou a fazer “biscuit”, gostei e aprendi”. Biscuit que é um dos materiais mais usados na confecção de artesanatos hoje em dia, feito de um tipo de massa feita a partir da mistura de amido de milho e cola branca para porcelana fria, como é conhecido.

“A minha mãe comprou os materiais que precisava comecei a fazer objetos como ímã de geladeira, enfeites para colocar em tiaras e nas xuxinhas de cabelodiz Heloísa com sorriso radiante.

“Os 23 anos do assentamento se apresentam como memória histórica de que a socialização da terra é possível, assim apresentando a sociedade um horizonte mais justo é possível.” descreve Márcio Jandir, jovem dirigente sem terra e assentado.

Para os/as camponeses/as, os assentamentos apresentam para sociedade um horizonte de liberdade da terra e os territórios conquistados pelo MST são uma importância grandiosa para os trabalhadores do campo e para sociedade.

Confira o álbum de fotos das atividades (Fotos: Acervo do MST no Estado):

*Editado por Fernanda Alcântara