Vacina no Braço
Sete dúvidas sobre a vacinação infantil que você precisa tirar agora
Por Nara Lacerda
Do Brasil de Fato
A vacinação contra a covida-19 para o público de 5 a 11 anos de idade já começou em boa parte dos estados brasileiros, após semanas de polêmica protagonizada pelo governo federal. Embora a aprovação para uso do imunizante da Pfizer-BioNTech na população infantil tenha saído há quase um mês, só agora as doses para essa faixa etária começam a chegar às unidades da federação.
Da parte do presidente Jair Bolsonaro vieram afirmações que colocavam em dúvida a segurança da vacina, insinuações de que a liberação atendia a interesses escusos e até declarações que incentivavam a intimidação de profissionais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela análise do medicamento.
Dias após a decisão da Anvisa, o Ministério da Saúde divulgou nota recomendando a vacinação de meninos e meninas. A pasta, no entanto, colocou a diretriz em uma consulta pública que foi considerada confusa e tendenciosa. O próprio ministro Marcelo Queiroga defendeu a obrigatoriedade de receita médica e autorização de responsáveis para a vacinação.
As medidas causaram reação. Entidades e especialistas viram na manobra do governo uma tentativa de desestimular a imunização e reforçar um discurso político. Além disso, a polêmica alimentou dúvidas na população.
Em entrevista* ao programa Bem Viver, da Rádio Brasil de Fato, o médico Eitan Berezin, do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), afirma que a vacina gerou polêmica porque foi introduzida “como um tema político e não só de saúde pública”. Ele reforça, “O que é preciso temer é a doença.”
O BdF listou algumas das principais dúvidas em relação à imunização infantil.
A vacinação já começou?
Boa parte das unidades da federação já receberam as primeiras doses do imunizante para crianças de 5 a 11 anos. Em algumas delas, a campanha começou na sexta-feira com atos simbólicos para grupos prioritários. Há estados que iniciam o processo neste sábado (15) ou a partir da próxima semana. O Plano Nacional de Imunização prevê intervalo de oito semanas entre as duas doses.
No Norte do País, Amapá, Amazonas, Rondônia e Roraima informaram que as doses já estarão disponíveis para que os municípios iniciem a vacinação na segunda-feira (17). Em Tocantins, a Secretaria de Saúde divulgou que a previsão é para a próxima semana, mas sem especificar data. O governo do Acre informou na sexta-feira (14) que não havia recebido as doses do Ministério da Saúde.
As campanhas já foram abertas com cerimônias simbólicas, na sexta-feira (14), no Maranhão e em Pernambuco. Também no Nordeste, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe já começam as aplicações neste fim de semana. Piauí, Paraíba, Pernambuco e Alagoas enviam as doses às prefeituras a partir de sábado (15). A Bahia relatou atraso nas entregas por parte do Ministério da Saúde.
No Mato Grosso do Sul e em Goiás, as doses também sofreram atrasos. Ainda no Centro-oeste, Mato Grosso vai começar a distribuição neste sábado (15) e o Distrito Federal vai aplicar as primeiras doses a partir de domingo (16).
No Sudeste, Minas Gerais e Espírito Santo pretendem vacinar as primeiras crianças de 5 a 11 anos a partir deste sábado (15). Em São Paulo, a campanha começou na sexta (14) com a vacinação simbólica. No Rio de Janeiro, a intenção do governo estadual é iniciar na segunda (17), mas a cidade de Maricá informou que o processo já está em andamento para indígenas do município.
Paraná e Santa Catarina, na região Sul, informaram que os imunizantes estarão disponíveis para que os municípios abram a campanha no sábado (15). No Rio Grande do Sul, o governo divulgou que a imunização começa na quarta-feira (19).
As primeiras entregas do governo federal às unidades da federação somam 1,2 milhão de doses, número ainda distante das 20 milhões encomendadas à farmacêutica Pfizer. Mesmo que a campanha já esteja acontecendo em boa parte do território nacional, ainda deve demorar alguns meses para que ela alcance toda a população de 5 a 11 anos.
“A vacina vai demorar um pouco e o principal motivo é que, no momento, nós dependemos somente de um fabricante, que está fazendo vacina para o mundo inteiro. Nessa faixa etária de 5 a 11 anos, nós temos cerca de vinte milhões de crianças. Não é como ir a padaria comprar pão. Vai demorar uns seis meses sem dúvida”, explica Eitan Berezin.
Quem vai se vacinar primeiro?
O Ministério da Saúde recomenda que a vacinação seja feita por faixa etária, com priorização de crianças com comorbidades ou deficiência permanente. Mas estados e municípios podem definir planejamentos diferentes de acordo com as realidades locais.
A vacina pode fazer mal para a criança?
A aplicação da vacina da Pfizer-BioNTech em crianças de 5 a 11 anos foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após análise de dados que atestaram a segurança e a eficácia dos imunizantes. Também foram levadas em consideração as aprovações concedidas por entidades sanitárias de diversos países.
Como as doses infantis são menores e têm outra composição, os frascos serão diferenciados para evitar enganos. A Anvisa recomenda também que sejam oferecidas salas separadas para as crianças e que haja intervalo de 15 dias caso tenha ocorrido imunização contra outras doenças.
Podem ocorrer efeitos adversos, que são raros e estão dentro do esperado. Para controle de qualquer tipo de reação, é aconselhado que os pequenos e pequenas aguardem no posto por cerca de vinte minutos após a aplicação.
“Vacinas, de forma geral, podem ter efeitos adversos. O que foi descoberto, mais próprio desta vacina, foi a miocardite – um inchaço no coração que pode ocorrer em cerca de 1 para 1 milhão de vacinados. Em todas as situações em que isso ocorreu, na experiência dos Estados Unidos por exemplo, ela se resolveu”, pontua Berezin.
É preciso algum tipo de receita médica?
Não. A ideia, defendida inicialmente pelo Ministério da Saúde, foi deixada de lado após a consulta pública elaborada pela pasta mostrar que a maior parte das pessoas que responderam era contra a obrigatoriedade de autorização de médicos e médicas.
Isso não impede a busca de aconselhamento profissional em caso de dúvida, mas a segurança da vacina já foi atestada. Eitan Berezin afirma que manter a exigência iria causar dificuldades a famílias com menor acesso aos serviços de saúde, “a maioria das famílias não vai ter esse contato rápido com um pediatra.”
O médico lembra que, no caso das crianças com comorbidades, o acompanhamento de profissionais da saúde já faz parte da rotina e, frente a questionamentos, as famílias também podem recorrer a essa rede de apoio. Para esse público é preciso levar um laudo que comprove a condição.
“Crianças com imunodeficiência e com comorbidades estão na prioridade da vacina. São as primeiras que devem receber. Inclusive, a maioria das cardiopatias congênitas também. A vacinação está sendo iniciada pelo Ministério da Saúde justamente nessas crianças, nas quais a covid vai ser mais perigosa, a maioria dos óbitos associados á doença ocorreram nessas crianças.”
Precisa de autorização dos responsáveis por escrito?
Não. A ideia também era defendida pelo Ministério da Saúde, mas não foi mantida. As crianças devem estar acompanhadas de responsáveis, mães ou pais. Somente quando essa presença não for possível, será necessário um termo de consentimento.
Por que vacinar crianças se a covid é menos grave entre elas?
Embora o número de casos graves e mortes seja menor entre crianças, isso não garante que infectados e infectadas nessa faixa etária estão fora de risco. Mais de 300 pessoas com idades entre 5 e 11 anos morreram de covid no Brasil.
Com a circulação da variante ômicron, as hospitalizações têm atingido principalmente populações não imunizadas. Em Salvador, por exemplo, as UTIS infantis para covid chegaram a mais de 90% de lotação nesta semana.
Imunizar crianças é também uma forma de proteger quem convive com os pequenos e pequenas no cotidiano e aumentar ainda mais as chances de interromper a circulação do coronavírus.
E se a criança estiver com covid?
Segundo o médico Eitan Berezin, a recomendação é igual para crianças e adultos, “Por enquanto, a norma para infecção é a mesma, vacina-se um mês após a infecção. Um mês após o teste se tornar negativo.”
Edição: Camila Salmazio