Memória de Luta

Partido Socialista da Zâmbia comemora Dia dos Guerreiros Ngoni

O Nsingu Day traz presente a memória de luta e resistência do povo Ngoni em defesa dos seus territórios contra a colonização europeia no continente
A cerimônia contou com a presença de autoridades do Partido e convidados, além da apresentação do grupo musical de mulheres “SP Choir” . Foto: Iris Pacheco

Por Brigada Internacionalista Samora Machel

Na manhã do último sábado, (5), o Partido Socialista da Zâmbia realizou um evento em memória a luta do povo Ngoni em defesa dos seus territórios contra a colonização europeia no continente. O Nsingu Day – Dia dos Guerreiros Ngoni -, é uma data que rememora essa resistência e mantém viva a coragem e a memória de um povo.

A cerimônia de comemoração ocorreu no Secretariado do Partido Socialista na capital do país, Lusaka, e contou com a presença de autoridades do Partido e convidados, além da apresentação do grupo musical de mulheres “SP Choir” e a participação do Nsingu Brigade.

A comemoração também teve a participação do grupo Nsingu Brigade, representando a memória dos guerreiros. Foto: Iris Pacheco

O presidente do Partido Socialista, Fred M’membe, comentou sobre a importância de manter viva essa memória no povo zambiano.

“Hoje faz 124 anos que o comandante Nsingu foi assassinado na resistência à ocupação de Cecil Rhodes das suas terras, da sua pátria, para explorar os seus minerais e tomar posse das suas terras. Nós somos os herdeiros desse legado da resistência. Esta é a fonte de inspiração para nós. Uma fonte de determinação para nós, uma fonte de coragem. E, uma inspiração para a dignidade, para a honestidade e inspiração para o patriotismo. Nunca trairemos os seus sacrifícios e a sua abnegação. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que esta pátria seja o que eles queriam que fizéssemos.”

Presidente do Partido Socialista, Fred M’membe. Foto: Iris Pacheco

O MST esteve presente, por meio da Brigada Internacionalista Samora Machel, e saudou os zambianos e o Partido Socialista por manter viva a memória de seu povo, uma importante data de luta e resistência.

Para as brigadistas, “participar deste momento é estar próximo do legado de resistência que corre nas veias dos povos zambianos, desde a apresentação dos guerreiros do Nsingu Brigade, com seus gritos de liberdade e seus movimentos de coragem, até a forte presença das mulheres do SP Choir. Seguimos lutando, lado a lado junto com o Partido Socialista, que segue resistindo frente a tentativa de apagamento da memória de lutas e conquistas do povo zambiano”.

O MST participou da atividade, por meio da Brigada Internacionalista Samora Machel. Foto: Iris Pacheco

Um pouco de história

O século XIX marcou um período de expansão do capitalismo no mundo com suas bases escravistas, violentas e de expulsão dos povos de seus territórios. É o caso da colonização africana pelas potências europeias da época, sobretudo, as britânicas. O colonialismo perdurou em toda a África pouco menos de cem anos: desde a década de 1880 até a de 1960.

É nesse período que os povos africanos são atravessados pelas forças capitalistas e imperialistas de de Cecil John Rhodes a frente da Empresa britânica da África do Sul, responsável pelo maior genocídio da população negra africana da época. A busca de Rhodes para obter direitos minerais sobre as terras africanas veio junto com os missionários e outros tantos europeus.

Assim como outros povos africanos, os Ngoni lutaram contra Rhodes em defesa de seu território. Segundo dados historiográficos, os Ngoni chegaram à região da África Austral em 1835, depois de atravessarem o rio Zambeze perto do Zumbo e continuaram para leste, sobre o rio Luangwa, até algumas colinas onde entraram em contacto com alguns Chewa.

Em 1895, para consolidar sua ofensiva na região, os britânicos construíram o Forte Partridge, apenas 100 km ao norte do palácio de Mpezeni, o chefe dos Ngoni que tinha conduzido o seu povo por toda a região e finalmente veio para a sua última casa no Rio Lutembwe. O seu filho e comandante Nsingu, mobilizou um exército de 10.000 jovens guerreiros Ngoni armados com os “asegai” (uma lança curta e delgada usada como arma de arremesso pelos povos Ngoni) para defender suas terras, os minerais, o patrimônio e a dignidade de seu povo contra o exército de Rhodes com melhores recursos (armas Maxim-gun e Seven-pounders). Derrotado pelas forças britânicas, Nsingu foi executado na madrugada de 5 de Fevereiro de 1898, sabendo que estava a morrer por lutar pelo futuro.

Se o século anterior é marcado pela violenta colonização e a luta dos povos em defesa dos seus territórios, o século XX não foi diferente. Marcado por movimentos populares em todo o mundo contra o sistema capitalista e suas mazelas e violências contra os povos, no continente africano demarca um período de luta por independência do colonialismo, que caminhou junto com a Guerra Fria, momento de grande polarização mundial com duas superpotências – a União soviética e EUA.

Os processos de independência ocorreram de variadas formas. Seja por meio de conflitos violentos, pela libertação dos seus territórios ou pela via das negociações em busca de emancipação e consolidação das jovens nações africanas. Porém, foi a partir da década de 60 que a maioria dos países conquistaram a independência.

A Zâmbia é uma dessas jovens nações que busca por meio da história rememorar os feitos de seu povo. É assim que hoje, 12 décadas mais tarde, os novos guerreiros Ngoni honram os seus sacrifícios, a sua coragem, a sua dignidade e o seu patriotismo com o Nsingu Day – o Dia dos Guerreiros Ngoni.

*Editado por Solange Engelmann