Internacional

Em Lusaka, mulheres zambianas são alfabetizadas pela Campanha Fred M’membe 

Atividade marca a finalização da primeira etapa que ao todo tem objetivo de alfabetizar 2.000 trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade
Foto: Iris Pacheco 

Por Brigada Internacionalista Samora Machel 
Da Página do MST

Uma campanha de alfabetização para mulheres, essa é uma das certezas que tivemos ao participar do processo de monitoramento e graduação das turmas na capital do país, Lusaka, que foi finalizado na manhã do último sábado, 12, com um Ato político oficial de graduação desta primeira fase. 

Cerca de 200 educandas estiveram presente, elas são as maiores contempladas com a Campanha de alfabetização e agroecologia coordenada pela Brigada Internacionalista do MST Samora Machel e pelo Partido Socialista (SP). A atividade marca a finalização desta primeira etapa da Campanha na Província de Lusaka, mas que ao todo tem como objetivo alfabetizar 2.000 trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade na língua oficial do país, o inglês. 

O Presidente do Partido Socialista, Fred M’membe, defendeu a educação como um direito humano fundamental e a alfabetização como uma ferramenta fundamental para acabar com a pobreza extrema e a desigualdade de gênero. E rememorou a jovem democracia do país, que mantém uma taxa de alfabetização da Zâmbia de 55,3%, sendo o analfabetismo muito mais pronunciado nas mulheres do que nos homens. 

Foto: Iris Pacheco 

“A alfabetização promove a igualdade de gênero. Diz-se que toda mulher alfabetizada marca uma vitória sobre a pobreza, elas já são os agentes de mudança mais poderosos, e esse poder é ainda maior quando elas podem ler. Mulheres alfabetizadas são mais propensas a adotar mais medidas preventivas de saúde e promover mudanças de atitude em torno do planejamento familiar. Quando os cidadãos são alfabetizados, eles são mais capazes de seguir a política e ser informados sobre as questões que lhes interessam. Também são mais propensos a votar e encontrar outras formas de participar da governança de seu país.”

A representante da Women’s League do Partido Socialista da Zâmbia, Moddy Nonde Chisha, comentou os resultados da campanha para a vida das mulheres e afirmou que foi uma grande conquista.  

“Aplaudimos os esforços da Campanha de Alfabetização e Agroecologia que busca melhorar as condições de vida das mulheres zambianas. Em um mundo complexo e em rápido crescimento, a mulher precisa se mover com os tempos de mudança. Aprender a ler e a escrever é libertador.”

Os limites e desafios para as mulheres acessarem a educação

Foto: Iris Pacheco 

Obviamente, a Campanha não foi pensada exclusivamente para as mulheres, no entanto, são vários os fatores que atualmente a colocam nesse lugar de referência do acesso à educação para as mulheres zambianas. 

Para Elizabeth Conceição, militante do MST e coordenadora da Brigada Internacionalista Samora Machel, este momento de formatura das turmas da campanha em Lusaka foi histórico e apontou a necessidade da continuidade em uma segunda fase neste ano de 2022. 

“Este é apenas o primeiro passo. Todas essas mulheres que agora sabem ler e escrever em inglês precisam continuar estudando e aprendendo a fim de contribuir para a construção de uma Zambia melhor para toda a população zambiana, mas principalmente para outras mulheres. É nosso entendimento que se nosso povo não souber ler e escrever, se não puder entender as causas de sua opressão, não poderá lutar contra seus opressores. Para alcançar a transformação social e construir uma nova sociedade, precisamos de um povo alfabetizado.”

Desde a sua concepção, a Campanha tinha o desafio de alfabetizar mulheres zambianas. Isso porque, das mais de 750 milhões de pessoas analfabetas no mundo, mais de 60% delas são mulheres. Na Zâmbia, segundo dados do Inquérito Demográfico e de Saúde de Zâmbia (ZDHS), as mulheres também ocupam o grupo com menor acesso a educação formal no país, apenas 10% das mulheres no país concluem o ensino médio ou superior, uma diferença de 7% em relação aos homens. Na zona rural esse dado é um pouco maior, aumentando assim a disparidade que atrasa as mulheres em termos de progresso econômico e independência em relação aos homens. 

Foto: Iris Pacheco 

Entre os fatores principais que traduzem essa realidade está a inexistência de um ensino totalmente público no país. Atualmente, as pessoas que ingressam na escola realizam os anos primários do ensino básico custeados pelo Estado, até a sexta ou sétima série, e depois são obrigadas a arcar com várias taxas e custos, que na prática impossibilita grande parte da população de continuar estudando. 

Depois temos os limites de infraestrutura. Na grande maioria das regiões do país as escolas estão muito longe das moradias, o que obriga as/os estudantes a percorrerem grandes distâncias para chegarem à escola. 

É fundamental levar em conta a divisão sexual do trabalho. Os dados apontam que as mulheres zambianas têm em média 5 a 6 filhos. Neste cenário, muitas mulheres são obrigadas a abandonar os estudos quando se tornam mães e passam a cuidar da casa e dos filhos.

Foto: Iris Pacheco 

E por fim, não menos importante, temos o tema da pobreza menstrual, que além de afetar a saúde mental, afeta a educação e amplia a desigualdade social de gênero. As mulheres abandonam a escola devido à menstruação, principalmente na zona rural onde acesso à produtos básicos para manter uma boa higiene no período da menstruação é mais difícil, E não estamos referindo somente à falta de dinheiro para comprar absorventes. Tem relação também com a ausência ou precariedade de infraestrutura no ambiente onde vivem, como banheiros, água e saneamento. 

Embora a higiene menstrual seja um direito humano reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2014, ela está longe de ser uma realidade na maioria dos países. Inclusive no Brasil, onde a evasão escolar por conta da pobreza menstrual cresce diariamente. Uma em cada 4 adolescentes brasileiras não têm acesso a absorvente durante o período menstrual e quase 30% das mulheres jovens já deixaram de ir às aulas por isso . Além disso, 20% das adolescentes brasileiras não possuem água tratada em casa e 200 mil estudam em escolas com banheiros sem condições de uso, o que torna ainda mais difícil o manejo da higiene menstrual. estamos portanto, falando da necessidade desse direito ser materializado nas políticas públicas dos países, principalmente educacionais e da esfera da saúde pública. 

É neste cenário desafiante que a Campanha de Alfabetização e Agroecologia Fred M’membe tem sido desenvolvida na Zâmbia. Iniciada em maio de 2021 e realizada em três províncias do país: Lusaka, Oriental e Ocidental, é possível afirmar que os desafios para a segunda fase neste ano de 2022 serão maiores, uma vez que, está prevista a ampliação para mais três províncias: Cooperbelt, Northen e Muchinga.

*Editado por Fernanda Alcântara