MST por Despejo Zero

Carta de acampada ao STF ressalta a necessidade de prorrogar medida contra despejos

Antonia, do acampamento 1º de Maio, em Sobral -CE, escreve ao STF pela prorrogação da ADPF 828
Antonia Mônica Paiva Oliveira, tenho 36 anos, sou acampada no acampamento 1º de Maio, localizado no município de Sobral Ceará

Da Página do MST

Neste momento, acampadas(os) e assentadas(os) de todo o país estão desenvolvendo diversas ações e unindo esforços em torno da pauta do Despejo Zero. No próximo 31 de março de 2022 vence o prazo de vigência da medida concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendem os despejos e, sem a prorrogação da suspensão, mais de 160 mil famílias podem ficar desprotegidas.

A partir dos esforços do MST por Despejos Zero, o Movimento deverá entregar mais de 2 mil cartas endereçadas aos Ministros do STF para que prorroguem a medida que garante segurança e saúde à mais de 132 mil famílias que sofrem hoje ameaça de despejos.

As cartas pedem a prorrogação da suspensão de despejos judiciais ou administrativos por mais seis meses, ou quando cessem os efeitos econômicos e sociais da pandemia, ou até que o mérito da ação seja julgado pelo plenário do Supremo.

Nesta perspectiva, a acampada Antonia conta um pouco de sua história e vivência e da luta contra o despejo. Confira a carta e mobilize-se também para pressionar o STF pelo Despejo Zero e colaborar com a campanha. 

Carta ao STF

Eu me chamo Antonia Mônica Paiva Oliveira, tenho 36 anos, sou acampada no acampamento 1º de Maio, localizado no município de Sobral Ceará. Nasci e me criei aqui, sempre com muitas dificuldades, vim de uma famílias numerosa, minha mãe criou sozinha 8 filhos, tenho 2 filhos, e sempre me esforcei muito para criá-los.

Desde pequena, acompanhei de perto todo sofrimento das famílias que aqui residem na minha comunidade, Vassouras do Pajé (hoje acampamento 1º de maio). Vi de perto muitas injustiças sendo cometidas, exploração do trabalho, pagamento de renda dos nossos roçados para o patrão, isso sempre me deixou indignada, presenciei expulsão de famílias, casas destruídas, mas em 2012 essa realidade mudou, eu conheci o MST, eu conheci uma bandeira que nos trouxe a possibilidade da conquista da terra para as mãos de quem nela trabalha e vive. Aqui nós ocupamos com mais de 100 famílias, fomos muito perseguidos, a polícia, os mandados de reintegração de posse, as ameaças, mas aqui resistimos. Ainda vivemos sob constante ameaça de despejo, mas com a certeza que essa terra precisa ser de quem sempre a fez produtiva, de quem faz desse pedaço de chão um espaço de produzir frutos e também a organização do povo trabalhador.

Eu quero deixar registrado aqui nessas poucas palavras, que a terra não podia ter dono, a terra é bem comum, nós só queremos conquistar essa pedaço de chão para garantir o pão na mesa de nossas famílias, e de quem tem fome nas periferias dos centros urbanos apoiando sempre aqueles e aquelas que não tem a possibilidade de produzir seu próprio alimento.

Queremos continuar com as nossas ações de solidariedade, produzindo alimento sem veneno, cultivando os sonhos que não só meus, mas de um coletivo de famílias acampadas de todo o Brasil. Reafirmo que quando a terra é conquistada mais pão será compartilhado, mas alimento chegará na mesa das/os mais de 19 milhões de brasileiros e brasileiras que estão passando fome.

Despejo é um ato criminoso, não vamos desistir de lutar, RESISTIREMOS!

Acampamento 1º de Maio/Vassouras do Pajé/Sobral, 16 de março de 2022.

*Editado por Fernanda Alcântara