Comitês Populares

Lula visita assentamento do MST em Londrina (PR)

Com a presença de cerca de 10 mil pessoas, o ato denominado “Jornada de Solidariedade: Rumo aos Comitês Populares” expressou a solidariedade como ferramenta de resistência
Encontro ocorreu no assentament Eli Vive. Fotos: Nacho Lemus

Por Janelson Ferreira
Da Página do MST

Na tarde deste sábado (19), o presidente Lula foi recebido por famílias Sem Terra e aliados do MST no Assentamento Eli Vive, localizado em Londrina, no Paraná, assentamento que é a maior área de Reforma Agrária do país em uma região metropolitana.

Com a presença de cerca de 10 mil pessoas, o ato denominado “Jornada de Solidariedade: Rumo aos Comitês Populares” expressou a solidariedade como ferramenta de resistência e os Comitês Populares como caminho para fortalecer a organização popular no campo e na cidade, para superar o fascismo e eleger Lula presidente.

Participaram do encontro, além do presidente, Bela Gil, culinarista, Eduardo Moreira, empresário e escritor, Gleisi Hoffmann, deputada federal (PT-PR), Roberto Requião, ex-senador recém filiado ao PT e os dirigentes nacionais do MST, João Pedro Stédile e João Paulo Rodrigues. Este foi o primeiro encontro presencial massivo do MST no Paraná, após quase dois anos desde o início da pandemia da Covid-19.

Como sinalizou Lula, o ato também marcou o reencontro dele com militantes que fizeram parte da Vigília Lula Livre durante os 580 dias de prisão injusta em Curitiba. Pelo menos 3 mil militantes do Movimento, de todas as regiões do estado, participaram da Vigília.

O presidente durante sua fala deu profunda atenção à questão da fome que o país enfrenta atualmente. “Eu sei o que é ficar desempregado, não ter um arroz e feijão para comer, levantar de manhã e não ter café para tomar. Eu sei o que é perder tudo”, lembrou. “A fome é uma das coisas mais bárbaras que existem. E no Brasil a fome é mais grave porque a gente tem condições de produzir alimentos saudáveis no Brasil”, destacou Lula.

De acordo com dados da Rede Penssan, divulgados em 2021, cerca de 116 milhões de brasileiros não tem acesso pleno e permanente à comida. Cerca de 55,2% dos lares brasileiros vivenciam um cenário de insegurança alimentar. Isto representa um aumento de 54% em relação a 2018.

O presidente também agradeceu ao apoio dado pelas famílias do MST enquanto esteve preso em Curitiba. “Eu estava no 1º Encontro Nacional do MST, em 1984, em Cascavel, o meu agradecimento e minha solidariedade ao MST é algo que está na carne, no sangue”, lembrou.

O ato marcou o reencontro de Lula com os militantes que fizeram parte da Vigília Lula Livre.
Foto: Nacho Lemus

Além disso, Lula apontou a necessidade de se pensar para além da sua eleição. “Não basta só eleger Lula se a gente não mudar a qualidade do Congresso Nacional” apontou Lula em sua fala. Para o presidente, que lidera as intenções de voto para as eleições de outubro, este é um dos piores Congressos que o Brasil já teve em sua história. “Nunca tivemos um Congresso tão anti-povo como este de agora. Um dos piores congressos que já tivemos na história do Brasil”, denunciou.

“Lula está livre, inocente e pronto para ser presidente”, destacou Gleisi Hoffmann, que também é presidente nacional do PT. A deputada apontou para a necessidade de organização da classe trabalhadora para enfrentar o próximo período eleitoral. “Organizar os comitês populares será fundamental, pois não vai ser fácil combater o fascismo e o nazismo”, disse Hoffmann.

O ato também serviu como lançamento nacional dos Comitês Populares, espaços que terão o objetivo de contribuir com a campanha e eleição de Lula, bem como avançar na organização dos trabalhadores a partir do debate sobre um projeto popular para o Brasil, com a população nos bairros, nos locais de estudo, igrejas, espaços culturais, entre outros. A estimativa é criar 5 mil Comitês em todo estado do Paraná.

5 mil Comitês devem ser criados somente no Paraná. Foto: Nacho Lemus

Dialogando com a fala da deputada federal, João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, afirmou que “na luta, descobrimos que a reforma agrária só será vitoriosa se for uma luta de todo o povo”. Stédile buscou destacar as contribuições que a reforma agrária pode promover não somente às famílias Sem Terra, mas a toda classe trabalhadora. “O verdadeiro objetivo da Reforma Agrária é produzir alimento saudável para todo mundo”, explicou.

Para Bela Gil, o combate à fome e o acesso à alimentação saudável pela classe trabalhadora passa por uma política de reforma agrária. “Nossa comida vem da terra e a terra, no nosso país, está sob uma concentração enorme”, afirmou a apresentadora.

Roberto Requião, que já foi senador, se filiou ao PT nesta sexta (18) e é pré-candidato ao governo do Paraná, lembrou que a sua indignação encontrou a esperança nas lutas que o MST realiza e no programa popular de Lula. “Estou aqui movido pela indignação, quando vejo mulheres buscando ossos pra suas famílias, sou movido à indignação. Mas, me alegra quando vejo o MST voltado à solidariedade. Vocês me inspiram me reconfortam”, destacou Requião.

Assentamento visitado por Lula é referência na produção de alimentos

O assentamento Eli Vive foi criado pelo então presidente Lula no ano de 2009. Localizado no distrito de Lerroville, a comunidade tem 7.500 hectares, 501 famílias assentadas, em torno de 3 mil moradores. Mais de 400 crianças e adolescentes estudam em duas escolas municipais e uma estadual do assentamento.

A Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon), criada pelas famílias assentadas, entrega 10 toneladas por semana de alimentos por semana ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), chegando a mais de 100 escolas de Londrina e região. Uma padaria comunitária, coordenada por mulheres assentadas, também produz panificados para entregar por meio do PNAE.

Foto: Nacho Lemus

Na última safra, a cooperativa comercializou 15 mil sacas de milho, 10 mil soja e 10 mil sacas de feijão preto e carioquinha. Outras 15 toneladas de alimentos são entregues na Central de Abastecimento (Ceasa) toda semana, além da comercialização de 80 mil litros de leite por mês. Uma agroindústria está sendo construída para beneficiamento do milho crioulo, e produção de fubá, quirerinha e ração, além do empacotamento do feijão.

As famílias também têm grande preocupação em avançar na preservação e reflorestamento da área, e são guardiãs de mais de 100 minas d’água. Já foram plantadas mais de 10 mil árvores frutíferas, e em abril, cerca de 40 mil mudas serão plantadas como parte do Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis.

*Editado por Gustavo Marinho