Agroecologia é o Caminho

Cerca de 80% dos alimentos agroecológicos chegam até feiras, supermercados e escolas

Consumo de comida sem veneno cresceu na pandemia, mas ainda enfrenta dificuldades sem incentivo à produção
Produtos agroecológicos disponíveis na Rede Armazém do Campo com diversidade e preço justo. Fotos: Dowglas Silva
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Por Anelize Moreira
Da Página do MST

Durante a pandemia de covid-19, aumentou a procura por alimentação mais saudável e com isso o mercado agroecológico se expandiu. Além de melhor qualidade, pois não há a presença de veneno nesses alimentos, quem consome produtos agroecológicos apoia também um modelo de produção que não agride a natureza e que considera o modo de vida de quem vive da terra, como é o caso dos agricultores familiares. 

“É importante entender o momento atual em que nós estamos. A pandemia fez com que o mercado se expandisse e a demanda por alimentação mais saudável crescesse. Cerca de 80% do que é produzido e reconhecido como agroecológico chega até as gôndolas de supermercados, escolas, creches, exército, e hospitais que têm  consumido muito”. 

É o que explica Laércio Meirelles, que se dedica há 35 anos à agricultura ecológica, integrante do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e da Rede Ecovida.

O consumo de produtos orgânicos cresceu 20% no Brasil em 2021 comparado ao levantamento de 2019. A pesquisa “Panorama do consumo de orgânicos no Brasil 2021” foi realizada pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) em parceria com a consultoria Brain e com a iniciativa UnirOrgânicos. Foram ouvidos consumidores em 12 capitais das cinco regiões brasileiras. O Sudeste apresentou o maior índice de elevação do consumo, 35%. Na região Norte, o menor, 9%. 

Um mapeamento da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) apontou que existem cerca de 700 iniciativas de agroecologia em 52 municípios do país. Com realidades distintas, cada região vai ter obstáculos diferentes para escoar a produção no Norte e Nordeste, por exemplo, um dos entraves é a logística. 

Seria necessário ampliar a oferta para facilitar a logística, pois a demanda por alimentos sem agrotóxicos existe, segundo Meirelles. “Como é que esse produto vai entrar nos barcos e viajar horas para poder chegar nas cidades e com as estradas muito ruins? Temos que ter políticas públicas que permitissem essa inserção dessas famílias que produzem no crescente e cada vez mais demandante mercado de produtos orgânicos agroecológicos”, afirma. 

Ainda de acordo com o agricultor, mesmo no Sul e Sudeste com uma malha rodoviária em melhor condição com agricultores mais capitalizados, a logística é o que dificulta.

“Não adianta ter uma produção agroecológica a 200 km da cidade, mas o custo e logística de frete não permite que chegue em condições de serem comercializadas na cidade”, avalia Meirelles que também faz parte da equipe técnica da ONG Centro Ecológico. 

Produtos agroecológicos disponíveis na Rede Armazém do Campo com diversidade e preço justo. Foto: Dowglas Silva

Agroecologia como prática nos assentamentos

 A agroecologia é uma das práticas de agricultura a ser seguida por famílias assentadas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Um dos destaques é a produção de arroz orgânico no Rio Grande do Sul que tem a certificação em toda a sua cadeia produtiva até a comercialização. 

Milton Fornazieri, dirigente nacional do setor de produção do MST fala sobre três dificuldades enfrentadas pelos produtores familiares.

“A primeira é ter um produto adequado para comercialização, com uma embalagem com uma apresentação bonita que a indústria possa comercializar. A segunda dificuldade é enfrentar os grandes ataques que o mercado convencional tem,  essa ganância em querer ganhar mais muitas vezes abaixa para o produtor e torna difícil operacionalizar; e o terceiro grande problema que temos é o capital de giro cooperativas”. 

Há carência de políticas públicas de apoio a todas as etapas de produção para que o produto saia da roça e alcance a mesa do consumidor.

“O PAA teve redução no orçamento, o PNAE continua funcionando, mas falta uma política que não tem mais que era o Plano Nacional de Agroecologia que previa caminhos para facilitar a comercialização dos produtos orgânicos agroecológicos, então a carência de políticas públicas que facilitem e estimulem a ampliação desse mercado de produtos orgânicos agroecológicos, tanto que no que diz respeito à produção, a logística e certificação”.

As principais via de comercialização de alimentos agroecológicos são feiras, mercados, escolas e hospitais .Além dos alimentos in natura, pela Rede Armazém do Campo, que são lojas especializadas em produtos da Reforma Agrária, onde é possível encontrar uma diversidade de produtos agroecológicos como sucos, geleias, feijões, café, entre outros.

O movimento ainda tem dificuldade de comercializar por conta da certificação de orgânicos estão: leite, carne e ovos. “Não é próximo assentamento da cidade e não tem produção industrializada fica difícil vender e aí caímos na mão do atravessador que fica com a maior taxa de lucro”, explica dirigente nacional do MST. 

Aí você pode se perguntar, mas orgânico é mais caro, como posso começar a consumir? O relatório “Produtos sem veneno são sempre mais caros?”, mostra que os preços de 17 alimentos orgânicos praticados nos supermercados em cinco estados são muito mais altos que os de feiras. Onde tem assentamento tem uma feira aos finais de semana na cidade mais próxima.

Além das feiras, outra dica é buscar associações, movimentos e entidades que encurtam o caminho entre o agricultor e consumidor. As cestas agroecológicas do MST e outros movimentos são exemplos disso.

Edição: Douglas Matos/Brasil de Fato