Ensino Superior

Conquista na Saúde Pública: Paraná recebe 1º curso de Enfermagem do Brasil pelo Pronera

A turma é formada por mais de 40 educadas/os, vindos de áreas da Reforma Agrária de 12 estados brasileiros. O curso terá ênfase em Saúde Pública
Abertura do curso de Enfermagem com ênfase em Saúde Pública do Pronera. Foto: Anderson Aschi/MST-PR 

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST

Em tempos de reafirmação da importância do direito à saúde, camponeses e camponesas de todo o Brasil conquistam a primeira turma de Enfermagem do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). O curso de bacharelado teve início no dia 25 de março, em Foz do Iguaçu, estado do Paraná, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). 

Com ênfase em Saúde Pública e duração de 4 anos, a formação é direcionada a educandos vindos de comunidades da Reforma Agrária de todo o Brasil. O curso vai funcionar em regime de alternância, com tempo comunidade e tempo universidade. Esse revezamento é resultado da luta histórica dos movimentos sociais campesinos para garantir o direito de formação a quem vive no campo, sem o distanciamento do território original dos educandos/as.

O objetivo é formar 42 profissionais de 12 estados que tenham os conhecimentos necessários para fazer a intervenção no campo da saúde coletiva e pública. Reconhecer os saberes populares e se afastar do modelo hegemônico no campo da saúde são importantes para os profissionais atuarem em Unidades Básicas de Saúde (UBS) de assentamentos, quilombos e comunidades.

Maria Izabel Grein, integrante do Setor de Saúde e da Direção Estadual do MST no PR, detalha a diversidade de participantes e o papel do grupo. “Para nós do MST, este curso tem uma importância fundamental porque nas unidades básicas de saúde, o enfermeiro tem papel importantíssimo na relação com famílias e pessoas que frequentam esse espaço”, ressalta.

Maria Izabel Grein, militante do MST-PR que compõem a coordenação do curso. Foto: Arquivo MST-PR  

O curso é resultado de uma luta de mais de 8 anos do Setor de Saúde do Paraná. “Há um grupo muito grande de professores aqui dentro da universidade, na área da saúde e das ciências sociais, comprometidos com esta causa da educação em enfermagem para o campo”, conta a dirigente do MST.  O projeto saiu do papel a partir da parceria entre a Unioeste (Campus Cascavel e Foz do Iguaçu), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Pronera. 

Marcos Augusto, coordenador pedagógico do Curso e professor da Unioeste, enfatiza que o estudo é acessível a todos os trabalhadores. “A expectativa do curso era atender uma parcela da comunidade que a gente entende que tem dificuldade de participar de processo regular, de vestibular e frequentar diariamente um espaço que está longe da comunidade rural”.

Ter saúde é ter vida digna 

O curso de bacharel em Enfermagem com ênfase em Saúde Pública foi pensado a partir da ideia de que a relação entre saúde e doença é determinada por questões sociais. “A saúde é um direito e reflete em tudo que fazemos. Quando a gente fala em saúde, não estamos falando de doença, mas sim de vida digna, saudável, física e emocional. A saúde reflete o jeito que nos organizamos para viver e como produzimos e reproduzimos a vida”, enfatiza Maria Izabel. 

Uma das educandas do curso é Sandra Castanhede, de 39 anos, moradora do pré-assentamento Roseli Nunes, em Planaltina, no Distrito Federal. Ela está há muitos anos na luta pela terra, que agora a fez conquistar o tão sonhado acesso ao ensino superior. 

A turma é formada por 42 educandos/as, vindos de 12 estados brasileiros. Foto: Arquivo MST-PR 

“Tenho a expectativa de me profissionalizar na área da saúde, mas também ter esse retorno para dentro do território ao qual estou vinculada, trazer minha experiência para trabalhar na comunidade. […] Passou pela minha cabeça desistir do curso diante das dificuldades por ser mãe, ser mulher e a própria realidade a qual a gente passa, homens e mulheres Sem Terra. Por a gente passar por esse processo, foi o que me fez não desistir do curso. Pensando no que o curso pode trazer de resultado foi o que fez eu não desistir”, afirma a camponesa, que quer participar do curso desde quando soube dele.   

Na formação, a turma vai passar por todos os espaços de produção e reprodução de vida; o campo é uma dessas áreas de estudo. Até o momento, as aulas passaram por economia política e as próximas serão sobre o corpo humano, com visitas ao laboratório.

*Editado por Solange Engelmann