Cultura

Comunidade do MST em Ponta Grossa (PR) exibe ‘Marighella’ na I Mostra Cinema na Terra

Iniciativa fez parte do III Ciclo ‘Descomemorar Golpes’, evento de extensão do Mestrado em Jornalismo da UEPG e programa de extensão Agência de Jornalismo, realizado na semana dos 58 anos do Golpe Militar de 1964 no Brasil
Foto: Arquivo MST no PR 

Por Agência de Jornalismo/UEPG
Da Página do MST

Foto: Arquivo MST-PR

O Pré-Assentamento Emiliano Zapata, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Ponta Grossa, contou com a exibição do filme “Marighella”, do cineasta Wagner Moura (2019), na noite de sábado, 2 de abril, na I Mostra Cinema na Terra. A iniciativa fez parte do III Ciclo ‘Descomemorar Golpes’, evento de extensão do Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e do programa de extensão Agência de Jornalismo da graduação em Jornalismo também da UEPG, realizado na semana dos 58 anos de instauração do Golpe Militar de 1964 no Brasil. A mostra ocorreu no barracão, espaço de reuniões da comunidade, com a projeção em multimídia.

Exibir ‘Marighella’ no pré-assentamento foi uma iniciativa muito importante para a comunidade, situada a 10 quilômetros da área urbana de Ponta Grossa, região dos Campos Gerais do Paraná. A noite com chuva fina e temperatura a menos de 14 graus não tiraram os ânimos do público. Após a exibição do filme, com duração de duas horas e 40 minutos, foi feito o debate com falas espontâneas do público sobre a vida e luta de Marighella retratados na obra cinematográfica. O debate também trouxe a contextualização da política brasileira nos dias atuais, com o desmonte da democracia e dos direitos humanos desde o golpe de 2016 e intensificado por governos atuais, com Jair Bolsonaro na Presidência da República.

“Nossa comunidade se sentiu presenteada com a exibição de ‘Marighella’, na I Mostra Cinema na Terra, na parceria com o Curso de Jornalismo da UEPG, justamente na semana das atividades de ‘Descomemorar o Golpe’”, destacou Adriana Prestes, da coordenação da Brigada Emiliano Zapata.

“A arte não se limita a apenas quem tem um espaço adequado e para quem tem dinheiro. Com esse tipo de atividade, a gente consegue romper alguns mitos. Para nós, é importante que se propague a necessidade da cultura, do conhecimento para todos os povos. Só agrega valores para nós, o povo camponês, assim como da função social ao se trazer para nosso povo, independente da localidade, o direito à cultura, lazer, educação”, disse ainda Adriana Prestes.

Foto: Arquivo MST no PR 

Celio Rodrigues, também morador da comunidade Emiliano Zapata e militante do setor de Direitos Humanos do MST, destacou a importância da atividade: “A exibição do filme ‘Marighella’ nos trouxe a oportunidade de conhecer esta bela produção de Wagner Moura. Um filme que retrata a luta contra a ditadura em nosso País. E não só contra a ditadura, mas pela construção de um projeto bonito, um projeto novo, socializante para nosso País, que foi aquele dos que estiveram no fronte contra a ditadura de 1964. Marighella está presente nas nossas ações, enquanto movimento social que luta pela terra, pois temos em comum a construção desse Brasil novo, desse Brasil popular, da esperança e socializante”.

A exibição contou com a presença de professores do Departamento de Jornalismo da UEPG, coordenadores do III Ciclo Descomemorar Golpes e da parceria da Agência de Jornalismo na I Mostra de Cinema na Terra, Hebe Gonçalves e Sergio Gadini.

Durante o debate, a professora Hebe Gonçalves falou sobre o livro “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo”, escrito pelo jornalista Mário Magalhães (Companhia das Letras, 2012, 732 páginas), que inspirou o diretor Wagner Moura a fazer o filme.

A professora destacou também a atuação de Aluízio Palmar, que na juventude atuou na luta contra ditadura militar no Brasil e no Paraná. A partir do Rio de Janeiro, Palmar se mudou para Foz do Iguaçu como integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), foi preso, torturado e expulso do País pelo próprio regime.

Durante o debate, Hebe Gonçalves também falou sobre o livro de Palmar, “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos” (Editora Travessa, 2005, 366 páginas), resultado das investigações do autor sobre o assassinato de quatro companheiros que teria ocorrido numa emboscada militar dentro do Parque Nacional do Iguaçu, pela Estrada do Colono, em 1974. Atualmente representante do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu, Palmar se mantém incansável na luta pela apuração dos crimes da ditadura no Paraná.

O professor Gadini destacou que parcerias extensionistas “com entidades e comunidades regionais, como o Pré-Assentamento Emiliano Zapata em Ponta Grossa, envolve um compromisso da Universidade Pública”.

A exibição de ‘Marighella’ obteve a autorização da Produtora O2 Filmes, que disponibilizou ao Setor de Educação Estadual do MST o link da obra para download. A mostra contou também com o apoio do Sindicato dos Docentes da UEPG (Sinduepg), que cedeu os equipamentos multimídia para exibição do filme.

Cinema na Terra é uma iniciativa que já ocorre em assentamentos e acampamentos do MST em nível nacional, por iniciativa do setor de Educação do movimento, com o objetivo de incentivar espaços de lazer, cultura e conhecimento. No Pré-Assentamento Emiliano Zapata, em Ponta Grossa, a proposta terá continuidade, com a parceria do programa de extensão Agência de Jornalismo, do Curso de Jornalismo da UEPG.

Ficha Técnica
Marighella
Direção:
Wagner Moura
Produção: O2 Filmes
Coprodução: O2 Filmes, Globo Filmes
Roteiro: Felipe Braga e Wagner Moura
Ano: 2019
Lançamento: 2021

*Editado por Fernanda Alcântara