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Militante do MST relata como Pronera foi importante para realizar sonho de cursar agronomia

Neste sábado (16/4), o Pronera completou 24 anos e tem muito a comemorar; Para Gilvan Santos, o programa contribuiu no acesso a educação e emancipação humana, elevando os níveis de escolarização dos(as) camponeses(as) dos movimentos populares do campo
Gilvan Santos. Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Da Página do MST

O militante do MST Gilvan Santos, formado em Técnico em Administração de Cooperativas e graduado em Agronomia pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), hoje atua no Setor de Produção do MST no Maranhão. Ele comenta sobre a importância dessa política pública voltada à Educação do Campo e seu papel central na escolarização e educação dos camponeses e camponesas, contemplando saberes populares tradicionais e desenvolvendo metodologias inclusivas, de valorização da realidade do campo.

Criado em 16 de abril de 1998, por meio da Portaria nº. 10/98, vinculado ao gabinete do Ministério Extraordinário da Política Fundiária, o Pronera foi uma conquista de anos de luta dos movimentos populares do campo e se tornou uma política pública de educação do campo. Foi fundamental para a formação de jovens e adultos de assentamentos de Reforma Agrária e comunidades rurais no acesso a cursos de educação básica (alfabetização, ensinos fundamental e médio), técnicos profissionalizantes de nível médio, cursos superiores e de pós-graduação (especialização e mestrado). Além de contribuir na capacitação de educadoras e educadores das áreas de assentamentos e coordenadores locais de atividades educativas comunitárias em Educação do Campo.

O programa funcionava em parceria com as instituições públicas de ensino, federais e estaduais, e com os movimentos e organizações sociais do campo na luta pela educação pública, gratuita e de qualidade, como um dever do Estado brasileiro. Porém, em 21 de fevereiro 2019, o programa foi extinto pelo governo Bolsonaro.

Confira o relato:

Meu nome é Gilvan Santos, sou natural de Sergipe, filho de assentada, no assentamento Ivan Ribeiro, município de Japaratuba, Sergipe.

Iniciei minha militância no MST em meados de 1995, quando ingressei na 3ª turma do curso de Técnico em Administração de Cooperativas (TAC), então ministrado no Instituto Josué de Castro (ITERRA), sediado em Veranópolis, Rio Grande do Sul, me formei em 1997. Lá conheci minha companheira, que é maranhense, com quem casei em 1999. Em 2000 mudei para a cidade de Imperatriz. no Maranhão, militando no MST, através do Setor de Produção, contribuindo na organização das Associações e Cooperativas dos Assentamentos.

O acesso às políticas públicas pelos trabalhadores e trabalhadoras, sempre foi pauta constante nas lutas do MST. O acesso a educação é fundamental para a emancipação humana, elevando os níveis de escolarização da militância, incluindo camponeses e camponesas nas escolas, discutindo e implementando metodologias inclusivas e adequada às realidades das pessoas e organizações. Assim os cursos do Pronera, mudaram a realidade da educação, trazendo para os espaços acadêmicos, temas importantes como: Reforma Agrária, Educação do Campo, movimentos sociais, Agroecologia, inclusão social, políticas públicas, pedagogia da alternância,…

Essa mudança no pensamento e metodologia de ensino, nos cursos do Pronera, me permitiu realizar um sonho, que era chegar à Universidade com um curso que sempre me identifiquei muito, a Agronomia. Em 2004, junto com assentados, assentadas e jovens de assentamentos dos estados do Maranhão, Pará e Tocantins, iniciamos o curso de Agronomia na Universidade Federal do Pará, campos de Marabá, saindo formado em Engenheiro Agrônomo, no fim de 2008.

Para um militante Sem Terra, casado, pais de dois filhos, essa conquista não é fácil, não quando se é Classe Trabalhadora e vive em uma sociedade excludente, patriarcal de pensamento capitalista.

Mas no MST, isso é possível, foi para mim, assim como muitas outras camponesas e camponeses, que lutaram através das organizações do campo, dos movimentos sociais e conquistaram esse direito; e continuaram lutando, estudando, aprendendo e ensinando o exercício da vida, provando aos negacionistas, que muito fizeram para destruir essa política, e tentaram desqualificar nossos cursos.

A metodologia da alternância, e a temática de estudo voltada para a realidade dos cotidianos de nossos trabalhos juntos aos assentamentos, permitiu que continuássemos desenvolvendo as ações programadas ao mesmo tempo que elaborávamos os trabalhos das disciplinas. Problematizando a partir de cada realidade, construindo alternativas junto com as famílias.

Formado em agronomia continuei minha militância, contribuindo no Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST no MA. A organização das cooperativas e Associações e seus sistemas de produção, com elaboração de projetos ganharam em 2009, no Estado do Maranhão, mais 15 profissionais formados em Agronomia, a partir da Turma Cabanos, como foi titulada essa turma do Curso de Agronomia da UFPA.

Em 2010, tive a oportunidade de participar da Turma do curso de Maestría en Agroecologia y Agricultura Sostenible, pela Universidad Agraria de La Havana, em CUBA. Me formei em 2012.

Voltando ao Brasil, ainda em 2012, mudei com minha família para contribuir com o Setor de Produção do MST no Ceará, trabalhando através do Termo de Cooperação UFMA/INCRA, com a elaboração de projetos agroindustriais do programa Terra Forte. Esse conhecimento adquirido com o trabalho militante e os cursos de graduação e mestrado, somado as demandas do MST, trabalhei também em São Paulo, com o desafio da Comercialização dos produtos da Reforma Agrária, e em 2015, voltei para o Maranhão.

Em 2019, assumimos dois desafios, o de organizar e administrar o Armazém do Campo em São Luís e contribuir com a Secretaria de Estado da Agricultura Familiar (SAF), na coordenação do Departamento de Comercialização e Acesso a Mercados.  

*Editado por Solange Engelmann