Vânia do MST lança pré-candidatura à deputada federal no Maranhão

Nomes como João Pedro Stédile e Flávio Dino reforçaram apoio ao lado da militância
Foto: Edu Dutra

Por Márcio Zonta
Da Página do MST

O estado do Maranhão tem sido palco de uma disputa territorial acirrada nas últimas décadas, apresentando de um lado uma força agromineral avassaladora, e do outro, a resistência das diversidades dos povos do Maranhão, que buscam resguardar seus territórios.

A violência tem sido a forma de resolução adotada pelo agronegócio e mineração contra os povoados quilombolas, indígenas, ribeirinhos, extrativistas, quebradeiras de coco e áreas de assentamentos rurais, na tentativa da tomada de suas terras.

Porém, de um cenário que emerge de conflitos, também podem surgir lutas, esperança e conquistas sociais. Foi com esse sentimento que Vânia do MST lançou sua pré-candidatura à deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na noite desta sexta (20) em São Luís, capital do Maranhão.

Foto: Edu Dutra

O evento contou com a presença de várias lideranças políticas, a exemplo de João Pedro Stédile, da direção nacional do MST e de Flávio Dino (PSB), ex-governador do Maranhão, além de representações de movimentos sociais e figuras históricas de processos de luta de acampamentos e assentamentos de diversas regionais maranhenses.

Pela expressão facial e as falas dos participantes, existe uma confiança política na figura de Vânia do MST, que dedicou seus últimos 40 anos de vida em defesa da democratização da terra no Brasil, sendo as três últimas décadas de atuação no Maranhão.

A professora Edielma Maria, do assentamento João do Vale, localizado em Açailândia, interior do estado, percorreu mais de 500 quilômetros de ônibus para participar do evento, e diz estar feliz com uma pré-candidata mulher e professora.

“Eu me identifico com ela porque sou mulher e professora da educação do campo, assim como ela, e sei que ela valoriza as professoras e professores e pode lutar por nós”, relata.

Flávio Dino (PSB), ao lado de pré-candidatos e candidatas do Partido dos Trabalhadores também somou forças ao projeto político e ressaltou a importância da pré-candidatura de Vânia do MST, que segundo ele, enquanto mulher, negra, professora e militante, representa a população maranhense.

“É importante para toda a população maranhense, porque teremos não só mais qualidade na política, mas também mais representatividade perante o povo brasileiro, pois muitas pessoas não se enxergam em pessoas e políticos que hoje estão no poder”, comentou.

Foto: Edu Dutra

Conflitos agrários

Vânia do MST lança seu nome em um estado que tem números expressivos de violência contra os povos do campo. Segundo dados do Caderno de Conflitos do Campo no Brasil 2021, lançado anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), nove entre 26 assassinatos no campo foram cometidos no Maranhão, um terço do total.

Além disso, a disputa pela terra no Maranhão, que transforma territórios de cultivo de alimentos para terras em produção de commodities para exportação, atrelada à expulsão dos camponeses para cidade, leva o estado ao maior percentual de domicílios em situação de insegurança alimentar do país.

Isso é o que revela a Pesquisa de Orçamentos Familiares Contínua (POF) organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2020. Ao todo 62,2% dos lares maranhenses apresentam redução quantitativa no consumo de alimentos, o que representa mais de 1,3 milhões de residências.

Em seu discurso, Vânia do MST destaca a necessidade da organização política e ocupação de espaços de poder para o fortalecimento do combate à violência e produção de alimentos saudáveis.

“A agricultura brasileira precisa ser inteligente, e onde está a inteligência dela? Nos povos do campo que produzem para alimentar as pessoas em harmonia com a natureza, sem veneno, por isso precisamos cada vez mais de políticas públicas para os camponeses, quilombolas e indígenas”, alerta.

João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, chamou atenção para a importância da construção de uma sociedade igualitária para derrotar o projeto de exclusão pensada e executada pela burguesia brasileira.

“Temos que construir uma sociedade justa, construir um novo projeto de país com Lula e Vânia, por isso temos que organizar os comitês populares para dialogar com a sociedade em geral, mas sobretudo com a periferia, a juventude e as mulheres”, diz.

Foto: Edu Dutra

Maior trem do mundo

Outra questão que também eleva o conflito agrário no Maranhão, é a Estrada de Ferro de

Carajás (EFC), que corta mais de 20 municípios maranhenses, com impacto direto em

aproximadamente 130 comunidades.

Pela EFC circula o maior trem do mundo – 330 vagões com mais de 3,3 quilômetros de extensão e capacidade para 33 mil toneladas de minério por viagem – que sai das minas de Carajás no Pará e vai até o porto de Itaqui em São Luís, transportando minérios.

Com a EFC implantada em seus territórios, o estado se tornou o maior corredor logístico do sul global, fazendo do Maranhão um dos principais responsáveis por contribuir com o maior lucro já registrado de uma empresa no Brasil, R$121 bilhões em 2021, arrecadado pela mineradora Vale, que opera na região.

Recursos financeiros que passam longe das comunidades, que o trem deixa um rastro de atropelamentos, mortes e destruição da natureza. O estado tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil (IDH), conforme o IBGE.

Fora isso, o IBGE revelou no último censo, que o rendimento mensal domiciliar per capita do Maranhão é de apenas R$676, o que significa metade do salário mínimo do Brasileiro.

Diante desses dilemas, Vânia do MST disse no lançamento da pré-candidatura que “não podemos aceitar um país tão rico, com tanta pobreza, onde o povo fique excluído das decisões políticas e dos recursos e alheios à renda produzida pela própria nação brasileira, que fica com a elite desse país”.

Para a liderança indígena Sônia Guajajara, natural do Maranhão, que não pode ir ao evento, mas gravou um vídeo com mensagem de apoio, às desigualdades no Brasil só deixarão de existir quando as forças se unirem.

“Eu apoio a pré-candidatura da Vânia do MST porque nós precisamos juntar forças da luta indígena com a luta camponesa para acabar com a ausência do povo na política institucional e acabar com as mazelas desse país”, enfatizou.

Foto: Manu Farias