Risco Ambiental

Instituto de SP cobra análise de impactos ambientais sobre fusão entre Carrefour e BIG

Segundo o Proam, se a fusão for considerada legal pelo Cade, haverá uma concentração de 50% do mercado nas mãos da nova rede de hipermercados
Supermercado rede BIG em São Paulo. Imagem: Divulgação/BIG

Da Página do MST

Na terça-feira (24), o Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), ligado à defesa de políticas públicas em prol do meio ambiente de São Paulo, protocolou uma representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), questionando a compra do grupo BIG pelo Carrefour e pedindo ao Conselho a regulação dos impactos ambientais em decorrência de produtos como o açúcar e o etanol.

A fusão representa um perigo para o meio ambiente, pois o Carrefour e BIG não apresentaram compromissos ambientais em relação aos produtos derivados da cana-de-açúcar, café, milho, trigo, algodão e cacau.

Para o ambientalista e presidente do Proam, Carlos Bocuhy, a compra de açúcar e etanol pelas redes de varejo precisam levar em conta a colheita da cana de forma sustentável.

“A gente tem que avançar, justamente nestas grandes fusões das grandes corporações, devido ao grande poder de compra que essas empresas tem e elas podem exercer um controle mais efetivo sobre a sua cadeia de produtos, evitando as desconformidades ambientais. Um exemplo, que nós citamos é a questão da cana”, aponta Bocury.

O foco do pedido do Proam neste momento, foi pela fixação de condicionantes que obriguem as duas empresas gigantes relação às temáticas ambientais, já que as duas “concentram cadeias produtivas marcadas por queimadas, o uso de mão de obra em situação análoga à escravidão, o uso abusivo de agrotóxicos e transgenia. E juntos vão produzir e comercializar bilhões desses produtos todo ano”, questiona o Instituto.

“Estamos solicitando que o Cade utilize critérios ambientais e avalie, em casos como esse do Carrefour com BIG, o impacto ao meio ambiente na aquisição de açúcar e  etanol produzidos com a queima da cana, de forma a baratear o processo, em vez da colheita mecânica, mais sustentável”, afirma o presidente do Proam.

A organização de direitos humanos, Terra de Direitos também entrou com representação no Cade questionando à aquisição do BIG pelo Carrefour. A entidade ressalta, que além da necessidade da análise da concentração econômica, que as duas gigantes devem gerar, a uma grande preocupação com os impactos aos direitos sociais de povos indígenas e comunidades tradicionais, aos direitos do consumidor; bem como a destruição ambiental, que pode ocorrer em fusões como essas e ampliação do monopólio nesse setor.

“Indicamos sobretudo os possíveis impactos da concentração empresarial no que concerne aos
produtos comercializados pelas empresas com a necessidade de rastreabilidade da cadeia de fornecimento, considerando: o monitoramento dos resíduos de agrotóxicos nos alimentos, respeitando os limites máximos permitidos e a informação ao consumidor; a vedação quanto a comercialização de produtos com alto grau de impactos socioambientais decorrente da prática extensiva da pulverização aérea de agrotóxicos; o combate ao desmatamento e o respeito aos direitos territoriais e ambientais de povos indígenas, comunidades tradicionais e comunidades de agricultores familiares”, afirma o documento.

Mais concentração do setor

Segundo o Proam, se a fusão for considerada legal pelo Cade, haverá uma concentração de 50% do mercado nas mãos da nova rede de hipermercados, com um grande poder de compra.

O que deveria representar um escândalo econômico, pois coloca em risco a concorrência e o preço dos alimentos, ampliando a concentração de empresas que já são gigantes e tem o monopólio do setor alimentício. O que se agrava ainda mais, devido ao período de crise econômica, alta no preço dos alimentos e ampliação da fome e da miséria no Brasil.

Diante disso, o Instituto também alerta que a operação cria mais um monopólio numa área tão sensível, especialmente em relação ao abastecimento, a compra e venda de alimentos no Brasil. “O Cade deveria, ao nosso ver, rejeitar ou determinar sérias restrições para proteger a livre concorrência no ramo”, cobra a representação.

A representação do instituto é feita em conjunto com o Coletivo de Entidades Ambientalistas do Estado de São Paulo e visa alertar o Cade e o mercado para a necessária regularidade ambiental. “Nossa intenção é advertir todos os setores que vendem hoje os produtos sem considerar os prejuízos ao meio ambiente”, diz Bocuhy.

O Cade recebeu a representação em regime de urgência e deve se manifesta ainda essa semana ou semana que vem sobre o assunto. A análise da fusão do Carrefour com o Grupo BIG está prevista para esta quarta-feira (25) no Cade.

*Editado por Fernanda Alcântara