Lutas Populares
MST terá construção de Armazém Agroecológico e Ciranda Infantil na capital paulista
Curso do MST formará Agentes Populares de Construção Agroecológica em São Paulo para espaços em Perus (SP)

Por Guilherme Henrique Guilherme
Da Página do MST
No meio de um dos maiores aglomerados urbanos do mundo, o MST pretende construir dois espaços respeitando o ambiente e se utilizando de materiais locais como bambu e terra crua. Esses espaços são o Armazém Agroecológico e a Ciranda Infantil Luiz Beltrame.
O local que sediará o Armazém e a Ciranda será a Comuna da Terra Irmã Alberta, localizada no bairro de Perus, periferia no norte da capital. O Irmã Alberta é um espaço surgido da luta por reforma agrária popular em que dezenas de famílias estão vivendo e produzindo há quase 20 anos.
Ciranda
A Ciranda pretende ser um espaço de convivência, socialização e aprendizado dos Sem Terrinha juntamente com as crianças do entorno, crianças da periferia de São Paulo. O nome homenageia o Sr. Luiz Beltrame de Castro, o Poeta Sem Terra. Símbolo da luta pela terra, seu Luiz organizou o povo e lutou para transformar em realidade os sonhos de seus poemas. Em 1997, aos 88 anos, marchou de São Paulo a Brasília junto aos 1500 Sem Terra da Marcha Nacional por Terra, Emprego e Justiça. A experiência dos dois meses de caminhada ficou registrada nos 27 versos que compõem a poesia “A marcha de 1997”.
Já aos 95 anos, puxou as fileiras da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, realizada de Goiânia a Brasília. Seu Luiz foi um lutador pela Reforma Agrária e pela transformação social no Brasil até falecer, aos 107 anos, em 2015. Toda sua vida de lutas, no entanto, virou semente, e a Ciranda Infantil, que receberá tantas crianças Sem Terrinha e da periferia da cidade, recebe seu nome e segue o seu legado.

Ciranda Infantil é o nome dado pelo MST ao lugar de criação, de invenção, de recriar e de imaginar das crianças Sem Terrinha. É onde se configura a construção do coletivo infantil, no qual as crianças aprendem a dividir o brinquedo, o lápis, o lanche, a luta e a compartilhar a vida em comunidade.
Para Rosangela Santos, moradora da Comuna da Terra Irmã Alberta e do Setor de Educação do movimento, o espaço da Comuna já é, por si só, uma escola. No entanto, a construção de um espaço formativo para as crianças da Comuna e do entorno é essencial, já que a creche mais próxima está há mais de 5km do local. “Nós pensamos: porque não construirmos uma ciranda não só para os nossos pequenos, mas também para os pequenos do entorno?”.
A ideia, ainda segundo Rosangela, é criar um cotidiano de formação com as crianças. “A Luiz Beltrame é para agregar as crianças pequenininhas. Para isso, é preciso uma construção forte, que resista ao sol e à chuva. Nós temos hoje adultos, que já são pais e mães, que se lembram até hoje da Ciranda que frequentavam quando crianças. Por isso achamos muito importante subir esse espaço.”
Agroecologia é o caminho

O outro espaço nos planos do MST para a Capital Paulista é o Armazém Agroecológico. Este Armazém será um ponto logístico para a distribuição em São Paulo da produção de alimentos dos acampamentos, assentamentos e comunas da terra do MST na Grande São Paulo. Pretende-se, com esse espaço, facilitar a chegada à mesa dos trabalhadores e trabalhadoras da cidade, dos produtos da Reforma Agrária Popular – saudáveis, sem veneno e sem exploração.
Segundo Marília Leite, do setor de produção do MST e da Cooperativa Terra e Liberdade, “o Armazém Agroecológico vai dar conta de centralizar a produção para que a gente possa organizar melhor a distribuição dos alimentos no centro urbano. Então vamos aproveitar esse espaço do movimento, na Comuna da Terra Irmã Alberta, que é muito próximo da capital e por isso tem um potencial maravilhoso para que a gente consiga fechar o ciclo da alimentação sem veneno: começa na produção e termina na mesa dos trabalhadores.”
Assim, se uma boa parte da preocupação com a produção se dá dentro dos territórios do MST, o Armazém chega para que essa produção seja também distribuída com mais qualidade e com menos custos, facilitando o acesso do trabalhador e da trabalhadora urbanos ao alimento saudável. Ainda conforme Marília: “É muito comum que a produção do movimento enfrente desafios na hora de escoar os produtos da reforma agrária. Isso porque a gente se dedica muito dentro dos nossos espaços, garantindo a produção. Mas uma infraestrutura para garantir o escoamento é igualmente importante.”
Da construção


Ambos os espaços serão ser construídos como atividades pedagógicas do “Canteiro Escola de construção agroecológica do Irmã Alberta”, a ser cursado por assentados de reforma agrária do estado de São Paulo junto a estudantes e trabalhadores da cidade ao longo do mês de junho, formando a primeira turma de “agentes populares de construção agroecológica”.
O processo de troca de conhecimentos e exercício de trabalho livre entre os trabalhadores da terra, mestres construtores, estudantes, professores e outros profissionais será realizado pelo Instituto de Ensino, Pesquisa e Extensão em Agroecologia Laudenor de Souza, com o apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU/SP, e a colaboração de professores e especialistas no tema dos bambus e saneamento ecológico da USP, UNESP e Escola da Cidade.

Todo o processo, dessa forma, é um processo também formativo, pedagógico, que vai muito além das relações de exploração do trabalho predominantes no capitalismo. Trata-se de um processo que pretende, além de construir uma estrutura que vai fortalecer a relação entre campo e cidade, a relação entre trabalhadores rurais e trabalhadores urbanos, também formará tecnicamente e politicamente mais de 20 pessoas durante essa construção. Estamos chamando essa formação-construção de “Canteiro Escola”.
Você pode contribuir para essa experiência pedagógica e de construção de espaços que deixarão um impacto profundo nas relações campo e cidade. Essa contribuição é muito bem vinda já que será necessário adquirir materiais de construção, como os produtos para o tratamento dos bambus da estrutura, além dos tubos e conexões do esgotamento sanitário ecológico.

O MST pretende inaugurar esses espaços no aniversário de 20 anos de luta, resistência e produção da Comuna da Terra Irmã Alberta, em julho.
*Editado por Fernanda Alcântara