Dia do Leite

Assentados do MST inauguram laticínio de leite em área industrial de Andradina (SP)

Confira experiência de produção leiteira da Reforma Agrária em São Paulo, que no próximo dia 24 de junho, inaugura agroindústria com produção de 15 tipos diferentes de produtos lácteos
Luta de famílias assentadas do MST na região da Andradina conquista industrialização de leite. Foto: MST SP

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

Mais de mil famílias assentadas que vivem em 24 assentamentos do MST na região de Andradina, no estado de São Paulo, se aproximam de uma importante conquista da luta pela Reforma Agrária Popular e em colher os frutos de estratégias adotadas pelo Movimento na área da produção, beneficiamento e comercialização de alimentos saudáveis nas áreas de assentamento.

No próximo dia 24 de junho, inauguram o laticínios Coapar, que irá produzir 15 tipos diferentes de produtos lácteos, beneficiando inicialmente dez mil litros de leite por dia, mas com a capacidade para atender 25 mil litros por turno.

“O laticínio vai produzir três sabores de iogurtes, três sabores de bebidas láctea, leite em saquinho, manteigas com e sem sal, de duzentos e quinhentos gramas, mussarela, queijo platô e queijo frescal, ricota e requeijão”, explica Lourival Plácido de Paula, agricultor e geógrafo, que integra a cooperativa e vive no assentamento Cafeeira, no município de Castilho.

Obras do laticínios Coapar, localizada em uma área industrial de Andradina. Fotos: MST SP

O laticínio está localizado em uma área industrial de Andradina e pertence à Cooperativa Coapar, em funcionamento há 25 anos. A cooperativa, que teve início em dois assentamentos da região, Timboré e Rio Paraná, hoje conta com mais de mil famílias assentadas e abrange 24 assentamentos. Os assentamentos irão abastecer a indústria leiteira localizam-se em doze municípios no entorno de Andradina.

Lorival afirma que a produção será destinada para a comercialização em políticas públicas, como Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), e para o mercado tradicional da região, como padarias, hotéis, supermercados, entre outros. Outra meta dos assentados é no futuro encontrar distribuidores para vender em grandes centros de consumidores, como a capital de São Paulo e Campinas.

Importância do Laticínio

Entre os diversos impactos positivos com a instalação do laticínio na região para as famílias assentadas, os consumidores e a sociedade em geral, Lorival aponta a melhoria na renda das famílias da cooperativa, a geração de empregos e a comercialização de produtos de qualidade e saudáveis, diretamente das áreas de Reforma Agrária.

“Vai gerar um pouco mais de distribuição de renda pros assentados, agregar valor na matéria-prima, nos ajudar a ter um resultado um pouco melhor das políticas públicas, com menos custo industrial, com isso permite a gente pagar um pouco a mais ao produtor. Além disso, a gente vai tá oferecendo à população da região um alimento de qualidade, saudável, produzido com amor e carinho pelos camponeses pra eles também próprios e para a sociedade. Esse é o principal ganho da sociedade em relação ao nosso laticínio, e também vamos ter a geração de emprego. Na medida que ele [laticínio] cresce, aumenta a possibilidade de trabalho”, pontua.

As famílias assentadas da Coapar já vem trabalhando com a industrialização de leite há cerca de dez anos, relata Lorival. Porém, até o momento esse processo era feito de forma terceirizada, em outros laticínios da região, com a produção de leite em pó, iogurte, manteiga, requeijão, leite em saquinho e outros produtos. Com a inauguração do laticínios Coapar, a industrialização passa a se concentrar toda no local da indústria.

Produção de leite na Reforma Agrária Popular

Produção de leite é a principal fonte de renda das famílias assentadas na região. Fotos: MST SP

Segundo Lorival, a produção leiteira é uma linha de produção fundamental na Reforma Agrária Popular e uma das principais fontes de renda, que garante o sustento das famílias nos assentamentos da região de Andradina. Isso porque a produção de leite gera uma renda mensal, o que contribui na fixação das famílias assentadas no campo, pois em pequenos municípios e regiões menores do interior do país, distantes dos grandes centros consumidores os custos com produção e transporte é maior, o que torna mais difícil o deslocamento de produtos in natura, como por exemplo frutas e legumes, que geralmente são mais fáceis de escoar em assentamentos próximos dos grandes centros urbanos.

“A produção leiteira é uma grande saída. É o que tem sustentado as famílias a resistir nos assentamentos nesses últimos 7 anos. Aqui na região 70% das famílias produzem leite são aquelas que estão sobrevivendo bem, as demais tão com muito mais dificuldade. Mas é uma atividade penosa, sofrida, que exige muito do trabalhador, mas a turma vive nos assentamentos fazendo isso, tem muita gente que gosta, e isso é muito bom”, argumenta.

O resultado da produção de leite como atividade produtiva importantes para os assentamentos do MST se traduz na criação da própria cooperativa Coapar na região de Andradina, prestes a inaugurar um laticínio de leite. A experiência surge a partir da criação de uma cooperativa de produção agropecuária com trabalho coletivo e área comum, como parte do processo de luta do MST na implantação de grupos coletivos nos assentamentos, organização da produção e criação de cooperativas e agroindústrias para o beneficiamento da matéria-prima e a venda de produtos da Reforma Agrária.

“Então, nos formamos uma cooperativa regional. Ai nós tinha um grupo de jovens que trabalhava coletivo no assentamento Timboré, tinha 12 jovens, e esses jovens sonhavam em construir uma cooperativa de produção agrícola e quando o Movimento definiu pelas cooperativas regionais de industrialização e comercialização, esses jovens aderiram à proposta. Então, a cooperativa que começou com 24 cooperados, hoje passa de mil cooperados”, conclui Lorival.

*Editado por Fernanda Alcântara