Formação
MST realiza Curso Nacional sobre nova tecnologia de Bioinsumos
Por Setor de produção do MST
Da Página do MST
Há 25 anos o MST vem cultivando novas relações entre a agricultura e a natureza, tendo como síntese a agroecologia. Nesse período, inúmeras iniciativas e experiências floresceram em todos os biomas do país. Quintais produtivos, agroflorestas, hortifrútis, tecnologias sociais de convivência com o semiárido, casas de sementes, café, milho, feijão, soja e arroz agroecológicos, são alguns resultados do trabalho de milhares de famílias assentadas e acampadas que colocam em prática a Reforma Agrária Popular em nosso país.
É a partir desse esforço que o MST realizou, entre os dias 04 e 07 de junho, o primeiro módulo do Curso Nacional de Bioinsumos: os conhecimentos do Teia Alimentar do Solo (em inglês Soil Food Web). A atividade ocorreu no Instituto de Educação Josué de Castro, localizado no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, Rio Grande do Sul.
O curso contou com a participação de agricultores e agricultoras das cadeias produtivas do arroz, milho, feijão, soja, frutíferas e agroflorestas, além de membros do Instituto Educar, da Escola Latino Americana de Agroecologia e da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, totalizando 20 participantes de oito estados.
Durante o curso os educandos preparam diferentes receitas de composto base. Será nesse microambiente que por meses centenas de milhares de bactérias, protozoários, nematoides, fungos e microartrópodes (por grama!) se desenvolverão. Já na segunda etapa será possível analisar o desenvolvimento microbiológico desses compostos-base e realizar algumas aplicações testes para inocular o solo com essa gama de microorganismos e, assim, dinamizar a vida no solo, explicam os participantes da primeira etapa do curso.
O sistema Teia Alimentar do Solo comprova os conhecimentos desenvolvidos pela professora Ana Maria Primavesi, que por décadas demonstrou a importância da biocenose do solo. Segundo Andreia Matheus, coordenadora nacional do Coletivo de Bioinsumos do MST, ao favorecer o aumento da vida no solo o método contribui para o estabelecimento de sistemas produtivos mais equilibrados. “E sua adoção, juntamente com um conjunto de práticas camponesas, fortalece processos de transição e contribui para o avanço da agroecologia em nossos territórios.”
Embora trabalhe com uma alta complexidade biológica, o sistema Teia Alimentar do Solo tem alto potencial de replicabilidade. Desse modo, Andreia Matheus, ressalta que as educandas e educandos finalizaram a primeira etapa do curso com o desenvolvendo de um planejamento de implementação de ensaios nas diferentes regiões do país.
Também estiveram presentes no curso pesquisadores da Associação Internacional para a Cooperação Popular (AICP), uma rede que promove o intercambio tecnológico entre organizações de base popular do Sul Global (América Latina, África e Ásia). Facundo Ramos, pesquisador da Universidade de La Plata e associado da AICP chama atenção para importância de aplicar o conhecimento científico, combinado com o conhecimento ancestral de nosso povo, para assim, “compreender melhor o funcionamento dos agro-ecossistemas e desenvolver uma produção agrícola que funcione com e não contra a natureza que nos cerca; e o método Teia Alimentar do Solo é mais uma ferramenta para avançar nesta direção”, pontua.
Benefícios do curso
Os benefícios atingem diretamente as próprias famílias das áreas de Reforma Agrária que produzem alimentos, mas, também a sociedade, pois são estruturais. Como explica Luiz Zarref, do Setor de Produção do MST, a produção de alimentos saudáveis do MST em quantidade e qualidade já abastece a alimentação escolar de mais de quase 500 cidades do país, dentre elas as principais capitais. “Também está presente nas milhares de iniciativas de mercados locais, como feiras e cestas agroecológicas, da mesma forma que foi o que garantiu que o MST doasse mais de 6 mil toneladas de alimentos e 1 milhão de marmitas durante a pandemia.”
Ao mesmo tempo em que alimenta o povo, a Reforma Agrária Popular também avança em sua missão de cuidar dos bens comuns da natureza. Nesse intuito, o plano nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” vem organizando uma nova etapa da transformação agroecológica no MST, promovendo o plantio de árvores para o cuidado com nascentes e rios no campo e na cidade, mas também potencializa sistemas produtivos que tenham no componente arbóreo sua centralidade, como as agroflorestas e os quintais produtivos.
Nesse sentido, o curso apontou ainda os desafios nessa área, que segundo os participantes, são imensos. Nesse sentido, a cooperação e a construção de novas relações humanas são decisivas para que a agroecologia se concretize como solução produtiva para as famílias camponesas do país. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento tecnológico da agroecologia é outra busca permanente na construção de conhecimento científico popular, que permite às famílias camponesas aprofundar sua compreensão das dinâmicas ecológicas da produção de alimentos saudáveis.
“A massificação da agroecologia entre as famílias Sem Terra passa pelo desenvolvimento de um ecossistema de tecnologias que seja produzido e manejado pelas formas organizativas dessas famílias, contribuindo para a construção de um processo emancipatório e da retomada da co-evolução ser humano-natureza, processo cindido pelo capitalismo. O projeto da morte, que no campo tem como forma o agronegócio, deve ser enfrentado de forma contundente”, explica Andreia Matheus.
Nesse sentido, o MST pontua, a partir das práticas e vivências das famílias Sem Terra, que a implementação de um projeto de vida, que se pauta na reconstrução do metabolismo socioecológico, é o caminho para enfrentarmos a fome, as desigualdades sociais e as brutais agressões ao meio ambiente. “E a busca por ampliar a produção de alimentos saudáveis, um dos pilares da Reforma Agrária Popular, está no centro desse caminho, agora reforçado pelos conhecimentos que temos desenvolvidos sobre os bionsumos”, conclui Zarref.
*Editado por Solange Engelmann