Orgulho

Num país onde nos querem mortos, orgulhar-se é lutar

Ano a ano, continuamos liderando um ranking entristecedor. Somos o país que mais mata LGBTQIAP+ no mundo
Rosa Amorim é militante Sem Terra, do Levante Popular da Juventude e pré-candidata a deputada estadual em Pernambuco. Foto: Arquivo Pessoal

Por Rosa Amorim
Para o Brasil de Fato

Num mundo ideal, num Brasil ideal, o dia 28 de junho seria, sim, um dia sobre o amor. Essa é, inclusive, uma ideia que tentam pregar. Um dia sobre a liberdade de amar. Mas, quando vivemos em um País que mata uma pessoa LGBTQIAPN+ a cada 29 horas, é difícil falar só sobre o orgulho de sermos quem somos.

Ano a ano, continuamos liderando um ranking entristecedor. Somos o país que mais mata LGBTQIAPN+ no mundo. Como falar só sobre amor quando mais de 300 pessoas morreram por homofobia só em 2021? Essas são as mortes contabilizadas. E as que não foram? E as violências diárias invisíveis?

Há 53 anos, a revolta de Stonewall Inn marcava para sempre o dia 28 deste mês. Considerado o Dia Internacional do Orgulho LGBT+, a data carrega, especialmente para nós brasileiros, um peso ainda maior. É dia de orgulhar-se, mas, em meio a um governo fascista e homofóbico, é dia de lutar. Falar sobre orgulho é falar sobre enfrentamento.

O mês de junho evidencia uma luta diária pela garantia de direitos e pela garantia da vida. O que queremos, ao assumirmos nosso orgulho, são políticas públicas que nos enxerguem como humanos, que nos mantenham vivos, que respeitem nossas particularidades e garantam uma sociedade acolhedora para nós.

Desde muito antes das eleições, Jair Bolsonaro destilava aos quatro cantos ódio à população LGBTQIAPN+. Não foram uma ou duas falas. A homofobia – considerada crime imprescritível e inafiançável desde 2011 – fez parte do projeto de governo dele, escaldado de intolerância e desrespeito. Fomos atacados por nossa diversidade de gênero e sexualidade.

O conservadorismo tomou conta das instâncias de poder do nosso País e, se o presidente da República tem a violência em seu discurso, quem se sentiria mal em reproduzi-lo? Desde 2019, sofremos com o apagamento de nossas discussões, passamos a ocupar menos espaços e o medo da violência tornou-se constante. Em contrapartida, começaram a tomar forma políticas e discursos contra a discussão sobre gênero e sexualidade, muito permeadas pelas fake news.

O resgate da pauta da liberdade de corpos e sexualidade é imprescindível para a reconstrução do Brasil. Chega de conservadorismo velado de amor à família cerceando nossas vidas e escolhas. É urgente ocuparmos nossos espaços. Nas ruas, nas redes, dentro de casa e nas bancadas de representação política. Não queremos que o patriarcado, figurado pelo meio do legislativo e pelo executivo, definam os rumos das nossas vidas e onde devemos ou não estar, o que podemos ou não fazer.

Nós queremos políticas públicas de saúde que atendam às nossas necessidades físicas e psicológicas. Queremos que adolescentes trans e travestis consigam terminar seus estudos dentro das escolas e que, depois disso, superem as estatísticas que dizem que sua expectativa de vida é apenas até os 35 anos. Queremos ver pessoas LGBTQIAPN+ adotando seus filhos tranquilamente. Queremos que as pessoas sejam enxergadas e respeitadas da forma como se identificam.

Num país onde o que eles querem é nos matar, orgulhar-se é lutar. Nós precisamos resistir. E, enquanto nós LGBTQIAPN+ tivermos medo de sair nas ruas de mãos dadas, a data de hoje será mais um dia de luta contra a homofobia. Basta!

Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

*Editado por Elen Carvalho