Perfil Lutadora

Da vida itinerante aos pés fincados na terra: Célia, uma lutadora Sem Terra

Mulher, negra e agricultora, conheça a história de Célia Rosana Sabino, 57 anos e 20 anos de MST.
Célia teve tem trajetória na arte circense, onde trabalhava com a família em circos itinerantes. Foto: Guilherme Guilherme.

Por Guilherme Guilherme, MST São Paulo
Da Página do MST

Antes de se tornar assentada na terra pela luta do MST, Célia Rosana Sabino teve um início “itinerante” no mundo do trabalho: quando jovem, foi circense, acompanhando os pais no trabalho do circo, rodando cidades fazendo trapézio, contorções, dançando e cantando.

Hoje, aos 57 anos, está vivendo e produzindo no mesmo local há 17 anos: o Assentamento Dom Pedro Casaldáliga, em Cajamar, na região da Grande São Paulo.

Essa história começou a partir de um período de dificuldades econômicas. Quando ela e os filhos estavam para ser despejados, “ouviu dizer” sobre um lugar em que encontraria um pedaço de terra para morar, plantar e garantir o próprio alimento.

Desconfiada, se perguntou: “mas existe alguém capaz de fazer uma coisa dessa por outras pessoas?”. Com o despejo batendo à porta, no entanto, teve que deixar a desconfiança de lado: “Quando eu cheguei, foram me encontrar na portaria. Me abraçaram, me beijaram, tinham leite quente para os meus filhos.”

Esse primeiro contato com a luta foi no dia do próprio aniversário de Célia, em julho de 2002, há 20 anos atrás. Para ela, a ida ao território do MST foi o presente: “O MST é um resgatador de sonhos. A pessoa está dilacerada, sofrida, o MST resgata o sonho, você volta a sorrir, a sonhar.”

Mesmo tendo conquistado a terra pela luta coletiva, Célia reafirma que ainda há muitos desafios hoje para a classe trabalhadora e, principalmente, para o povo negro. Para ela, no que dependesse da burguesia, os negros seriam escravizados até hoje. E, de certa forma, ainda se ‘aquilombam’ para sobreviver, em diversos lugares de resistência, como as favelas e os territórios do MST. Para ela, esses são também Quilombos hoje, onde os negros e negras convivem, produzem, resistem e criam um mundo novo.

Hoje a produção de Célia abastece a merenda de escolas da região da Grande São Paulo. A partir do Assentamento Dom Pedro Casaldáliga, faz chegar à mesa da merenda escolar dos filhos e filhas da classe trabalhadora produtos saudáveis e sem veneno. Verduras e legumes frescos. Ela é mãe de 6 filhos e milita no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra há mais de 20 anos, desde seu primeiro contato com a organização. Atualmente, além de produzir e viver no assentamento, contribui no Setor de Gênero do MST na Regional Grande SP.

Gostou a história da companheira Célia?
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*Editado por Diógenes Rabello