Debates

Juventude do campo e cidade realizam Encontro Regional no Pontal do Paranapanema (SP)

Ao todo, 65 jovens se reuniram no assentamento Rodeio, em Presidente Bernardes (SP), para debater a conjuntura e os desafios da juventude Sem Terra
O lema do Encontro foi “Terra, Direito e Rebeldia: Juventude organizada enfrenta a burguesia”. Foto: Giovanna Angeli

Por Coletivo de Comunicação do MST no Pontal do Paranapanema
Da Página do MST

Com o lema “Terra, Direito e Rebeldia: Juventude organizada enfrenta a burguesia”, aconteceu no último dia 30 de julho, encontro organizado pelo Coletivo de Comunicação, Cultura e Juventude (CCJ), do MST no Pontal do Paranapanema, conjuntamente com o Levante Popular da Juventude e o Coletivo Cultural Galpão da Lua. O Encontro contou com a participação de de 65 jovens.

A ideia de realizar o encontro no assentamento Rodeio, no município de Presidente Bernardes (SP), foi para dar centralidade ao tema da educação do campo, chamando a atenção para a reativação da Escola Municipal Paulo Freire, fechada em 2015 pela prefeitura municipal. Também foram trazidas questões relacionadas ao trabalho, pois é onde há a instalação de uma agroindústria, uma das estratégias de geração de renda e trabalho para a juventude do campo.

Entre os principais elementos abordados destacam-se o aumento da fome e da violência no último período. Foto: Giovanna Angeli

Para Diógenes Rabello, do Coletivo de Comunicação, Cultura e Juventude do MST no Pontal do Paranapanema, o principal ganho do encontro foi perceber que a juventude Sem Terra continua com a chama da rebeldia acesa “mesmo após um dos períodos mais difíceis para essa geração, que foi a pandemia. Então, ver que temos jovens preocupados com sua posição na sociedade nos anima, enquanto movimento social, a retomar nossas ferramentas de luta para fazer o trabalho de base e contribuir com a formação da consciência em nossos territórios, utilizando métodos e linguagens próprias da juventude”.

A programação se iniciou com uma mesa sobre a conjuntura no país, com o tema “Organizar a Juventude do Campo e da Cidade: o trabalho de base e as nossas ferramentas de luta”. Entre os principais elementos abordados destacam-se o aumento da fome e da violência durante o último período e, como a crise econômica e a política genocida de Bolsonaro afetam a juventude da classe trabalhadora.

Jane Rosa, militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular, relatou que a juventude é um momento da vida de preparação, mas, que nem todo jovem tem o direito de viver a sua juventude hoje. “Assumimos o compromisso revolucionário de transformar o nosso país. Por isso, lutamos pela educação, por trabalho digno, alimentação saudável e pela promoção da cultura no campo e na cidade. Defendemos a construção de um programa antifascista, antineoliberal, feminista e antirracista para a juventude do povo brasileiro”, destaca.

Outro elemento relevante do debate foi a Reforma Agrária Popular e a questão ambiental. Que evidenciou como o avanço do agronegócio se desenvolve com base no uso da terra para produção de commodities afetando diretamente o equilíbrio ambiental, já que a monocultura demanda o uso descontrolado de agrotóxicos, causando desmatamento, queimadas e diversos outros crimes contra biodiversidade. Na contramão desse modelo, a Juventude Sem Terra reafirma a necessidade de um projeto amplo de Reforma Agrária Popular, para enfrentar a crise ambiental através da agroecologia e de outras formas por meio de uma relação equilibrada com a natureza.

Para Renata Menezes, do Coletivo Nacional de Juventude Sem Terra, ver a juventude do campo e da cidade construindo um encontro, em unidade, “reafirma que a luta é o que nos conecta, junto com um novo jeito de fazer a política, e reinventar formas que dialoguem com a classe trabalhadora, a partir do conteúdo da realidade que cada um e cada uma estão envolvidas”.

No período da tarde os debates se concentraram no tema das formas de opressões, com o seguinte enfoque: “Basta de violência e dominação dos corpos: mulheres, negros/negras e LGBT’s por terra, igualdade e direito de existir”. A mesa evidenciou a urgência de novas relações humanas para construir outra sociedade. “E denunciou o avanço do capital, que além de explorar nossas terras e nossos bens comuns, explora e violenta nossos corpos, por isso é importante que as formas de opressões sejam combatidas em novos territórios”, afirmou Renata.

Kelvin Nicolas, do Coletivo LGBT do MST São Paulo reforça que, “no atual período a juventude do campo e da cidade tem sofrido ataques violentos, retiradas de direitos e o adoecimento mental em massa. Debater diversidade sexual e de gênero alinhado à juventude tem todo sentido pra nós, do MST. Em menos de um ano tivemos 5 mortes de LGBT’s Sem Terra, dentre esses 4 jovens e 4 negrxs”.

Segundo Kevin, a juventude quer viver e voltar a sonhar. Nesse contexto, “a luta dos LGBT’s Sem Terra precisa sem mantida todos os dias contra aqueles que nos ferem e nos matam. Retomaremos as ruas, resignificaremos as lutas e vamos derrotar esse projeto de morte. Vestiremos nossos lenços de chitas e bordaremos pedaços de sonhos e não sairemos das trincheiras, até que nossa fome de justiça e sede de liberdade seja de fato alcançada”, afirma.

Além dos debates constituídos nas mesas, também houve espaço de formação com a juventude para as tarefas concretas que estão no horizonte. Isso se deu através de oficinas realizadas durante o encontro na área da Comunicação Popular, Grafite, Batucada e Teatro. 

Durante o encontro também foi realizado o lançamento do livro “LGBT Sem Terra: rompendo cercas e tecendo a liberdade”, material de comemoração dos cinco anos do Coletivo LGBT do MST, que traz a diversidade das expressões levantadas pelas bandeiras do arco-íris, por meio de um ensaio fotográfico exclusivo feito pelo fotógrafo Rafael Stédile, com militantes LGBT’s Sem Terra.

“Esse encontro teve o objetivo de reunir a juventude da nossa região para debater e pensar os desafios do nosso tempo. Passamos por uma conjuntura em que a juventude trabalhadora está sendo atacada de todas as formas, retirando direitos, aprofundando o desemprego e a opressão. Nesse encontro afirmamos que podemos nos organizar e lutar com todas as nossas forças para derrotar o bolsonarismo e propor um projeto de pais, que atenda os interesses da juventude”, afirma Rodolfo de Souza Lima, militante do Levante Popular da Juventude e da Consultar Popular.

Como resultado do encontro, foi elaborado um manifesto. Nele, a Juventude do Campo e da Cidade do Pontal do Paranapanema reforça seu posicionamento em relação à conjuntura, com o compromisso de derrotar o fascismo e a tarefa da mudança da sociedade.

Foto: Giovanna Angeli

Confira Manifesto da Juventude do Pontal do Paranapanema – São Paulo, no link abaixo:

*Editado por Solange Engelmann