Saber Protege

Curso reúne LGBTI+ de todo Brasil e debate os desafios da formação em saúde no campo

Atividade marca os oito anos de realização do Seminário Nacional “O MST e a Diversidade Sexual”
Curso é realizado pelo MST, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Foto: MST/BA

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Com a participação de 100 LGBT Sem Terra de 18 estados, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o MST iniciaram na noite deste domingo (7/8), o Curso de Formação de Educadores e Educadoras Populares em Saúde LGBTI+ do Campo e Prevenção às IST/HIV/AIDS, no Centro de Treinamento da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), localizado em Salvador, na Bahia.

A abertura do curso contou com um momento de acolhida e reflexão sobre o processo de construção da luta LGBTI+ no interior do MST, apontando desafios e perspectivas, já que o início da atividade marca os oito anos de realização do Seminário Nacional “O MST e a Diversidade Sexual”. O seminário foi o primeiro espaço de debate nacional sobre as ações que envolvem o tema da diversidade sexual e de gênero no Movimento.

O curso de formação faz parte do Projeto “Saber Protege: Saúde e Prevenção de Epidemias e Infecções Sexualmente Transmissível – IST/HIV no Campo”, que, de maneira geral, pretende atuar na promoção da saúde da população LGBTI no campo e reafirmar os princípios da universalidade, da integralidade e da participação social do Sistema Único de Saúde (SUS).

Sobre a importância desse espaço, Anakeila Stauffer, da Fiocruz, destacou o papel da escola na educação técnica, como um instrumento capaz de possibilitar o conhecimento cientifico para todas e todos e afirmou a necessidade da apropriação do conhecimento através do curso.

Curso de formação faz parte do Projeto “Saber Protege: Saúde e Prevenção de Epidemias e Infecções Sexualmente Transmissível – IST/HIV no Campo”. Foto: MST/BA

“Entendemos a saúde numa concepção ampla e como ela se materializa na vida da população LGBTI+. Essa concepção norteia a construção desse espaço e a necessidade de avançarmos no estudo coletivo e na formação de educadores e educadoras, agentes populares, para organizar e seguir na luta por uma saúde integrada e universalizada a partir dos territórios”, explicou Stauffer.

Com foco no processo de troca e construção coletiva do conhecimento em saúde, Edinaldo Novaes, da direção nacional do MST pelo setor de saúde, destacou o papel do autocuidado na construção da luta e a importância do curso como um espaço que acumule coletivamente para se pensar os sujeitos LGBTI+ no campo.

“Precisamos cuidar não apenas do nosso corpo físico, mas também, das dimensões da saúde de maneira integrada. Precisamos pensar a saúde antes, o cuidado com amor e a construção dos nossos corpos como territórios também em disputa. Estaremos aqui esses dias para realizar a troca de saberes, de cuidado, para que possamos cuidar desses corpos. E vamos trabalhar com esse cuidado de amor, de respeito.”

Diversidade sexual e de gênero no MST

Alessandro Mariano, da direção nacional do MST pelo Coletivo LGBT Sem Terra, explicou que o curso tem dois sentidos: o da luta e da formação política em saúde popular.

Ao rememorar sobre os oito anos de construção do Coletivo, ele aponta que alguns avanços são possíveis observar desde então. Um deles seria a necessidade de inserir o tema da diversidade sexual e de gênero na organicidade do Movimento. “Prova disso são os espaços que ocupamos dentro da organização, fazendo luta, organizando a luta pela terra. Mais do que conscientizar sobre isso, mostramos na prática que a luta no MST não tem como avançar sem a diversidade humana”, destacou.

Para Alessandro Marino, não tem como olhar para o MST hoje “e não enxergar a luta LGBT, das mulheres, dos negros e negras, e essa é a nossa contribuição”. Foto: MST/BA

“Outra coisa que aprendemos foi a ousadia. Hoje poder reafirmar a nossa existência, a nossa forma de ser e amar é muito importante. Por isso, que em nosso curso, além de aprofundar sobre a perspectiva da saúde da população LGBTI+ no campo, temos a tarefa de comemorar. Não tem como olhar para o MST hoje e não enxergar a luta LGBT, a luta das mulheres, dos negros e negras, e essa é a nossa contribuição.”

Programação

A realização do curso é encarada como um passo à frente na construção da luta e no aprofundamento da diversidade sexual e de gênero no MST. Durante os oito dias de atividades, os LGBT Sem Terra irão debater temas como “Sistema Único de Saúde e a política de saúde para população do campo”, “Prevenção e promoção de saúde – concepção de saúde do MST”, “Saúde da População LGBTI – Prevenção às IST e HIV/AIDS”, “Saúde mental e autocuidado das LGBTI+”, “A atual conjuntura brasileira” e a “História do Coletivo LGBT Sem Terra e desafios da pauta no MST”.

Os espaços de estudo em plenária serão acompanhados também por momentos de autocuidado, que pretende realizar algumas práticas em saúde, como “massagem e ventosas”, “ervas e cuidado espiritual” e o “corredor do cuidado”. Esses e outros espaços serão construídos em parceria com o Setor de Saúde do MST.

1º Seminário

O seminário “O MST e a Diversidade Sexual”, realizado entre os dias 7 e 9 de agosto de 2015, trouxe à tona uma experiência de acolhimento da alteridade, de dialogar com a multiplicidade que compõe a vida social. Kelli Mafort, da coordenação nacional do MST, em entrevista para Página do MST na época sinalizou que o seminário foi um “marco histórico nos 30 anos de organização do Movimento Sem Terra”.

E continuou: “esse encontro visibiliza o LGBT, sujeito da luta no campo. Esse é um passo fundamental no sentido de reconhecer que na nossa base social, na nossa militância e na direção política do Movimento eles estão presentes. E mais do que isso, demonstra uma postura concreta de luta contra a face conservadora que fortalece o racismo, a homofobia, o machismo e todo o tipo de preconceito. Por isso, esse  é um marco histórico dentro do MST, é uma marcha que avança e que não pode retroceder”, enfatizou.  

*Editado por Solange Engelmann