Comitês Populares

“O MST é resultado de um amplo e permanente trabalho de base”, afirma Rosana Fernandes

Em entrevista, integrante da direção nacional do MST fala sobre a relação entre os Comitês Populares e o trabalho de base nos territórios rurais e urbanos
Comitês Populares em São Paulo. Foto: Diógenes Rabello

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem atuado historicamente buscando articular o estudo teórico e a prática política em seus territórios, mantendo vivos seus ideais e a construção de um projeto popular de país. Para isso, é fundamental a propagação do conhecimento, das experiências históricas, das estratégias de lutas, dos métodos de trabalho e direção, organização e formação política, sendo estas condições essenciais para o avanço da organização.

E diante dos debates, desafios e perspectivas das Eleições de 2022, trabalhadores e trabalhadoras Rurais Sem Terra estão por todo o país construindo os Comitês Populares, trazendo este conceito de trabalho de base para, juntes pelo Brasil, construir um Projeto Popular. 

Neste sentido, Rosana Fernandes, da direção nacional do MST e coordenadora político-pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), explica como os Comitês Populares são parte de um processo de mobilização, ativismo e diálogo com o povo sobre o próximo período.

Este trabalho se dá não somente na eleição de Lula para a presidência, mas também na candidatura de 15 trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, que hoje se traduz em uma resposta do Movimento à sociedade. Rosana lembra como o trabalho de base e estas candidaturas partem sempre da organização do assentamento e, assim, buscam obter novas conquistas na melhoria das condições dos/as camponeses/as, no território e no projeto de país.

Rosana Fernandes é da direção nacional do MST e coordenadora político-pedagógica da ENFF. Foto: MST/Acervo ENFF

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

A iniciativa dos Comitês Populares vem de uma longa experiência que os movimentos sociais e populares têm em relação ao trabalho de base. Como o MST se insere e contribui nesta experiência?

O MST é resultado de um amplo e permanente trabalho de base. Essa afirmação pode ser compreendida no sentido do trabalho de base que os militantes fazem para conquistar novas pessoas para se integrar à luta pela terra, pela Reforma Agrária e pela transformação social, ampliando assim a força social para organizar ações concretas para obter conquistas, tendo como fundamental a conquista da terra.

Além disso, após a conquista da terra o trabalho de base configura-se na organização do assentamento para obter novas conquistas por melhoria das condições de vida no território. Nesse sentido, o momento exige que tenhamos como foco o trabalho de base desde os comitês populares, tanto com as pessoas Sem Terra, quanto com os apoiadores, simpatizantes, diferentes categorias de trabalhadores para consolidar uma vitória eleitoral e sustentar um novo governo que esteja mais próximo das questões do povo brasileiro.

Atividade no Paraná. Foto: Nelson Orlando de Andrade

Quais as tarefas e desafios estratégicos dos Comitês Populares nos próximos dois meses de período eleitoral, em especial a organização dos Comitês Populares?

Podemos afirmar a necessidade de organizar a população brasileira para refletir sobre os problemas que afetam diretamente a vida do povo; fazer ações concretas de lutas pelos direitos negados historicamente, especialmente direitos sociais e humanos retirados neste último período; estudar com o povo temas que possam contribuir para elevar o nível de consciência diante da realidade na qual estão inseridos. Por último, construir uma base de sustentação de um novo governo em concomitância com pressões sociais necessárias para atender a pauta dos trabalhadores.

Como o trabalho de base se insere dentro e fora dos territórios? Os Comitês Populares estão sendo pensados diante da organização e formação de coletivos?

Os Comitês estão sendo organizados nos assentamentos, acampamentos, escolas do campo, centros de formação vinculados ao MST. Mas também a militância do MST está construindo relações com os Comitês Populares urbanos, junto às comunidades, bairros, igrejas, associações de moradores, grupos familiares e de amizades. O essencial é organizar e mobilizar o maior número de pessoas através dos Comitês para potencializar futuras ações de massas.

Foto: Reprodução/ PT

Quais as perspectivas destes Comitês Populares para o período após as eleições? Existe uma programação para diferentes cenários e resultados?

Independente do resultado eleitoral, os Comitês poderão cumprir tarefas importantes na sociedade brasileira. O trabalho prioritário durante a campanha eleitoral é eleger Lula, junto com uma bancada de parlamentares estaduais e federais que deem respaldo a uma política governamental que priorize as questões populares. Pós eleições, com a vitória de Lula ou não, os Comitês precisam fortalecer a resistência e construir táticas de lutas pelos direitos da maioria da população.

*Editado por Solange Engelmann