Armazém do Campo

MST inaugura Armazém do Campo em Brasília

Rede de lojas da reforma agrária chega ao DF trazendo produtos de cooperativas, acampamentos e assentamentos de todo país
Produção em território do MST no DF. Foto Matheus Alves

Por Janelson Ferreira
Da Página do MST

No próximo sábado (10), a partir das 16h, a população do Distrito Federal passará a ter uma loja para adquirir produtos da reforma agrária. O Movimento Sem Terra fará a inauguração do Armazém do Campo em Brasília, uma rede de lojas criada pela organização e que hoje está instalada em todas as regiões do país. No DF, a loja estará localizada na CLN 115, bloco B, loja 63. 

Criada em 2016, a rede tornou-se referência para quem busca alimento saudável e acesso à outras expressões culturais da reforma agrária. Atualmente, a rede Armazém do Campo conta com 25 lojas físicas. Além destas, existem 39 pontos de comercialização, espalhados por 13 estados brasileiros, com pedidos via delivery e encomendas. A previsão é que nos próximos anos, mais de 30 novas lojas sejam abertas.

“O Armazém do Campo buscará ser esta principal referência para quem busca, aqui no DF, alimentos produzidos nos acampamentos, assentamentos e cooperativas do MST espalhados pelo Brasil”, explica Sandra Cantanhede, da direção nacional do MST. No entanto, segundo a dirigente, o papel do Armazém vai para além da comercialização de alimentos. “Para nós, se alimentar é um ato político, por isto que o Armazém também será um espaço para avançarmos na construção da Reforma Agrária Popular e no combate ao agronegócio e ao fascismo”, explica Cantanhede. 

“O Armazém do Campo é fruto das primeiras grandes Feiras Nacionais da Reforma Agrária, que ocorreram a partir de 2015”, lembra Ademar Ludwig, da coordenação da rede Armazém do Campo. “A trajetória germinou, inicialmente, em São Paulo, onde a identidade do Armazém foi deixando sua marca. E hoje se expande para capitais e interiores, em dezenas de cidades pelo Brasil, com os frutos da Reforma Agrária Popular e agricultura familiar camponesa”, explica Ludwig.

Desde 2021, o Armazém do Campo já realiza entrega de pedidos online no DF e mantém bancas em diversas feiras da região, entre elas, a Feira da Ponta Norte, que ocorre aos sábados, na CLN 216. Sandra Cantanhede explica que, no Distrito Federal, o MST foi amadurecendo suas ferramentas de comercialização, de modo a conseguir oferecer a loja física do Armazém neste momento.  “Portanto, o Armazém do Campo DF é fruto da luta pela terra e da organização da nossa produção, as quais foram desenvolvidas pelo MST ao longo de sua trajetória no estado”, destaca a dirigente. 

Banca do Armazém DF na Feira da Ponta Norte. Foto: MST-DFE

Atualmente, o Movimento Sem Terra conta com 1.900 associações, 160 cooperativas e 120 agroindústrias, além de mais de 450 mil famílias assentadas em todo país. Durante a pandemia, a partir da produção de seus territórios, o MST doou mais de 7 mil toneladas de alimentos e 2 milhões de marmitas solidárias. 

Entre os produtos que serão comercializados estão o suco Monte Vêneto, cachaça artesanal Lula Livre, café Guaií e o arroz Terra Livre. Este último, é destaque nacional entre a produção do MST.  Há 10 anos, o Movimento é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, com mais de 15 mil toneladas de arroz livre de agrotóxicos produzidos na safra 2021/22. Cultivado nas variedades agulhinha e cateto, o arroz é produzido por 296 famílias Sem Terra do Rio Grande do Sul, as quais vivem em 14 assentamentos, distribuídos em 11 municípios gaúchos.

“Ao longo dos anos, compreendemos que temos que lutar não somente pela democratização do acesso à terra, mas que esta terra, ao ser conquistada por nós, esteja voltada à produção de alimentos saudáveis para o povo”, explica Sandra Cantanhede. Segundo a dirigente, a rede Armazém do Campo é parte da estratégia de comercialização do MST. “Frente a esta tarefa de alimentar o povo, criamos vários instrumentos, sendo o Armazém do Campo um destes” aponta. 

Fome é um dos principais problemas do país atualmente

Doação de Marmitas Solidárias na Estrutural durante a Campanha Natal Sem Fome. Foto: MST-DFE

Apenas quatro em cada dez famílias brasileiras têm acesso pleno à alimentação e 33 milhões de brasileiros passam fome, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, publicado em junho deste ano. Se comparado aos dados de 2020, houve um crescimento de 7,2% no número de pessoas em algum estado de insegurança alimentar. São 14 milhões a mais de pessoas com fome. 

Ao todo, 125 milhões de brasileiros vivem algum nível de insegurança alimentar, sendo 59 milhões em insegurança leve, 31 milhões em insegurança moderada e 33 milhões em insegurança grave. 

A pesquisa foi conduzida pela Rede Penssan, formada por pesquisadores em segurança alimentar, e executada pelo Instituto Vox Populi, com apoio de entidades da sociedade civil. Foram ouvidas 12 mil famílias em 577 municípios, de novembro de 2021 a abril de 2022. 

“O império nos impôs a fome, a ditadura nos impôs a fome e, agora, estamos repetindo a tragédia de nossa história, por conta deste governo”, sinaliza Alexandre Conceição, da direção nacional do MST, ao destacar o aspecto estrutural da fome no Brasil. “Sem combater o latifúndio não há o combate efetivo da fome. E o governo que aí está é de natureza latifundiária, por isso o Brasil voltou para o mapa da fome”, aponta o dirigente.

Governo Bolsonaro praticamente zerou estoques de alimentos

Entre as diversas políticas adotadas pelo governo Bolsonaro para contribuir para o aumento da fome, pode-se destacar o desmonte dos estoques de alimentos. Em 2013, o país tinha 944 toneladas de arroz estocados, em 2015, mais de 1 milhão de toneladas. Em 2020, eram apenas 22 toneladas, o que não garantia nem uma semana de consumo no país. Atualmente, não existem estoques governamentais de alimentos para contingência, para intervir nos preços nos mercados ou para apoio aos programas sociais.

Para Antônia Ivoneide, da direção nacional do Setor de Produção do MST, existe uma tentativa de desqualificar a agricultura familiar no país. “Sofremos com o desmonte das políticas públicas, mesmo a agricultura familiar sendo um importante e histórico setor do país”, denuncia Ivoneide. Para a dirigente, Bolsonaro atua diretamente para esvaziar estas políticas e permitir o avanço do agronegócio. “Temos um país grande produtor e exportador de produtos agrícolas, mas com 33 milhões de brasileiros passando fome”, pontuou.

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é outra política pública que foi desmontada com Bolsonaro. Com o Programa, o governo compra alimentos que são produzidos pela agricultura familiar e destina para pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional. Entre 2003 e 2015, durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), o PAA adquiriu mais de 4 milhões de toneladas de alimentos. Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, foram adquiridas somente 14 mil toneladas, uma queda de 95% se comparada com a quantidade de 2012 (297 mil toneladas). Em 2012, o governo destinou ao PAA R$ 587 milhões, contra os R$ 41,3 milhões de Bolsonaro – valor mais baixo desde 2003 -, apresentando um corte de 93%.  

Inauguração do Armazém do Campo DF terá arte e cultura

Loja Armazém do Campo DF. Foto_MST-DFE

Neste sábado, a inauguração do Armazém do Campo DF terá, além da comercialização de produtos da reforma agrária e da culinária da terra, diversas apresentações artísticas. Às 16h, Dani da Silva inicia as apresentações, seguida, a partir das 17h, do DJ Léo Cabral. Por fim, 19h30 o Samba do Peleja se apresenta. 

A partir da inauguração, o Armazém DF estará de portas abertas de terça à sábado, entre 10h e 19h.