Feira da Reforma Agrária

Ocupar, resistir e produzir: conheça as histórias de Vandélia Maria e José Pedro

Além de comercializar alimentos saudáveis, feirantes falam sobre a importância da luta pela terra na 21º edição da Feira da Reforma Agrária em Alagoas
Zé do Pedro é assentado há 22 anos no MST. Foto: Luiz Fernando

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Em sua 21º edição, a Feira da Reforma Agrária tem conseguido reunir mais 150 feirantes de todos os cantos do estado de Alagoas, para comercializar produtos, mas não só. Durante os dias de Feira, os assentados e acampados da reforma agrária trocam experiências produtivas e histórias de vida.

Quem chega na feira para comprar batata, feijão, mel e outros itens, também leva para casa histórias de resistência, forjadas debaixo da lona preta, no enfrentamento aos despejos e no princípio da coletividade e unidade para superar os problemas estruturais que aparecem na luta pela terra.

De regiões distintas do estado, mas com processos e relatos similares, Vandélia Maria da Silva (32), também conhecida como Vanda, e José Pedro da Hora (54), chamado carinhosamente de Zé do Pedro, contam como a luta pela terra foi fundamental para garantia da produção de alimentos saudáveis, dando um sentido amplo para realização da Feira na Praça da Faculdade, em Maceió.

Vanda, casada e na espera do seu primeiro filho, está no MST há sete anos e reside no assentamento Fidel Castro, no município de Joaquim Gomes. Ela tem participado das Feiras do MST desde 2009 e tem comercializado produtos fresquinhos colhidos pelas próprias mãos.

Mas Vanda conta que nem sempre foi assim. Ela conheceu o MST quando quando completou 18 anos, ao sair da capital alagoana e se mudar para Joaquim Gomes. Sem muito planejamento ela se aproxima do MST e se assenta. “Eu soube do MST através dos meus pais, que são assentados em Maragogi, no Espirito Santo. Quando fui pra lá, eu era muito pequena e passei a minha adolescência todinha em área de reforma agrária. Aí eu saí do assentamento com 17 anos. Após casada morei no Fidel Castro [onde atualmente é assentada].”

Vanda mostra com orgulho as conquistas da luta pela terra. Foto: Luiz Fernando

Com orgulho, ela afirma: “eu não troco o meu assentamento pelo melhor apartamento aqui de Maceió” e continua, “eu amo Maceió, mas só para vender, comercializar a minha produção. Aí eu venho para Maceió só para isso. Mas, lá no meu assentamento é bom demais de se viver.

Vanda, junto com as demais famílias do assentamento “produz de tudo um pouco”. “Produzimos laranja, banana, macaxeira, inhame, maracujá, coco. Todo tipo de produção a gente produz ou é possível produzir por lá.”

Segundo Vanda, muita coisa mudou em sua vida quando começou a produzir, “até a minha saúde melhorou. O ambiente é muito bom. Muito tranquilo. Temos comida saudável, que é o importante. A minha relação com os outros assentados é muito boa mesmo, a gente se dá muito bem, a gente trabalha individualmente em nosso lote, mas sempre que aparece algum trabalho coletivo estamos juntos produzindo.”

Ao contrário de Vanda, Zé do Pedro, que reside hoje no assentamento Rendeira, em Girau do Ponciano, mora há 22 anos na comunidade e destaca que o período de acampamento, com certeza, foi um dos mais difíceis, dando um sentido ainda mais coletivo para produção de alimentos.

Zé do Pedro fala dos desafios da vida de um acampado. Foto: Luiz Fernando

“Antes de conhecer o MST a gente sempre viveu nas propriedades de nossos pais e avós. Aí surgiu em 1998 o Movimento Sem Terra fazendo o trabalho de base. Eu não conhecia, só ouvia falar no programa de Reforma Agrária, mas não tinha noção como que isso funcionava. A gente chegou a conhecer a militância, que nos convidou para acampar. E no dia da ocupação da fazenda rendeira, eu não fui para ocupação, mas no outro dia se espalhou que tinha muita gente e como eu estava próximo, fui para lá. Chegando lá, o pessoal já chamou para fazer o cadastro dos acampados e a gente fez o cadastro e continuamos na luta. De imediato eu também passei a fazer parte da militância, coordenando o assentamento. Neste dia foi uma ocupação só, mas posteriormente surgiram outras ocupações”, contextualiza Zé do Pedro.

Ele conta que no acampamento “a unidade entre as famílias é muito boa”. “Todo mundo tinha uma boa aproximação. Nos primeiros momentos não tínhamos como fazer as roças. O pessoal trabalhava nas terras arrendadas e continuava naquela luta. No decorrer do tempo, a gente conseguiu desmistificar isso, e começamos a ocupar parte das terras improdutivas da fazendo para começar a produção. Aí começamos a produzir na propriedade que ainda não era nossa.”

O período de acampamento foi difícil para as famílias acampadas naquele período. Zé do Pedro relata que o acampamento sofreu dois despejos e em um deles teve cavalaria. “Foi muito confronto. Chegaram a queimar barracos, rasgar de faca, atirar para cima. Foi difícil. Mas, a gente, parte da militância, já tinha um pouco do conhecimento que aquilo era uma ameaça para fazer a gente desistir, mas a gente continuou na luta até vencer.”

Produção na Feira

Vanda e Zé do Pedro exibem com orgulho os produtos que trouxeram dos assentamentos para Feira da Reforma Agrária. Ela trouxe para Maceió banana, batata, mandioca e mel. Ele também expõe batata doce, banana, melaço e milho. Para ela tem sido gratificante dialogar com a sociedade sobre a sua e as diversas histórias de luta que se cruzam através da produção de alimentos saudáveis que tem chegado na mesa da população maceioense. A Feira segue com diversas atrações e comercialização de produtos até sábado (10).

*Editado por Fernanda Alcântara