Solidariedade Sem Terra

Por direitos e por democracia, milhares de pessoas participam do Grito dos Excluídos(as) no PR

Em Cascavel, famílias do MST partilharam mais de 6 toneladas de alimentos, em solidariedade com a população que enfrenta a fome, e também para denunciar o descaso do governo federal.
Foto: Juliana Barbosa

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST 

As ruas de barro da comunidade Vila União receberam cerca de 2 mil pessoas durante o 28° Grito dos(as) Excluídos(as) de Curitiba, na manhã desta quarta-feira (7). As casas pequenas de madeira e o esgoto a céu aberto revelam a ausência dos direitos básicos para as cerca de 200 famílias que vivem no local. 

A mobilização questionou a situação de fome, desempregado e risco de despejo enfrentada pela maior parte da população brasileira, em contraponto ao feriado da Independência do Brasil e os desfiles cívico-militares realizados no centro da cidade. A comunidade é formada composta por casas simples de madeira, e as pessoas que ali moram lutam diariamente por direitos básicos como moradia, saneamento e educação, assim como milhares de outras famílias da grande Curitiba. 

O ato foi organizado pela Arquidiocese de Curitiba, junto com movimentos sociais e entidades populares. As comunidades ligadas à articulação Despejo Zero participam em peso, vindas de todos os cantos da capital e da região metropolitana. 

O tema das eleições apareceu a partir do próprio público, com o grito “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula!”, que ecoou entre os cerca de 2 mil participantes! Entre os presentes estava o candidato ao governo do Paraná Roberto Requião, que foi aplaudido pelo público.

Após a caminhada pelas estradas de terra da comunidade, Roberto Baggio, da direção nacional do MST, frisou: “Nós estamos num lugar que revela a contradição estrutural do sistema capitalista, e por outro lado, a capacidade humana e coletiva de resolver e amenizar o sofrimento”.

A luta central da Vila União é por moradia e contra os despejos, assim como milhares de famílias curitibanas que vivem em áreas de ocupação, várias delas também presentes no ato. 

Paola Ferreira, de 23 anos, mora com seus dois filhos e o marido desde o início da ocupação, em maio de 2021. Ela e a família são presenças confirmadas nas mobilizações populares. “É um prazer a gente estar na nossa Vila União fazendo o Grito dos Excluídos. Estamos lutando pra ter nossa moradia, nossa terrinha. Para mim, moradia é o lugar que a gente tem, o sonho de uma casa pra nós, ainda mais com nossos filhos. Lutar por eles, por nossas crianças porque hoje tá difícil. O que a gente está conquistando hoje vai ser pra eles, graças a Deus”, garantiu a moradora. 

A comunidade reflete um problema da capital e de todo o estado. A Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) divulgou, em 2020, dados que revelam um déficit de 511.746 domicílios no estado. Somente em Curitiba, cerca de 50 mil famílias vivem em ocupações irregulares, segundo dados da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), em março de 2022. 

Fotos: Juliana Barbosa.

Marmitas da Terra em tempos de fome

Fotos: Juliana Barbosa.

A ação Marmitas da Terra, coordenada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), se somou a essa luta coletiva e, neste feriado de 07 de setembro, completa 151 mil refeições distribuídas em Curitiba e Região Metropolitana desde abril de 2020. 

Foram produzidos 3 mil almoços. Parte deles entregue nas praças Rui Barbosa e Tiradentes, no Centro da capital, e outra destinada a comunidades urbanas. A cada semana, as filas aumentam com adultos e crianças, famílias inteiras. O Grito dos(as) Excluídos(as) também recebeu 1.500 marmitas para seguir com o projeto político de dias melhores para o país. 

A costureira Roseli Ribeiro Souza, moradora do Tatuquara, agradeceu pela alimentação oferecida pelo Coletivo Marmitas da Terra. “Esse alimento é muito bom porque não tem veneno na comida, não intoxica ninguém. É muito importante o povo da terra trazer o alimento para o pessoal que precisa, esse momento de política e de pandemia que tá indo, é importante as pessoas trazerem apoio pro povo da vila. Vamos lutar e vamos ganhar. Terra, moradia, alimento, a comida tá alta e tem que abaixar. Se vencermos essa luta, todos vão melhorar.”

Fotos: Juliana Barbosa

Partilha de alimentos em Cascavel

Acampamentos e assentamentos do MST do oeste paranaense se reuniram para uma grande ação de Solidariedade no município de Cascavel. Cerca de 300 cestas, de 20 quilos cada, foram entregues à população urbana que mais precisa. Ao todo, foram mais de 6 toneladas de alimentos.

Fotos: Comunicação MST Oeste

Participaram da ação os acampamentos Sebastião Camargo de São Miguel do Iguaçu, Chico mendes de Matelândia, Dorcelina Folador, Primeiro de Agosto e Resistência Camponesa de Cascavel, Nova Semente de Catanduvas, e os assentamentos Ander Rodolfo Henrique de Diamante do Oeste, 16 de Maio de Ramilândia, Valmir Mota de Oliveira e Santa Terezinha de Cascavel, Sepé Tiaraju e Olga Benário de Santa Tereza do Oeste. 

A cesta de produtos oriundos das áreas de Reforma Agrária estava recheada de alimentos produzidos sem o uso de agrotóxicos, ou seja, alimentos saudáveis e de qualidade na mesa do trabalhador e da trabalhadora.

As ações de solidariedade vêm sendo realizadas pelas famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra desde o início da pandemia. Somente no Paraná, o MST partilhou mais de mil toneladas de alimentos, e mais de 6 mil toneladas em todo o Brasil.

Mobilização em Maringá

Fotos: Luana Menegassi

Também nesta data, a cidade de Maringá recebeu militantes do MST, militantes urbanos, diversos partidos e organizações para participar do ato político e cultural na praça Raposo Tavares.

Com o lema “(In)dependência, para Quem?, o Grito contou com atividades culturais, intervenções artísticas e falas de lideranças das organizações. Durante o ato foi reforçado a necessidade de derrotar o atual presidente nas urnas, lutar pela desigualdade social, fome e miséria que o povo brasileiro vem sofrendo.

O que é o Grito

Foto: Juliana Barbosa

O Grito dos(as) Excluídos(as) é uma mobilização nacional realizada desde 1995, como um contraponto ao Grito do Ipiranga, que não trouxe a verdadeira independência ao povo brasileiro. O lema permanente é “A vida em primeiro lugar”, bastante atual neste contexto de pandemia da Covid-19, aumento da fome e do desemprego no país. 

A ação é organizada por um conjunto de entidades ligadas à igreja católica, movimentos populares, sindicatos e organizações sociais. A maior parte das entidades compõem a articulação União Solidária, que realiza ações de ajuda humanitária em comunidades carentes de Curitiba e região, desde o início da pandemia da covid-19, em junho de 2020.   

Com o tema “Brasil: 200 anos de (in)dependência. Para quem?”, o Grito tem 7 eixos que tratam de assuntos atuais e que sempre estão em discussão. São eles: violência estrutural; dívida pública, dívidas sociais e direitos humanos; educação popular e trabalho de base; soberania alimentar: agricultura familiar no combate à fome e ao agronegócio; teto, terra e trabalho; democracia participativa e democracia representativa e defesa dos territórios.

A ação também busca servir como um momento de reflexão sobre os 200 anos de exploração e resistência no Brasil, e para contribuir para o conhecimento e popularização da nossa história, em contraponto à história oficial, e denunciar este modelo que produz riqueza, gera desigualdades e exclusão. 

Para Silvia Kreuz, articuladora do Grito pela Arquidiocese de Curitiba, a edição deste ano é especial. As soluções para essa realidade virão da ação conjunta da população, garante a representante da Arquidiocese: “Nós estamos com um desafio muito grande de mudarmos as estruturas de trabalharmos em um projeto de um país popular, de um país que valoriza o seu povo, então queremos lutar contra as desigualdades, e queremos proteger nosso sistema político democrático e além disso, gritar por políticas públicas capazes de contemplar as minorias e de olhar para as pessoas vulneráveis e de promover justiça social, é isso que nós desejamos”. 

*Editado por Fernanda Alcântara