Cooperativismo

“Uma cooperativa só dá certo se for resultado da consciência das pessoas que a constroem”

Durante Encontro em São Paulo, Lula recebe propostas de cooperativas e representantes da economia solidária
Entidades e organizações articuladas em torno do cooperativismo e da economia solidária, entregaram ao candidato a Plataforma de Ações do Cooperativismo Solidário. Foto: Emilly Firmino

Da Página do MST

Em clima de unidade, 1.500 trabalhadores e trabalhadoras, representantes de cooperativas e do Movimento de Economia Solidária de diversas regiões do país, participaram do encontro com o candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (14), no Galpão do Armazém do Campo, em São Paulo.

Com o objetivo de transformar o Brasil e apresentar os caminhos para o combate à fome e geração de emprego e renda aos brasileiros, a União Nacional de Organizações Cooperativistas Solidárias (Unicopas) e as demais entidades e organizações que se articulam em torno do cooperativismo e da economia solidária, entregaram ao candidato a Plataforma de Ações do Cooperativismo Solidário, documento elaborado a partir de propostas de transformação e melhorias para diversos setores do Brasil.

As caravanas contaram com a participação de agricultores familiares, artesãos, trabalhadores de fabricas recuperadas, catadores de materiais recicláveis, bancos comunitários, trabalhadores do setor dos transportes, entre outros categorias entusiasmadas com a possibilidade  de uma governo popular novamente no Brasil. 

Além da fome, que atinge mais de 33 milhões de pessoas, o Brasil também enfrenta o desemprego, a desigualdade social e econômica e a falta de oportunidades e de políticas públicas que atendam àqueles que mais precisam.

“Vocês querem voltar a sorrir, a trabalhar, estudar, almoçar, jantar e a tomar café todo santo dia? Esse país já existiu, mas foi destruído, e vamos ter que construir outra vez. E só podemos construir com a  participação de vocês!”, ressaltou Lula para a multidão de pessoas.

Logo no início de sua fala, Lula prestou homenagem à Dona Ilza, de Itapeva, que foi humilhada “da forma mais cruel, feita por alguém que não tem caráter, respeito e humanismo”. Na homenagem o candidato destacou a necessidade de avançarmos no combate à fome através do fortalecimento das experiências de economia solidária e criativa.

Lula afirmou que só é possível reconstruir o país com a participação dos trabalhadores. Foto: Emilly Firmino

Sobre a precarização das vidas, em um contexto de exploração do trabalho e perca de direitos, ele explica que o mundo mudou, sobretudo o mundo do trabalho. “Já não vemos mais aquelas fábricas que geravam milhares de empregos. E assim acontece com todas as fábricas do mundo, tudo mudou, e o ser humano precisa mudar”, e continua: “a gente percebe que no mundo tem um grande número de pessoas desempregadas, e as poucas pessoas que estão trabalhando, trabalham de forma informal. Pessoas que não são tratadas como cidadãos, sem registro, sem carteira, sem décimo terceiro, férias, descanso remunerado e seguridade social. Se acontece um acidente, a pessoa fica sozinha no mundo”, denuncia.

“Não podemos brigar com os avanços tecnológicos, nós precisamos é discutir como criar novos trabalhos, para homens e mulheres que querem uma vida digna”, destacou Lula, apontando para a necessidade de atuar com criatividade, respeitando o ser humano. Para ele “o Estado precisa fazer com que as pessoas tenham a possibilidade e oportunidade de criar formas de se organizar e fazer sua própria economia.”

Cooperativismo contra a fome

De acordo com o presidente da Unicopas, Francisco dal Chiavon, também conhecido como Chicão, o movimento cooperativista solidário é capaz de transformar o Brasil e suprir a fome dos mais necessitados.

Chicão também ressaltou a importância de políticas públicas e programas essenciais aos brasileiros e enfraquecidos nos últimos anos, como a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolas (PNAE). “Hoje temos uma triste realidade no país, e que afeta a todos: a fome e o desemprego. Precisamos de um projeto nacional de cooperativismo e economia solidária; investimento de infraestrutura para os atuais empreendimentos e os que formaremos no futuro; capital de giro para dar mais força à comercialização às cooperativas e recursos para organização social”.

Lula aproveitou a oportunidade para citar o sucesso das cooperativas e seus cooperados na produção e comercialização de alimentos. “Uma cooperativa não nasce de cima pra baixo. Ela só dá certo se for resultado da consciência das pessoas que a constroem”.

Para o presidente da Unicopas, Francisco dal Chiavon, o movimento cooperativista solidário é capaz de transformar o Brasil e suprir a fome dos mais necessitados. Foto: Lucas Martins

Seminário

No período da manhã, aconteceu o seminário “Cooperativismo e solidariedade no combate à fome”, com debates sobre a produção de alimentos saudáveis, com a participação de João Pedro Stédile, da direção nacional do MST; Georges Schnyder, da Slow Food, e a ex-ministra do Desenvolvimento Social e combate da Fome, Tereza Campello. A atividade foi mediada pela chet Bel Coelho. 

“O modelo da agricultura familiar se baseia no trabalho familiar. Eles vendem o excedente para o mercado local. Em torno de 88% de toda a comida que chega na mesa dos brasileiros vem da agricultura familiar. […] É a única que produz alimentos para o povo. Por isso, estamos sugerindo ao próximo Governo Lula que a agricultura familiar camponesa adote também a agroecologia e a produção de alimentos saudáveis não usando mais venenos”, declarou João Pedro Stédile.

George Schnyder destacou a relevância do papel das cooperativa na produção de bens no país, para isso ressaltou a necessidade de acesso a crédito no mercado, regularização, capacitação técnica e educação, além da organização social. 

Tereza Campello refletiu sobre o agravamento da fome do país como o legado do governo Bolsonaro. Segundo a ex-ministra, a fome foi naturalizada e o atual governo frequentemente nega a sua existência. Para Tereza Campello é preciso reconstruir as políticas de combate à fome no próximo Governo Lula. 

Já a cozinheira Bel Coelho defendeu a democratização da terra para o combate à fome. Segundo ela, “a reforma agrária não é só um pilar fundamental para o combate à fome. É também uma enorme aliada na produção de uma alimentação de verdade, saudável e sem veneno. É também a nossa chance de resgatar  e ter uma cultura alimentar genuinamente brasileira, respeitando nossa história e nossos povos originários, povos tradicionais”, declarou Bel Coelho ao final do seminário.

Plataforma de Ações

A Plataforma de Ações Estratégicas do Cooperativismo Solidário é um documento construído coletivamente pelas principais centrais do cooperativismo e da economia solidária do Brasil – Unicafes Nacional, Unisol Brasil, Concrab e Unicatadores. Ele traz propostas concretas e efetivas de como transformar o país em um lugar melhor para viver.

O documento abrange propostas de transformação, construída a partir de eixos de desenvolvimento, desde combate à fome, redução de desigualdades sociais e econômicas, geração de emprego e renda com sustentabilidade e democracia a partir da perspectiva do cooperativismo entre os indivíduos.

Acesse a Plataforma completa AQUI.

*Editado por Solange Engelmann