Eleições 2022

Campanhas de Roberto Cláudio e Capitão Wagner atacam MST em propaganda eleitoral

As peças publicitárias associam maior produtor de arroz orgânico da América Latina ao crime e à violência
O MST doou 70 toneladas de alimentos vindas de vários assentamentos e cooperativas durante a pandemia só aqui no Ceará. – Foto: Reprodução/MST

Por Amanda Sobreira
Do Brasil de Fato

Duas peças das campanhas dos candidatos ao governo do Ceará, Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (União Brasil), veiculadas durante a propaganda eleitoral, geraram uma série de manifestações nas redes sociais, por tentarem desqualificar as iniciativas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), atacando o candidato Elmano Freitas (PT), por ter advogado para o Movimento quando no início da sua carreira.

As peças veiculadas tentam promover fake news apresentando o MST como uma organização criminosa e violenta que invade terras. Entretanto,  o Movimento atua há 38 anos defendendo a reforma agrária. As ocupações realizadas pelo MST acontecem em terras consideradas improdutivas, onde o Estado é demandado a indenizar proprietários para que famílias de agricultores possam ser assentadas na área. Outra frente de atuação é a produção de alimentos saudáveis por meio da agricultura familiar e da agroecologia.

A reforma agrária defendida pelo MST está amparada na Lei 3.365/41 da Constituição Federal, que desapropria terras improdutivas nas zonas rurais e transmitem àqueles que se enquadrem no perfil legal e social e que tenham interesse em realizar atividade produtiva na área, seja na lavoura, na pecuária, no artesanato ou outros.

Um dos primeiros a se manifestar contra os ataques foi o candidato a Deputado Estadual, representante do MST no Ceará, Missias Bezerra (PT). Assentado da reforma agrária, Missias morou com a família no Assentamento Palmares, em Crateús, onde estudou na escolinha do Movimento. Depois se formou pela primeira turma de administração do MST pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), em Minas Gerais. Nas suas redes sociais, o candidato postou um vídeo repudiando a estratégia das duas campanhas.

“O MST doou 70 toneladas de alimentos vindas de vários assentamentos e cooperativas durante a pandemia só aqui no Ceará; o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina; realizamos uma feira mensal aproximando os camponeses da sociedade de Fortaleza, trazendo produtos orgânicos para a população; o MST tem 12 agroindústrias produzindo e comercializando polpas de frutas, mel, iogurte, castanha, requeijão e vários produtos que vêm da reforma agrária aqui no Ceará. Um movimento que faz tanto para defender seus territórios, para defender a vida dos camponeses, para melhorar a qualidade de vida do povo e acima de tudo produzir alimentos saudáveis, não pode ser chamado de baderneiro e terrorista como as campanhas de Capitão Wagner e Roberto Cláudio estão difamando o movimento”, afirmou. 

O Deputado Estadual e candidato à reeleição, Renato Roseno (Psol) escreveu no twitter: “A verdade é que os Sem Terra produzem alimentos saudáveis, distribuem riquezas e promovem dignidade no campo ao lutar em defesa da reforma agrária e da justiça social”.

O ex-parlamentar, novamente candidato à Câmara Federal e advogado, João Alfredo (PSOL) também se manifestou na mesma rede escrevendo: “o MST que dignificou as pessoas no campo, na pandemia, levou alento às pessoas com fome através da doação de cestas básicas. Elmano foi advogado do meu mandato e juntos militamos com o MST. Elmano deve ter orgulho de ter sido advogado do MST”, afirmou.

Também pelo Psol, a candidata Adelita Monteiro disse no twitter: “Wagner, o capitão bolsonarista, espalha fake news sobre o MST. Mas a gente já sabe que tudo isso é porque o outro lado é desespero!”.

O secretário geral do PSB no Ceará, Artur Freitas, também se manifestou contra os ataques. Disse que “o MST tem o papel histórico na luta campesina, da reforma agrária, da agricultura familiar e na segurança alimentar de milhares de brasileiros” e acrescentou “Tenho divergência com a campanha do Elmano em vários pontos, mas o fato dele ter sido advogado do MST não é demérito. Muitas vezes a campanha toma atitudes precipitadas baseadas em “gurus do marketing” que podem ser muito danosas. Vida longa e respeito ao MST!”, postou.

Em nota, o Movimento dos Sem Terra do Ceará lamentou a falta de conhecimento da Constituição Federal e das necessidade dos camponeses e camponesas do nosso estado, pelas duas campanhas. “É típico de quem não tem projeto societário nem conseguem dialogar para construí-lo coletivamente. Deveriam usar o horário eleitoral para apresentar propostas ao povo cearense, e não para atacar um movimento social que luta para melhorar a vida das pessoas e que muito tem feito pelos camponeses e camponesas em nosso Estado”, diz a nota.

O documento também traz uma breve trajetória da história e das iniciativas do Movimento, após 34 anos de lutas, conquistas e resistência no Ceará. “ O MST no Ceará conseguiu se expandir em mais de 60 municípios em todas as regiões do estado, com mais de 200 assentamentos federais e estaduais. 21 mil famílias conquistaram a tão sonhada terra para trabalhar e viver com dignidade. Conquistamos escolas de ensino médio no e do campo, cooperativas, agroindústrias, rádios comunitárias, e a formação acadêmica dos filhos e filhas de assentados e assentadas, por meio do Programa de Educação na Reforma Agrária (Pronera), dentre muitas outras conquistas”, 

A nota de repúdio também fala da distribuição de alimentos para os mais carentes durante a pandemia da Covid-19. “O MST distribuiu mais de 20 mil quentinhas para famílias necessitadas do Ceará, construímos cozinhas solidárias em Fortaleza e, no interior, além de 50 toneladas de alimentos que foram doados em todo Estado, a solidariedade é uma marca em nosso Movimento, porque nós não dividimos o que nos sobra, nós repartimos com os outros o que nós temos, e o que fizeram os que nos acusam de terroristas e tentam criminalizar nossa luta? Terrorismo e crime é deixar milhões de famílias sem terra, vagando pelos interiores e periferias, sem terra para se fixar, nem condições de produzir dignamente a sua existência e sobrevivência e contribuir para um país equânime.”

O BDF procurou a assessoria de comunicação das campanhas de Roberto Cláudio e Capitão Wagner, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Quem é o MST? 

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No total, são cerca de 450 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e organização dos trabalhadores rurais. 

Segundo informações em seu site, depois de assentadas, as famílias permanecem organizadas no Movimento, pois a conquista da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária. Como as terras desapropriadas para assentamentos normalmente possuem pouca infraestrutura, os assentados continuam a luta por saneamento, energia elétrica, acesso à educação, cultura e lazer. 

As famílias assentadas e acampadas organizam-se numa estrutura participativa e democrática para tomar as decisões em seus territórios. Um aspecto importante é que as instâncias de decisão são orientadas para garantir a participação das mulheres, sempre com dois coordenadores/as, um homem e uma mulher. Da mesma forma, isso acontece nas instâncias nacionais. O maior espaço de decisões do MST são os Congressos Nacionais que ocorrem, em média, a cada cinco anos. Além dos Congressos, a cada dois anos o MST realiza seu encontro nacional, onde são avaliadas e atualizadas as definições deliberadas no Congresso.

Saiba mais em www.mst.org.br.

Edição: Camila Garcia