Comitês Populares

Comitês Populares no PR: de casa em casa, com batucada, pro Brasil ser feliz de novo 

Famílias da periferia “sabem que o futuro vai ser melhor com Lula presidente”, diz Clesmilda de Oliveira, do MST, a partir do diálogo em comunidade de Guarapuava.
Brigada de Agitação e Propaganda de Londrina – Fotos: MST/PR 

Por Ednubia Ghisi, do MST-PR
Da Página do MST 

De casa em casa, subindo e descendo ladeira, nos bairros periféricos e nos centros das cidades, em escuta e diálogo com o povo sobre o Brasil que queremos. Por todos os cantos do Paraná, a campanha por Lula presidente ganhou vigor e energia a partir dos mais de 200 Comitês Populares, somando também da campanha por Requião governador. São coletivos formados em todo o Brasil para fortalecer a conquista eleitoral, mas com o objetivo de permanecer para além dela. 

A diversidade brotou e se espalhou com brigadas e coletivos formados nos bairros, escolas, chão de fábrica, setoriais das mulheres, da cultura e da juventude, das áreas rurais de acampamento e assentamento, das ocupações urbanas, da agricultura familiar e dos indígenas. 

Não era para menos. A participação massiva e comprometida de diferentes setores da sociedade refletem a importância das eleições deste ano, conforme define Roberto Baggio, integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da coordenação dos Comitês Populares do Paraná.

É a eleição mais importante e estratégica da história política do Brasil. A vitória do Lula é estratégica e fundamental. Será a vitória do projeto da classe trabalhadora e a derrota do projeto da extrema-direita representado pela destruição do Brasil e pela morte do povo brasileiro no governo Bolsonaro”. 

Centenas de militantes do MST de todo o estado visitaram famílias urbanas e ouviram de perto os problemas enfrentados pela população pobre das cidades. 

A integrante do MST Clesmilda de Oliveira, de 32 anos, conta o que viu em mais de 6 semanas de campanha na periferia de Guarapuava.

“O que a gente encontrou foram famílias vivendo de forma muito precária, porque o Estado nega o básico que é de direito. Muitas que não têm acesso à água potável, à energia elétrica, à alimentação, ao emprego. Muitas vezes quando vão procurar emprego são discriminadas por conta do lugar onde moram, taxadas como criminosas”. 

Clesmilda faz parte da coordenação da Brigada de Agitação e Propaganda Cacique Guairacá, formada por 35 militantes fixos, que atuou na campanha em Guarapuava. Mais de 150 camponesas e camponeses do MST fizeram parte das atividades da Brigada, muitas vezes visitando locais onde moram parentes, amigos e famílias que receberam doações de alimentos da Reforma Agrária, durante a pandemia da Covid 19. 

Em contraste com as dificuldades imensas, Clesmilda relata a solidariedade entre as famílias da periferia. “Nós temos encontrado uma união e uma unificação muito grande entre os moradores que vivem na cidade, com grande vontade de lutar e correr atrás dos seus direitos. Isso é uma coisa que eu vou levar pro resto da vida, que podem nos tirar tudo, podem nos tirar o acesso, porém, ninguém pode nos tirar o sonho de continuar lutando e poder dar uma vida melhor pros nossos filhos”.

Ações em bairros de Guarapuava – Fotos: Clesmilda Oliveira
Guarapuava – Foto: Fernando Pepes

A confiança do retorno de Lula à presidência é a esperança. “Apesar do tamanho da tragédia que se tornou esses últimos 4 anos, nós temos a esperança de viver uma prosperidade muito próxima, de forma organizada e participativa. As famílias estão muito esperançosas, e aguardando até de uma forma festiva, porque sabem que o futuro vai ser melhor com Lula presidente”, diz Clesmilda. 

Batucada e estandartes para abrir os caminhos

Bateria unidos da lona Preta, em Curitiba. Foto: Juliana Barbosa

Agitação e Propaganda Carlos Marighella percorreu a diversidade de territórios e eventos em apoio a campanha, sempre com a animação da batucada, os estandartes coloridos de fitas e chita, pirulitos e também pelas ilustrações gigantes com o rosto de Lula, Paulo Freire e Marielle Franco. 

 Ação dos Comitês Populares de Curitiba. Foto: Juliana Barbosa.

O coletivo se formou pela união de jovens do MST de diferentes regiões do Paraná e do Levante Popular da Juventude. O grupo se amplia quando a escola de samba do MST, Unidos da Lona Preta, entra em cena. Tamborins, caixas e tambores agregam músicos e militantes urbanos de outros coletivos e organizações. 

“São formas diferentes de chamar a atenção, anunciar o nosso projeto e denunciar o que está no governo. Por isso usamos as linguagens artísticas, do batuque e de toda a nossa energia”, explica um dos coordenadores da Brigada, Celio Schimit, estudante de agronomia e morador do acampamento 100% agroflorestal Padre Roque Zimmermann, em Castro. 

Comitês Populares, a Brigada de Agitação e Propaganda e Blocos de Carnaval organizaram três edições do “Carnalula”, com muita música e alegria pelo calçadão central de Curitiba. Fotos: Lizely Borges. 

Todo material foi confeccionado de forma artesanal, em oficinas que também envolveram outros comitês populares. “Os nossos ateliês populares são fundamentais, para além de garantir a produção do material em si, mas também porque a produção coletiva ajuda a dar coesão e unidade ao nosso grupo e à nossa ação. Nos formamos também fazendo”. 

Brigada de Agitação e Propaganda de Londrina – Fotos: MST/PR 

Em Londrina, segunda maior cidade do estado, o trabalho começou no dia 31 de agosto, com uma brigada de 40 pessoas. A cada semana o grupo percorreu uma região da cidade, priorizando as periferias e regiões mais pobres, além de feiras populares e comércios no centro da cidade. A brigada também fez parte e organizou atividades culturais e oficinas de comunicação, agitação e propaganda. 

Assim como em Curitiba, entre os militantes do coletivo da região Norte estão integrantes da bateria da Unidos da Lona Preta, que levam a música como forma de abrir caminhos em diversas atividades. 

“A gente está fazendo um trabalho de escuta da periferia de Londrina, de porta em porta. Nosso povo tem percorrido todos os rincões da cidade em diálogo sobre o Brasil que nós queremos”, conta Igor de Nadai, integrante da direção do MST e da coordenação da brigada. 

Os dias a fio em contato direto com a população urbana revelam que a periferia está aberta ao diálogo e muito receptiva, especialmente com a campanha do Lula. “A gente está muito surpreso. A militância nossa que está nesses locais traz a cada dia uma revelação atrás da outra, a partir da escuta dos problemas reais do povo. E isso é fundamental para que a gente consiga avançar também para depois das eleições”, garante o militante, que é acampado na comunidade Herdeiros da Luta de Porecatu.

Coletivo do MST em campanha no sudoeste do Paraná. Fotos: MST/PR

Comida boa e diálogo para “além da bolha” 

A garagem e o quintal do casal de professores Silvia e Everson Queluz se transformaram num espaço de confraternização, esperança e comida boa numa noite chuvosa de uma terça-feira do início de setembro. O casal vive em Piraquara, região metropolitana de Curitiba, e recebeu cerca de 60 pessoas numa das edições do “Arroz com Lula”, organizadas pelo Coletivo Marmitas, do qual Silvia faz parte. 

Estamos aqui recebendo essas pessoas maravilhosas que vieram confraternizar em torno da candidatura do Lula e Requião, e de construir um país melhor, com esperança. […] É um prazer receber as pessoas na nossa casa e confraternizar em torno dessa esperança, dessa força de transformação nesse país”, disse a professora. 

A série de eventos faz parte das ações de campanha organizadas pelo Coletivo Marmitas da Terra, coordenado pelo MST, em Curitiba. Ao todo, foram 6 edições. Em comum, todas as atividades serviram, a preços populares, o prato preparado com arroz integral orgânico do MST e o fruto do mar que leva o nome do maior líder popular do Brasil. O preparo das refeições ficou por conta de chefes de cozinha amigas e amigos do MST, com participação de militantes do Mamitas da Terra. 

Foto: Joka Madruga

Loucas pra ver o Brasil feliz de novo 

As mulheres “Loukas por Lula” viraram personagens famosas na campanha em Curitiba e região, e são reconhecidas de longe, por suas camisetas vermelhas, toalhas do Lula, adereços e muita irreverência. A marca do coletivo é a alegria e a disposição em dialogar de diferentes formas com a população. 

Comitê Popular Loukas Por Lula. Fotos: Arquivo MST no Paraná.

“Somos um banner ambulante”, brinca Mirian do Nascimento, uma das integrantes do coletivo Loukas por Lula, formado por mulheres que se conheceram na Vigília Lula Livre e desde então seguem unidas pelo ideário que Lula representa. “Quando apareceu a oportunidade de criar os comitês populares, nós não tivemos dúvida, já criamos o nosso”, relata Miriam, que é servidora pública aposentada.  

O nome do grupo traduz a compreensão política sobre o papel de Lula na conjuntura atual: “A gente tem no coração que nós somos loucas, de fato, pela democracia, pela civilidade, pelo respeito, por tudo que o Lula representa, pelas ideias do Lula e pelas ideias de um Brasil melhor. A gente está louca pra ser feliz de novo, e isso vai ser possível com Lula na presidência”, explica. 

Praticamente em todos os dias de campanha, o coletivo mobilizou ou se somou em ações nas ruas, shoppings, bares, na tradicional feira do Largo da Ordem e, no Mercado Municipal. Até a orla da praia de Matinhos, litoral do estado, se avermelhou com a mobilização feita em conjunto com a Brigada de Agitação Carlos Marighella e Comitês locais. 

Rosemery Marcengo, bancária e também integrante do Comitê, enfatiza o papel das ações de visibilidade em locais com grande concentração de trabalhadores: “O que a gente sente é um retorno muito bom da população, desde a hora de botar uma camiseta e ir ao shopping da galera chique aqui de Curitiba. Isso tem sido bom porque a gente sempre recebe apoio dos trabalhadores em todos os locais por onde passamos, que a gente sabe que muitas vezes são oprimidos, são tratados com indiferença”. 

Do “Lula Livre” a “Lula presidente”

Vigília Lula Livre em 2018, no Paraná. Foto: Ricardo Stuckert

O Paraná é o estado berço da operação Lava Jato, que protagonizou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por 580 dias e tirou o primeiro colocado nas pesquisas para a eleição presidencial do páreo da disputa de 2018. Durante a prisão, a Vigília Lula Livre se transformou em um polo de resistência pela democracia, reconhecido mundialmente. 

Entre as milhares de pessoas que tornaram a Vigília possível estavam as irmãs Fernandes: Angela, cabeleireira; Izabel, metalúrgica aposentada; e Lúcia, também trabalhadora aposentada, ambas moradoras do bairro Sítio Cercado, região sul de Curitiba. Para além da atuação quase diária na Vigília, as irmãs se juntaram a outros militantes para formar o Comitê Popular da Praça Tiradentes, que neste ano também se somou com força nas ações de campanha, em diálogo com a população que circula pelo centro de Curitiba. 

Foto: MST/PR
Foto: MST/PR

“Nós estivemos na Vigília Lula Livre por 580 dias, lutando pela liberdade do presidente Lula e em favor da democracia. É muito importante para nós ter Lula como candidato, e que está liderando em primeiro lugar as pesquisas das eleições. Nós precisamos do Lula, sim, para que a gente possa derrotar esse governo do jeito que está, que vem trazendo muito ódio e contra democracia”, ressalta Angela. 

Menos de três anos depois da libertação de Lula, e de sua absolvição em todos os processos judiciais, a eleição fará o Brasil se reencontrar com a democracia, como enfatiza Roberto Baggio, do MST: “Nós temos todas as condições políticas para vencer as eleições, pois o nosso projeto atende as necessidades das massas. Lula está bem preparado e tem experiência para comandar esse processo de mudança, e temos também um grande bloco de forças sociais, populares e políticas para sustentar as mudanças que o Brasil precisa”.

*Editado por Fernanda Alcântara