MST nas Eleições
Nem pessimistas, nem com os braços cruzados: 1º turno das Eleições 2022 e projeções
Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
As eleições presidenciais deste ano são estratégicas para a reorganização da esquerda, no ascenso da luta de massa e na posição do Brasil no continente. E a participação massiva e comprometida de diferentes setores da sociedade refletem isso.
Mas até chegar na eleição de sete candidaturas em cargos estaduais e federais do MST e os mais de 57 milhões de votos em Lula (48,43% dos votos válidos), foram muitos os caminhos e trincheiras. As principais estavam na construção de comitês populares para debater agendas que devem constar no programa do governo Lula, e no fortalecimento de candidaturas do MST e apoiadas pelo Movimento.
A partir dos Comitês Populares de Luta e diferentes frentes, brigadas e coletivos, espalhamos esperança. Ocupamos bairros, escolas, chão de fábrica, áreas rurais de acampamento e assentamento, ocupações urbanas, da agricultura familiar e dos indígenas. O resultado, segundo João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, foi uma margem de 6 milhões de votos em Lula contra o o Bolsonaro. “Isso nos dá o direito de ficarmos nem pessimistas, nem com os braços cruzados.”
“Também tivemos boas notícias nas eleições para governadores, em especial do nosso querido Nordeste, onde liquidamos a fatura já no primeiro turno com governadores aguerridos. Não quero citar a todos, mas nós ficamos muito felizes com a eleição em primeiro turno do nosso querido Elmano Freitas (PT), que numa campanha apoteótica, com a participação das massas nas ruas, derrotamos os bolsonaristas e as manipulações que o Ciro tinha feito lá nas candidaturas do Estado”, afirmou Stedile em sua análise.
Pela democracia, contra a fome
O MST ocupou com força o cenário da política eleitoral com candidatos, construindo Comitês Populares, ajudando na campanha do presidente Lula e apontando desafios significativos na organização dos trabalhadores e das trabalhadoras.
A começar na promoção entre a sua militância pela assinatura da “Carta aos Brasileiros”, documento elaborado um grupo de ex-alunos da Faculdade que faz referência aos 45 anos da “Carta aos Brasileiros”, de 1977, denunciando na época a ilegitimidade do governo militar. A carta foi considerada uma resposta às ameaças golpistas de Bolsonaro. “São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, diz um trecho do documento.
Também em agosto, mulheres de todo o país estiveram nas ruas pela democracia, chamando a atenção para o fato das mulheres serem as mais prejudicadas pelo governo Bolsonaro. Em 2022, o governo destinou o menor recurso dos últimos quatro anos para as políticas de combate à violência contra a mulher. O Atlas da Violência 2021, do Ipea, apontou que mais de 66% das vítimas de feminicídio em todo país são mulheres negras e, de 2016 para cá, o feminicídio aumentou quase 50%, segundo dados do CNJ.
Entre as políticas de extermínio da população brasileira, ao tratamento de Bolsonaro em relação ao aumento da fome no Brasil no último período. Hoje 33,1 milhões de pessoas passam fome no Brasil, ou seja, não tem o que comer e mais da metade da população está submetida a algum tipo de insegurança alimentar, segundo dados são da Rede Penssan.
Seguiremos por esse caminho insano? Do neofascismo que pode nos levar a aprofundar a crise econômica, a crise social, uma verdadeira tragédia social? Ou vamos abrir a porta para traçar um novo caminho de futuro na construção de um projeto popular para o país”, diz Stedile.
Por isso, em sua 28ª edição, o tradicional Grito dos Excluídos e das Excluídas levou milhares de pessoas às ruas em diversas cidades pelo país para se contrapor ao projeto de fome e aos eventos festivos de independência. Só em São Paulo, por exemplo, foram distribuídos o café da manhã para 5 mil pessoas na Praça da Sé. A ação foi realizada em conjunto com pastorais, sindicatos, movimentos de moradia, entre outros, e doou café, suco, pão, frutas e capas de chuva. A atividade também integra as ações da Campanha Eu Voto Contra a Fome e Sede, que conta com alimentos produzidos pelas cooperativas do MST e doações das Cozinhas Solidárias.
Em Setembro, Lula participou de um encontro com 1.500 pessoas de cooperativas de todo o país, em São Paulo, onde foram entregues propostas para uma política de desenvolvimento. O documento foi voltado para a criação de empregos, geração de renda e produção para o mercado interno, especialmente de alimentos, e apresentar os caminhos para o combate à fome e geração de emprego e renda aos brasileiros.
Mas arte e cultura são raios de esperança tecendo o amanhã. E fazendo parte da agenda do Mutirão dos Comitês Populares, o Festival de Política e Cultura “A esperança vai vencer o medo” foi um marco para aqueles que encararam a batalha contra o discurso de ódio, reunindo centenas de pessoas para atos a favor da vida, da democracia e dos direitos fundamentais, que vem sendo retirados nos últimos anos.
Continuar com estas ações fazem parte do planejamento estratégico do campo progressista, segundo Stedile. “Nós temos que organizar as brigadas de agitação e propaganda, juntar sobretudo a juventude, os militantes, e ir para a rua com bandeiras, com panfletos, com atividades culturais. Sobretudo naqueles locais em que se concentra a população, seja de um ponto de ônibus, seja do metrô, seja do trem, enfim, para que a forma mística da música, da cultura, da bandeira, dialogue com a população”.
Bancada da Reforma Agrária
Nestas eleições de 2022, o MST também pensou como mudar esta realidade a partir do legislativo, lançando 15 candidaturas próprias. Embora a disputa institucional não seja inédita para o movimento, é a primeira vez que ela acontece com essa quantidade e de forma coordenada. Foi lançada uma plataforma online (http://doemst.com.br/), com o objetivo de apoiar e financiar as campanhas do Movimento em todo o Brasil. Na página, era possível escolher uma ou mais candidaturas e realizar uma doação diretamente para a campanha.
Para João Paulo Rodrigues e Alexandre Conceição, também da direção nacional do MST, a escolha do Movimento de dar mais peso para a disputa institucional contribui para a eleição do candidato petista à presidência e também para “a governabilidade de Luiz Inácio Lula da Silva”. Este ano, o Movimento fez história ao eleger sete candidaturas em cargos de deputados/as estaduais e federais, nos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro e Sergipe, além de levar outras duas candidaturas no Rio Grande do Sul.
Stedile faz um balanço positivo sobre esta estratégia. “O MST sempre participou das eleições e sempre orientamos nossa militância a votar em candidaturas de esquerda. Em todos os estados do Brasil, nós apoiamos alguém de esquerda para deputado federal ou deputado estadual”, e completa: “olhando então para o mapa das eleições parlamentares em todo o Brasil, fomos muito bem nas eleições e conseguimos eleger companheiros e companheiras, valorosos lutadores, defensores da classe trabalhadora, em que a militância do MST confiou o seu voto”.
Nosso balanço dos parlamentares comprometidos com a classe trabalhadora, com a esquerda e com a Reforma Agrária Popular é muito positivo.
Eleições presidenciais
Porém, ainda que o balanço das eleições de domingo seja positivo, sabemos que o resultado foi recebido com surpresa por parte dos eleitores e da imprensa, uma vez que Bolsonaro teve um percentual de votos superior ao que previam as pesquisas e a extrema direita teve um desempenho marcante também para o Legislativo.
“Percebo por aí que muita gente estava entusiasmada para a gente ganhar as eleições no primeiro turno, e aí alguns ficaram surpresos. Mas faltou apenas 1,7 percentual dos votos para o Lula. Portanto, está dentro do que nós imaginávamos que seria possível ganhar no primeiro turno. O principal é que ele já tirou uma margem de 6 milhões de votos”, lembra Stedile.
Por isso, estou convencido por todas as análises, e olhando o retrato eleitoral, que o Lula será eleito o nosso próximo presidente da República.“
Para o próximo período, Stedile aponta para os debates e ações que o MST deve seguir para os próximos dias de campanha. “Temos que debater de nossos coletivos para reorganizar o nosso time, entrar em campo e garantir uma vitória muito maior do que os 6 milhões no primeiro turno. Para isso, é preciso que possamos ajudar a articular toda a militância do MST, dos movimentos populares, dos partidos de esquerda”.
A prioridade do momento é o trabalho de base. “Ir de casa em casa, sobretudo nas periferias das grandes cidades, das médias cidades. Conversar com as pessoas, entregar material, mostrar a eles que não é uma eleição qualquer, não é Bolsonaro contra o Lula: é a disputa de dois projetos para o futuro do país. Estamos em uma encruzilhada: ou nós continuamos rumo ao precipício, ou nós vamos desenhar um novo caminho para o nosso país. Essa explicação é que nós temos que dar casa em casa para que as pessoas entendam o que está em jogo.”
A estrutura já está montada. Há mais de 7.000 comitês populares organizados em todo o país, além das diferentes formas de organização da vida social em que o MST faz parte. Por isso, acima de tudo, é preciso pensar nos próximos dias como uma jornada empolgante, que convoque as pessoas à luta por mais votos. A batalha que se aproxima será dura, mas a luta sempre é e seguimos a esperançar.
Confira o vídeo completo da análise de Stedile:
*Editado por Wesley Lima