Eleições 2022

“Quero governar esse país democraticamente, dando prioridade aos problemas do povo”, afirma Lula

Confira balanço do debate com os candidatos do segundo turno das eleições presidenciais, realizado no último domingo (16)
Lula no debate da Band

Da Página do MST

“Respeito ao homem do campo”. A frase, defendida por Bolsonaro em seus minutos finais, foi apenas uma das muitas mentiras de Bolsonaro no debate deste fim de semana, na Band. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu categoricamente pontos como preservação ambiental e a educação pública, Jair Bolsonaro destilou notícias faltas e distorceu os dados de seu governo.

O debate, realizado neste último domingo (16), foi o primeiro encontro entre os dois candidatos do 2º turno das eleições de 2022, promovido em conjunto com a TV Bandeirantes, TV Cultura, UOL e Folha de S.Paulo. Entre os temas em debate, há um destaque para o desmatamento da Amazônia, que Lula vem trazendo para o debate público e reafirmando a defesa do meio ambiente e a necessidade do fortalecimento de aparelhos públicos de fiscalização.

Vocês estão brincando de desmatar, vocês estão brincando de abrir cerca, vocês estão brincando de derrubar árvore. Nós vamos ganhar as eleições para poder cuidar da Amazônia, e não permitir que haja invasão em terra indígena, garimpo ilegal, e muito menos alguém querer plantar milho, soja ou algum outro produto no lugar que não se pode plantar”, afirmou Lula.

Programas sociais

Em relação ao Bolsa Família, Lula relembrou que esse foi o maior programa de inclusão social do seu governo, com vários programas sociais, que ajudaram a melhorar a vida das pessoas da agricultura familiar e camponesa e de todos os/as trabalhadores/as do país, além do aumento do salário mínimo, que no governo Bolsonaro está cada dia mais desvalorizado.

O nosso programa de inclusão social não era só o Bolsa Família. O nosso programa de inclusão social foi a maior política de distribuição de renda que esse país já conheceu para o pobre, porque ajuda ao pequeno produtor rural, era 1,4 milhão cisternas que nós fizemos para o Nordeste, era o PNAE para levar comida para as crianças mais pobres, e a gente comprava do pequeno produtor. Além do aumento do salário mínimo de 74%“, declarou Lula.

Educação e cidadania

Em relação à educação, logo no início do debate Lula questionou Bolsonaro sobre quantas universidades e escolas técnicas ele havia criado em seu governo, mas o capitão não respondeu a pergunta, mesmo sendo questionado duas vezes, preferindo iniciar ataques e mentiras. Lula então relembrou ao eleitor que Bolsonaro só criou uma universidade no Tocantins, que já havia sido aprovada pela presidenta Dilma, e comentou sobre os investimentos na área da educação durante seu governo.

Nós fizemos 18 universidades novas, 178 campus, além do Prouni e do Fies. O Fies a pessoa não tinha que pagar enquanto estava estudando. Eu não vou perguntar de universidade, porque parece que o senhor não sabe. Parece que não sabe que não fez nenhuma.”

E ao ser perguntado sobre qual é seu projeto para a educação brasileira, Lula respondeu que assim que for eleito, já em janeiro do próximo ano, pretende se reunir com governadores e prefeitos para discutir formas de como recuperar os conteúdos perdidos pelos estudantes mais pobres, que durante a pandemia não tiveram acesso à internet para assistir as aulas de forma on-line.

A primeira reunião que eu quero fazer na primeira semana de janeiro são com os governadores eleitos dos 27 estados, e também com os prefeitos das capitais para começar uma discussão de como recuperar esses alunos que estão atrasados. Esses alunos que ficaram mais analfabetos do que já eram, porque não tiveram sequer um auxílio de um computador, da internet para poder estudar. Ou seja, dois milhões de crianças estão mais atrasadas do que os mais ricos, e nós precisamos recuperar. E o Governo Federal, através do Ministério da Educação, vai compartilhar com os governadores e com os prefeitos da responsabilidade de recuperar essas aulas para que esses meninos possam aprender mais. Nós vamos ter que fazer um verdadeiro mutirão, convidar professores, quem sabe trabalhar de domingo, quem sabe trabalhar de sábado para que a gente possa fazer com que essa meninada consiga aprender aquilo que deixaram de aprender durante a pandemia.”

Pandemia

Logo no primeiro bloco, Lula questionou Bolsonaro sobre a negação da pandemia e o atraso na compra da vacina da Covid-19 pelo país e por que o Brasil teve tantas mortes na pandemia?

O Brasil tem 3% da população mundial. E o Brasil teve 11% das mortes da pandemia no mundo. Por que houve tanta demora para se comprar vacina? O senhor não se sente responsável? O senhor não carrega nas costas um pouco do sofrimento dos brasileiros de ser responsável pelo menos por 400 mil mortes nesse país?“, afirmou Lula.

O presidente Lula, então denunciou o genocídio praticado por Bolsonaro, que ao atrasar a vacina, debochar das pessoas que sofriam com a doença e perderam entes queridos, além da tentativa de superfaturar a vacina e o desvio de dinheiro público, comprovado pela CPI da Covid, é responsável por pelo menos por 400 mil mortes, que poderiam ter sido evitadas.

“O senhor atrasou a vacina, depois tendo um processo inclusive de corrupção definido e denunciado pela CPI. E o fato concreto é que a sua negligência fez com que 680 mil pessoas morressem quando mais da metade poderia ter sido salva. A verdade é que o senhor não cuidou, debochou, riu, dizia que quem tomava vacina virava jacaré, virava homossexual, que não podia tomar vacina. O senhor gozou das pessoas, imitou as pessoas morrendo afogada por falta de oxigênio em Manaus. Ou seja, não tem na história de nenhum governo do mundo alguém que brincou com a pandemia e com a morte como você brincou. Brincou. É só mostrar na televisão. Não vai dizer que é fake news, não. Porque você aparece na televisão rindo, imitando pessoas sem ar. Você aparece dizendo que quem tomar vacina vai pegar… virou remédio, você virou vendedor de um remédio que não servia para nada. Você divulgou um remédio que a ciência negou o tempo inteiro. Você não respeitou o Butantan, você não respeitou a Fiocruz que são laboratórios de excelência nesse país que poderia ter lhe ajudado. Se tivesse humildade, você poderia ter resolvido parte do problema. Mas certamente você não quis resolver porque você não quis entender o sofrimento do povo.”

Enquanto Bolsonaro apregoa na imprensa que as crianças não foram afetadas pela Covid-19, Lula relembrou que chega a 2 mil o número de mortes de crianças pelo vírus no Brasil, o que poderia ter sido evitado com a vacinação. E ainda relembrou, que Bolsonaro em nenhum momento mostrou sensibilidade com nenhuma família brasileira que teve pessoas mortas na pandemia.

O senhor não se dignou a visitar uma família que teve alguém que morreu de Covid, e depois, para mostrar que é bonzinho, tentou ir no enterro da rainha da Inglaterra, quando poderia ter visitado centenas de pessoas que morreram do Covid aqui… diz que não morreu nenhuma criança; morreu 2.000 crianças de Covid. Mas diz que não morreu, porque o senhor não queria acreditar na Covid. Era preciso continuar mentindo sobre a Covid, era preciso continuar desacreditando, e eu sei o que é que pensa o povo que perdeu algum ente querido.”

Lula também explicou que o Brasil, antes do Governo Bolsonaro, era referência no mundo pelas campanhas de vacinação, responsáveis ela erradicação de várias doenças no país, e citou o exemplo da vacinação contra a gripe H1N1 no seu governo.

“Em 2010, teve a gripe H1N1. Em três meses, nós vacinamos 80 milhões de pessoas. Em três meses. Porque o Brasil é um país que tem expertise em vacinação. Aliás, o Brasil é exemplo para o mundo em vacinação. O Brasil vacilou quando teve um presidente que não cuidou e que não foi responsável, que brincava e que não acreditava na vacina. O senhor carrega nas costas um peso de pelo menos 400 mil pessoas que morreu por conta da negligência e o negacionismo da vacina”, ensinou Lula.

Preconceito com a população pobre

Bolsonaro ainda mostrou seu desprezo com os moradores das favelas no país, ao chamar as pessoas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro de “traficantes e bandidos”. E ao se referir à visita de Lula no Complexo na última quarta-feira (12), o capitão também errou o nome do local. “Seu Lula, amizade com bandido. Eu conheço o Rio de Janeiro, o senhor esteve atualmente no Complexo do Salgueiro. Não tinha nenhum policial ao seu lado. Só traficante“, esbravejou Bolsonaro sobre os moradores que participaram da visita.

Lula respondeu que tem orgulho de ser o único Presidente da República com coragem de entrar na favela e falar com as pessoas, que em sua maioria são trabalhadores/as que batalham todos os dias para sobreviver e sustentar suas famílias.

Sabe o que eu tenho orgulho? É que eu sou o único candidato à Presidente da República que tenho coragem de entrar numa favela. Sem colete de segurança. E já não é agora, quando eu era Presidente, eu entrava no Rio de Janeiro, as pessoas falavam “vai com cuidado porque o Bolsonaro é amigo dos milicianos. Você vai com cuidado”. Eu ia, sabe por quê? Eu acredito no povo. E eu fui numa comunidade no Complexo do Alemão, povo extraordinário, trabalhador, fizemos uma passeata extraordinária e exuberante, e ali não tinha bandido na passeata. Ali tinha mulheres e homens que trabalham, que levantam 5 horas da manhã para trabalhar. (…) Os grandes bandidos estão no lugar dos ricos. Os pobres são trabalhadores, e eu vou voltar no Complexo do Alemão, porque não foram os presos que votaram em mim. Foi o povo brasileiro.

Água para o Nordeste

O presidente Lula também rebateu Bolsonaro sobre a obra da transposição do Rio São Francisco do seu governo no Nordeste.

Todo mundo sabe que quem fez a transposição do São Francisco foi esse que vos fala, porque sou nordestino, já tive experiência de carregar pau d’água e lata d’água na cabeça. Portanto, não minta.

E completou, explicando que o que Bolsonaro fez foi terminar menos de 4% das obras e inaugurar alguns trechos da transposição.

Eu fiz 88% das obras do São Francisco. Ele fez 3,5%. Da mesma forma que ele fala que fez ferrovia. Da mesma forma que fala que fez a BR-163. Tudo feito pelo Governo do PT. Mais de 80% das obras feitas. E ele vai lá, termina. Você acha que alguém acredita? Acha que o nordestino que está vendo a gente na televisão acredita que foi você que levou água? Que você fez ferrovia? Cadê um projeto seu?”

Defesa das empresas públicas

Ao ser perguntado pelo jornalista Rodolfo Schneider sobre privatizações, Lula relembrou que as privatizações feitas por Bolsonaro nas refinarias da Petrobrás tem deixado o país mais dependente de importações, o que não ocorria mais nos governos do PT, que tem impacto negativo, aumentando o preço dos combustíveis e foi categórico ao defender a importância das empresas públicas para a economia do país e de que privatizar não é solução para nada.

Primeiro porque esse país hoje só refina 80% da gasolina que usa. A gente refinava 100%. Refinava tudo que a gente consumia. Esse país parou de refinar, portanto, a gente tem hoje, com a privatização da BR, dizendo que a BR tinha monopólio, era preciso ter mais empresa concorrendo que iria baixar o preço. Vendeu-se a BR (…) e hoje nós temos 392 empresas importando gasolina dos Estados Unidos sem pagar imposto e com preço dolarizado. Olha, na verdade, o preço não tem que ser dolarizado porque a gente faz a exploração em real, a gente paga o salário do pessoal em real, e a gente fazia as próprias plataformas e a sonda aqui, coisa que não faz mais. Eu acredito piamente que eu sou contra a privatização. Acho que privatizar a Petrobras é uma loucura, o governo dele acabou de privatizar os gasodutos e hoje a gente paga R$ 3 bilhões por ano de aluguel do gasoduto. Ou seja, em 10 anos já se consumiu o dinheiro que pegou e mesmo assim a gente vai continuar pagando R$ 3 milhões. Eu, sinceramente, acho que privatizar não é solução para nada.

Orçamento secreto

Em relação ao orçamento secreto, ao responder a pergunta do jornalista Josias de Sousa, Bolsonaro admitiu a prática, que já é considera o maior esquema de corrupção da história para comprar deputados, ao dizer que “eu jamais daria dinheiro para essa turma toda aqui se não estivessem votando comigo, não é? “.

Já Lula apontou como saída, assim que for eleito, a retomada do orçamento participativo com a participação da população, uma prática histórica realizada pelo PT em algumas prefeituras do país, para tentar barrar o sequestro de recursos públicos pelo Centrão e garantir a participação da população nas escolhas de como e onde investir esses recursos públicos.

Vou tentar confrontar essa história do orçamento secreto, eu vou tentar criar um orçamento participativo, que foi uma coisa que nós criamos nos Estados brasileiros. (…) A ONU pediu para que a gente, sabe, fosse para o mundo divulgar o orçamento participativo. Agora, com a internet, nós vamos tentar fazer um orçamento participativo: nós vamos fazer. (…) Eu vou ganhar as eleições, vou tomar posse, o orçamento estará pronto. (…) Mas nós vamos pegar o orçamento e vamos mandar para o povo dar opinião para saber o que ele quer efetivamente que seja feito para ver se a gente consegue diminuir o poder de sequestro que o Centrão fez no Presidente Bolsonaro“, concluiu Lula.