Produção de Alimentos
Solidariedade é o princípio que une o campo e a cidade, em Plantio Solidário das Minas Gerais
Por Cris Schittini e Michelle Capuchinho
Da Página do MST
No último sábado, dia 19 de novembro foi realizado o encontro das famílias e voluntários do plantio solidário, uma atividade de fechamento de quase um ano de muito trabalho que envolveu 200 pessoas, mais de 15 organizações, 50 famílias de cinco territórios diferentes de Juiz de Fora.
Nesse encontro foi debatido temas como a fome no Brasil e as estratégias de enfrentamento popular para ela, também foram levantadas propostas para serem entregues ao novo governo eleito pelo povo. Um momento de muita troca e compartilhamento, foram doados 300 kg de alimentos, resultado do trabalho realizado ao longo desse ano. Ainda como destaque esse encontro, aconteceu nas vésperas do dia 20 de novembro, o dia da consciência negra.
Quando falamos de fome e pobreza é fundamental falar que a fome tem cor no Brasil e também tem gênero. A maioria das famílias que se envolveram no projeto são chefiadas por mulheres negras e que enfrentam todos os desafios diários para cuidar de suas famílias e sustentar seus filhos, sendo essa questão do racismo estrutural um dos temas mais presentes em nosso encontro.
O início de tudo
As primeiras reuniões de organização do plantio solidário aconteceram em março de 2022, em que foram convidadas diversos coletivos, instituições, entidades, pessoas públicas etc., com a intenção de construir coletivamente o Plantio Solidário, deixando claro que um dos objetivos era também o de formar sujeitos críticos e agroecológicos.
No decorrer desses quase um ano de projeto fizemos: campanha de arrecadação financeira, plantamos 3.000 m² quadrados, mobilizamos 500 voluntários e envolvemos mais de 50 famílias de diferentes territórios urbanos, e doamos à população 500kg de alimentos agroecológicos e mais 500 kg de alimentos não perecíveis.
O MST da Zona da Mata de Minas Gerais percebeu a necessidade de lutar contra essa situação que nega o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), direito este que consta na Constituição de 1988, no artigo VI. Por saber que o DHAA, pode ser compreendido como um alimento agroecológico e que perpassa pela Reforma Agrária Popular, foi projetado, dentro do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. O Plantio Solidário é um projeto, que já estava sendo implementado em outros assentamentos e acampamentos do MST em Minas Gerais.
Vivemos um momento histórico no qual as contradições do capital nos colocam desafios cada vez mais importante na luta de classes e na construção do projeto popular para o nosso país. O Brasil havia saído do Mapa da Fome em 2014, mas a partir do golpe dado a nossa presidente legitimamente eleita e às várias ações de retirada de direitos, como a reforma trabalhista, cortes na educação, saúde e ataques contra o processo construído em torno das políticas voltadas para garantir a segurança alimentar, nossas conquistas começam a retroceder.
A partir de janeiro de 2019, o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional passou a ser desmontado, em 2020 fomos atravessados/as pela pandemia da COVID-19, que nos levou em 2022 a marca de 33 milhões de brasileiros/as com FOME, em que a insegurança alimentar grave é uma forma de ocultar a gravidade da situação.
Nesse sentido é central os movimentos sociais apontarem caminhos e possibilidades para a superação do modelo hegemônico de produção do agronegócio e de todo o sistema agroalimentar hegemônico. Assim como pensar formas de (re)existir às consequências causadas no campo e na cidade. Esse modelo, que produz miséria, envenena as pessoas e ambientes, privatiza e explora de forma desmedida os bens comuns e comete grandes crimes ambientais, é antagônico a um projeto de país que visa a soberania e a construção de condições de vida digna para toda a população.
Sabemos que um dos caminhos para esse enfrentamento perpassa a construção de ações entre o campo e a cidade, que fomentem a solidariedade como um valor e um princípio. Com base na agroecologia, questão central para o programa de Reforma Agrária Popular, partimos da cooperação, participação e protagonismo popular, com objetivo de recriar outras formas de relação com a natureza e entre nós, combatendo todas as formas de violência e exploração, a fim de construir uma nova sociabilidade e racionalidade.
São muitos os frutos que estão sendo colhidos e celebrados, principalmente no que tange novas formas de resistir e (re)existir, nos fortalecendo para continuar a luta no ano que se segue. Pois, 2022 foi o ano de esperançar e fortalecer a articulação entre o campo e a cidade em torno de nosso projeto de Reforma Agrária Popular.
*Editado por Solange Engelmann