Agrotóxicos no Brasil

Relatório da Abiquim revela ganhos exorbitantes e alta dependência externa no mercado agroquímico brasileiro

Nos últimos 26 anos, a média de crescimento da indústria de agrotóxicos no Brasil foi de 9,7% ao ano e do setor de fertilizantes de 9,9% ao ano; crescimento não possui paralelo com nenhum país do mundo

Por Alan Tygel
Da Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Entra ano sai ano, governos entram e saem crises abalam a economia, mas uma coisa nunca muda: a indústria de agrotóxicos sempre aumenta seus ganhos no Brasil. Este é um dos destaques do relatório anual apresentado pela Abiquim, associação que reúne as empresas do ramo químico no Brasil.

A série histórica compilada pela entidade mostra um desempenho impressionante: de 1996 a 2022, em apenas 4 anos o faturamento da indústria de agrotóxicos no Brasil não subiu. A média anual de crescimento ao longo destes 26 anos é de impressionantes 9,7% ao ano. Os outros segmentos da indústria química tiveram crescimento anual no mesmo período bem menor, entre 2,6% e 5,9%. Há apenas uma exceção: o setor de fertilizantes, que supera os agrotóxicos nessa série, com uma média de 9,9% ao ano.

Esse crescimento não possui paralelo em nenhum país do mundo. Desde 1996, a taxa de crescimento do PIB nunca superou os 8%, tendo sido maior do que 5% em apenas 3 anos. A área plantada de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, que juntas respondem por 84% do uso de agrotóxicos no Brasil, cresceu apenas 3,68% ao ano de 1996 a 2021. Olhando a quantidade produzida, a taxa foi ainda menor, de 2,24% ao ano para as mesmas culturas.

Ou seja, nada justifica um crescimento de 10% ao ano ao longo dos últimos 26 anos que não seja a implementação no Brasil, no mesmo período, de um modelo agrícola projetado somente para beneficiar as transnacionais agroquímicas, em especial do ramo de agrotóxicos e fertilizantes quimicos.

O relatório mostra ainda que este modelo do agronegócio, possui ainda uma altíssima dependência externa. No caso dos fertilizantes químicos, das quase 42 milhões de toneladas vendidas em 2022, nada menos do que 84% corresponde a produtos importados. Para os agrotóxicos, o relatório mostra que foram importados U$ 6,2 bilhões, frente a um faturamento anual de U$ 14,9 bilhões, o que representa 42% do total vendido aos fazendeiros.

Por outro lado, os dados do Ibama de 2020 mostram quem 77% dos produtos técnicos (insumos para a produção do agrotóxico vendido no mercado) utilizados no Brasil são importados. A pandemia da Covid19 demonstrou a fragilidade das cadeias de suprimento globais, e como essa dependência facilmente se transforma em desabastecimento e inflação.

O grau de profundidade da dependência, contudo vai além. Mesmo no caso dos produtos fabricados no Brasil, o lucro não fica por aqui. As campeãs do mercado de fertilizantes são Mosaic (EUA) e Yara (Noruega). No caso dos agrotóxicos, as velhas conhecidas BASF (Alemanha), Syngenta (China), Bayer (Alemanha), Adama (Holanda), DowDupont (EUA), entre outras.

Este é o agronegócio: um modelo agrícola onde os maiores custos de produção são agrotóxicos e fertilizantes, que são importados ou fabricados por empresas estrangeiras e cuja produção das commodities agricolas são  também controladas  pelas grandes empresas transnacionais: ADM, Bunge, Cargill, Cofco e Dreyfus.

As consequências?   O Mercado de agrotóxicos e fertilizantes crescendo 4 vezes mais ao ano do que a produção agrícola, lucros bilionários, metade da população sem se alimentar de forma adequada e 33 milhões de pessoas passando fome. E o aumento da contaminação das aguas e dos alimentos por glifosato!

O presidente Lula foi eleito tendo como prioridade número 1 enfrentar o problema da fome. Os dados apresentados aqui são apenas mais uma prova de algo que já falamos há tempos: este problema não será resolvido pelo agronegócio. 

Somente uma reforma agrária popular e políticas de  incentivo e proteção à agricultura familiar pode garantir terra e condições adequadas ao aumento da produção de alimentos pelas famílias que vivem no campo, como camponeses, quilombolas, indígenas e a todos os povos do campo, floresta e águas.   

As  primeiras medidas  do novo governo devem ter um caráter de emergência, para construir políticas de mudanças estruturais de nossa produção, com uma forte transição para  a agroecologia , defesa da natureza, das aguas e da biodiversidade.

A bancada ruralista sempre atuou e sempre atuará para alimentar a Bayer e suas parceiras. Confiamos que, a partir de primeiro de janeiro, se alimente com comida saudável o povo o que tem fome.