Internacionalismo

Intercâmbio na França reafirma o Internacionalismo e a solidariedade entre os povos

Dois jovens Sem Terra participam de vivências no país até o fevereiro de 2023
Debate em Dieulefit. Foto: MST

Da Página do MST

Desde o dia 5 de novembro, dois militantes Sem Terra desembarcaram na França para participar de um intercâmbio construído pelo Comitê de Amigos do Movimento Sem Terra no país. O comitê existe há mais de 20 anos e tem desenvolvido iniciativas de solidariedade com a luta do MST no Brasil, além de fortalecer articulações com movimentos e organizações sociais.

O Intercâmbio tem três grandes objetivos. O primeiro é garantir a construção de espaços de estudos sobre a questão agrária francesa, assim como os desafios e perspectivas do acesso à terra e a produção de alimentos orgânicos no país. O segundo objetivo diz respeito ao processo de luta social protagonizado pelos franceses nos últimos anos. A ideia é que durante a vivência na França seja possível conhecer de perto algumas iniciativas de organização dos trabalhadores, a partir do processo sindical, feminista e das lutas antirracistas ou contra a LGBTQIAP+fobia.

Por fim, a experiência na França tem dialogado sobre a realidade brasileira, as principais lutas construídas ao longo da história e os principais desafios postos frente as últimas conquistas eleitorais.

Ao todo o intercâmbio acontecerá em três meses e, até o momento, 1 mês e um pouco mais de 15 dias de atividades e encontros já foram realizados em distintas regiões do país. Até o momento, Jeisse Carvalho, do Coletivo de Juventude do MST, e Wesley Lima, da direção nacional do Movimento, visitaram 11 cidades e territórios e participaram de 70 atividades em todo o país. A agenda está fechada até o dia 2 de fevereiro de 2023, quando os militantes retornam para o Brasil.

“O intercâmbio tem nos permitido visitar e conhecer realidades diferentes, porém com similaridades ao que temos no Brasil, no ponto de vista, as contradições do capital, dos desafios impostos ao processo de organização popular, e claro, o papel da político que a produção de alimentos cumpre frente ao crescimento de uma produção com veneno, exploração do trabalho e desigualdades sociais”, explica Carvalho.

Produção de alimentos “bio”

Visita a área produtiva de Mathieu. Foto: MST

Com certeza um dos pontos altos do intercâmbio tem sido as visitas nas fazendas de produção de alimentos orgânicos (“ferme bio”). Esse tipo de produção na França cresce até 15% ao ano e o país é líder europeu na troca da agricultura tradicional para o cultivo sem produtos químicos.

Neste primeiro mês de atividades do intercâmbio, os militantes Sem Terra conheceram pequenas experiências de produção de alimentos em áreas de 30 a dois hectares. Cada experiência, com base na organização produtiva orgânica e com foco no núcleo familiar, cooperada, coletiva ou associada, apontava para práticas diferentes.

O rótulo “Agriculture biologique” na França significa o reconhecimento de um tipo de produção sem insumos químicos sintéticos. As áreas produtivas possuem um “rótulo” que valida um método de produção sem agrotóxicos. Mas isso não tem nada a ver com a noção de agroecologia ou agricultura camponesa que conhecemos. As explorações “biológicas” podem ser pequenas ou grandes, agronegócios ou agricultura camponesa, orientadas para a exportação ou para o consumo local.

Em 2020, existem 53.255 áreas de produção orgânica reconhecidas, ou seja, 12% das áreas (de um total de 416.054). A superfície orgânica duplicou desde 2015, atingindo 2,55 milhões de hectares, ou 9,5% da superfície agrícola francesa (26.864.000 hectares de superfície agrícola útil em 2020).

O mercado orgânico em 2020 atingiu 13 mil milhões de euros, o segundo maior da Europa depois da Alemanha (15,9 mil milhões de euros) e antes da Itália (4,6 mil milhões de euros). O setor biológico está em crescimento constante, mas representa apenas 6,5% do consumo alimentar francês. Ou seja, no momento, este setor continua a ser uma parte pequena do abastecimento alimentar.

A área de Mathieu, um jovem francês que trabalha em dois hectares na região de Dieulefit, foi visitada pelo MST. Ele trabalha sozinho  na área e tem conseguido desenvolver com baixo custo um processo produtivo diversificado e com relações saudáveis entre o ser humano e a natureza.

Sem o uso intensivo de agrotóxicos e com pouco maquinário, Mathieu tem conseguido garantir o seu sustento e da família a partir da comercialização dos alimentos produzidos na área que ele alugou.

Próximos passos

Encontro com estudantes universitários em Grenoble (FR). Foto: MST

O intercâmbio segue com uma série de atividades, entre elas estão previstas encontros com mais movimentos e organizações sociais franceses, reuniões com ONGs, estudo sobre as lutas antirracistas na França, estudo sobre o feminismo e mais contato com a produção de alimentos, a partir de experiências coletivas.

“Estamos animados e motivados para seguir as agendas e aprender com as experiências daqui. A ideia é que possamos acumular coletivamente em torno dessas experiências, apontando um caminho concreto para construção da solidariedade internacional”, finaliza Carvalho.

Visita ao sindicato de camponeses no País Basco (FR). Foto: MST

*Editado por Fernanda Alcântara