Internacionalismo

Campanha de Alfabetização e Agroecologia na Zâmbia inicia sua segunda fase

“A ignorância e o analfabetismo são incompatíveis com o socialismo”, afirmou dirigente do Partido Socialismo durante o lançamento da Campanha
Campanha pretende alfabetizar mais de 2000 educandos em 2023. Fotos: Brigada Samora Machel

Por Brigada Internacionalista Samora Machel

Entre o final do mês de novembro e início do mês de dezembro, a Campanha de Alfabetização e Agroecologia na Zâmbia iniciou a formação das educadoras e educadores da região urbana de Lusaka, capital do país. Ao todo, participaram 70 educadores populares que assumiram a tarefa de alfabetizar 2100 educandos ao longo de 2023.

O lançamento da segunda fase da Campanha foi realizado juntamente com a finalização da segunda fase da campanha de arrecadação de bicicletas, construída em parceria com o Comitê de Amigos e Amigas do MST na Espanha, com o objetivo de viabilizar o acesso à escola pelos educadores e educadoras.

O presidente e fundador do Partido Socialista da Zambia, Fred M’membe, enfatizou a importância do acesso à educação como direito, do internacionalismo entre os povos na construção de uma sociedade socialista.

“A ignorância e o analfabetismo são incompatíveis com o socialismo. Você pode ser um socialista se não souber ler e escrever, mas será muito difícil. Dependemos muito da capacidade de ler e escrever para nos comunicarmos com os outros, para receber o conhecimento dos outros, para transmitir o conhecimento que temos aos outros. A boa palavra da revolução seria difícil de se espalhar se as pessoas não soubessem ler e escrever”, destacou Fred.

Nesse sentido, a educadora e militante do MST, Paula França, integrante da Brigada Samora Machel, reforçou o objetivo político e educacional deste Programa de Alfabetização e Agroecologia em vários territórios da Zâmbia. “O objetivo da educação é fazer com que os adultos sejam capazes de ler, escrever e falar em inglês. O objetivo político é que as pessoas entendam que o Socialismo é o melhor sistema para nossa sociedade. E para alcançar nossos objetivos, precisamos fortalecer os instrumentos de luta da classe trabalhadora”, salientou.

Já o vice-presidente do Partido Socialista, Cosmas Musumali, destacou a importância do educador popular e da militância envolvida neste processo da educação para a construção da emancipação dos povos zambianos.

“O que vocês estão fazendo aqui é parte da preparação para dirigir o governo e entregar às massas o que elas precisam. Vocês são os líderes de hoje e liderança não é sobre fazer discursos, liderança é sobre alfabetizar alguém que não sabe ler e escrever e dizer que estamos lhe dando poder, hoje você é capaz de ler e escrever.”

A partir desta compreensão de que a tarefa do educador e da educadora popular tem uma dimensão que vai além da sala de aula, a formação tem como base o Método Falar, Ler e Escrever as Palavras e o Mundo, fundamentado na pedagogia libertadora de Paulo Freire.

Essa fase da campanha será implementada nos municípios de Chawama, Kanyama, Kabwata, Lusaka Central, Matero, Mandevu e Munali, grande parte destes na região periférica da capital do país. O processo conta ainda com uma ampliação marcada pela articulação política na região, com a incorporação de educadores do PAT (Pan Africanism Today), oriundos da África do Sul, que iniciarão uma experiência piloto de alfabetização e agroecologia junto aos trabalhadores da Escola de Formação Política Kwame Nkrumah, em Limpopo.

Alfabetização, Agroecologia e Comunicação Popular

Durante a formação, a Brigada Internacionalista Samora Machel do MST, junto aos integrantes do coletivo de mídia do Partido Socialista, foi organizada também uma brigada de Comunicação Popular formada pelos próprios educadores que, em suas comunidades, cumprem a tarefa da Secretaria de Publicidade e Informação (IPS – sigla em inglês) dentro da estrutura organizativa do partido.

A atividade fez parte do cronograma de formação e o objetivo foi possibilitar que os participantes aprendessem a fazer um jornal mural utilizando materiais simples como papelão, cola, cartolina e tecido, no qual eram socializadas notícias sobre o partido, o MST, lutadores e lutadoras da África, além da Campanha de Alfabetização em si.

Também foram feitas pequenas entrevistas com os participantes e visitantes para a elaboração de materiais para as redes sociais, como também a experimentação do cinema na comunidade, momento em que o grupo assistiu ao filme Mulher Rei e puderam debater questões de gênero, identidade cultural e os desafios da juventude.

Outro momento importante foi a organização de uma exposição fotográfica sobre as atividades da Brigada Samora Machel desde 2018 no continente. As fotos nas áreas de agroecologia, educação, saúde e as mulheres foram impressas e colocadas nas mpasas (esteira de bambu artesanal) e chitenges (tecido tradicional zambiano). Na simbologia zambiana o chitengue representa a mulher que usa o tecido como vestimenta e também para carregar as crianças e outros objetos, e a mpasa é usada principalmente para as mulheres se sentarem para prepararem os alimentos, que depois é servido no chão sobre essa mesma esteira e as pessoas se sentam em volta para compartilhá-lo comendo com a mão.

Segundo os participantes, todo esse processo foi muito interessante, pois puderam aprender a empregar diferentes linguagens para comunicar, além de transformar materiais do cotidiano em objetos de arte e decoração.

Além disso, a formação da brigada de comunicação, são as atividades de comunicação popular durante toda a Campanha nos territórios. Dessa forma, os componentes vieram representando cada uma das 7 municipalidades (Chawama, Kanyama, Kabwata, Lusaka Central, Matero, Mandevu e Munali) onde as aulas da campanha serão desenvolvidas.

*Editado por Gustavo Marinho