MST na Posse

Marchar a vitória de hoje é celebrar a luta de ontem e alimentar os caminhos de amanhã

Marcha dos Movimentos Populares dão "posse popular"ao presidente Lula em Brasília
Foto: Ju Adriano

Por Isabela Cunha
Da Página do MST

“É por amor a essa pátria Brasil,

Que a gente segue em fileiras”

Os sentidos da renovação, da alegria e da esperança marcaram o Acampamento dos Movimentos Populares, em que o MST compôs ao lado de diversas organizações do campo e da cidade, representando todas as regiões do país, no estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Preparado desde a divulgação do resultado das eleições, mas aguardado e construído desde o golpe de 2016, o Acampamento recebeu cerca de 10 mil pessoas, que participaram de assembleias, atividades culturais, Feira Popular, banquetaço de ano novo, entre outras ações que, ao longo de três dias de festa e de luta, prepararam a militância para a Marcha dos Movimentos Populares, que atravessou o eixo monumental rumo a posse presidencial na manhã de hoje (01).

Parte importante da construção da posse popular, a Marcha dos Movimentos garantiu aos e às militantes acampados no Mané Garrincha, a possibilidade de levar para a Esplanada dos Ministérios as pautas que mercaram a luta e a resistência dos últimos anos.

Foto: Eduardo Moura

“Desde o golpe contra Dilma, passando pela prisão de Lula, a vigília, até a campanha presidencial, nós viemos dedicando energia e esperança a essa luta. Hoje, marchando ao lado do povo, o que sinto não é só uma vitória, mas a alegria de uma conquista mesmo, uma conquista da nossa luta”, comenta Gisele David, do Coletivo de Juventude do MST no Paraná.

A Marcha esticada no Eixo Monumental levou por 4,5km de avenida as cores e a alegria do povo Sem Terra de todos os cantos do Brasil e ainda incorporou militantes de outras organizações do campo unitário, baterias e artistas populares do país.

Mas, além dos muitos compromissos que veio reafirmar, a caminhada também trouxe para Brasília algo mais do que a força dos milhares militantes presentes: a Marcha presenteou aqueles e aquelas que saudaram o presidente Lula nas manhãs, tardes e noites durante os mais de 500 dias de prisão, e nas diversas agendas que marcaram a resistência popular no último período que enfrentaram a sombra da mentira e da violência, construíram a campanha vitoriosa para a democracia e desejaram devolver alegria a tantos e tantas militantes que em 2016 subiram esse mesmo eixo monumental com o gosto amargo da derrota para o golpe, relembrando todos os militantes Sem Terra que, mesmo assistindo a posse de seus acampamentos e assentamentos, trabalharam de longe para a materialização dessa vitória.

Ano Novo Sem Terra

A força demonstrada pela Marcha foi alimentada por esses seis anos de luta e resistência, mas também teve no acampamento do Mané Garrincha, a sua fonte de inspiração.

Durante os três dias de atividades permanentes, a militância que passou pelo estádio, se encontrou muitas vezes com a renovação da esperança, fosse a esperança conhecida da passagem de cada ano novo, fosse a esperança dos novos cenários de luta que se abrem a partir daqui.

Não à toa, foi com um banquete solidário que o Acampamento comemorou a passagem de 2022 para 2023, uma longa mesa de comida vinda dos assentamentos e acampamentos dos quatro cantos do país, preparada nas nossas cozinhas estaduais pelas mulheres e homens que até hoje só tinham cozinhado a ceia junto de seus familiares.

Foto: Ju Adriano

“Apesar de temperar, cozinhar como eu faço na minha casa, aqui o trabalho foi bem maior”, comenta Sonia Pereira Dias, que veio de Montes Claros (MG) para acompanhar a posse e ajudou a cozinhar para os militantes que passaram pelo Acampamento. Quando perguntamos a ela qual o seu desejo para 2023, ela responde sem titubear: “Comida na mesa de todos. Quando a fome se alastra, tudo o que nós podemos desejar é que não falte comida na mesa de ninguém”.

Do acampamento à Marcha, o MST ocupou esses 3 dias em Brasília com a alegria de ter superado as barreiras que os últimos anos impuseram às organizações populares, comprometido também com as novas lutas que o povo brasileiro tem a encampar diante do novo cenário que se abre no próximo período.

Dos abraços trocados entre companheiros e companheiras que se reencontraram depois de tanto tempo, até as visitas como a da Ministra Sonia Guajajara e do Ministro Paulo Teixeira, a atividade relembrou o quanto já foi conquistado a partir dos esforços coletivos e o quanto temos a reconstruir daqui pra frente na luta pela terra.

Como bem lembra Gisele David: “marchar pelo eixo monumental é refazer um caminho que o MST faz já há muitos anos e, que nesse primeiro dia de governo Lula, vem relembrar ao povo brasileiro o que os nossos desejos rebeldes, aliados a luta cotidiana, tem poder de realizar”.

*Editado por Gustavo Marinho