Economia Solidária

SENAES visita Central de Distribuição da Reforma Agrária em Curitiba

“Eu saio daqui com o espírito ainda mais feliz por ter optado em trabalhar com a Economia Solidária,” disse Gilberto Carvalho, Secretário Nacional de Economia Solidária
Secretário da SENAES, Gilberto Carvalho em visita à Central de Distribuição da Reforma Agrária e Economia Solidária em Curitiba. Foto: Helena Cantão

Por Gisele Carneiro, do Cefuria, e Helena Cantão, do Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST

Neste último sábado (04), o atual secretário da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), Gilberto Carvalho, esteve em Curitiba para participar da assembleia do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria) e conhecer a experiência da Rede Paranaense de Economia Solidária Campo-Cidade (Rede Mandala).

Durante a assembleia, ocorrida pela manhã no auditório da APP Sindicato, os assuntos sobre Economia Solidária e a participação popular no governo Lula ganharam destaque no momento de abertura para contribuições da plenária.

Gilberto frisou que a Economia Solidária foi desestruturada dentro do governo Bolsonaro. A Secretaria Nacional de Economia Solidária, que já havia sido rebaixada a Subsecretaria no governo Temer, em 2019, foi colocada em um departamento dentro da Secretaria Nacional de Inclusão Social e Produtiva do Ministério da Cidadania. Ainda assim, como ele lembrou, muitas iniciativas de Economia Solidária foram surgindo nos últimos anos, reforçando que não se trata de uma “moda” – mas que ela veio para ficar, e não pode se desconectar de uma forma de vida.

O secretário também pontuou sobre a importância da articulação em rede dos empreendimentos econômicos solidários: “a Economia Solidária não pode ser solitária, é preciso rede para que tenha força, consistência”, afirmou. Também abordou a necessidade de qualificação técnica e de gestão nos empreendimentos, que é preciso educação política, reeducação de valores de vida, além de financiamento.

Reacendendo a esperança de que a Economia Solidária seja tratada com a importância que lhe cabe, de construir um novo modelo socioeconômico de organização do trabalho e geração de riquezas, Gilberto estimulou a ideia de a Economia Solidária disputar o protagonismo da economia, estando dentro do Ministério da Economia e não do Ministério do Trabalho.

A política precisa do povo

Para Carvalho, a transformação social não se faz somente pela via institucional. É preciso inclusão social com formação política, num permanente processo de educação popular; que as pessoas saibam que cada programa, cada ação governamental, está vinculada a um projeto de sociedade.

O secretário destacou o papel da comunicação neste processo pedagógico: “precisamos utilizar meios de comunicação para fazer processos massivos de educação popular. Se o povo brasileiro soubesse que o golpe contra Dilma seria um golpe para cada pessoa, não haveria sido exitoso”, comentou. 

A simbologia e a mística deste novo governo também foi tema trazido à assembleia: “a posse popular, a subida na rampa com representantes do povo brasileiro, a catadora Aline que entrega a faixa ao Presidente Lula… é uma simbologia muito forte e precisamos ser coerentes, caso contrário, corremos o risco de ‘queimar’ essa simbologia.  Precisamos nos comprometer em construir poder popular. Tem que dar certo! Não podemos frustrar!”

Gilberto Carvalho na Assembleia do Cefuria. Foto: Anderson Moreira

Rede Mandala fortalece espaços populares em Curitiba 

Após a assembleia, Gilberto Carvalho seguiu para as visitas de dois espaços que a Rede Mandala contribui na articulação em Curitiba: a Feira Permanente de Economia Solidária, no bairro Portão, uma rede de empreendimentos de artesanatos e alimentação que se organiza coletivamente para comercializar suas produções; e a Central de Distribuição da Reforma Agrária e Economia Solidária Produtos da Terra, no Xaxim, espaço gerido pela Cooperativa Central de Reforma Agrária do Paraná (CCA). A rede do MST do Paraná reúne 23 cooperativas espalhadas pelo estado e dialoga com outras de diferentes regiões do país.

Felizmente, o Brasil inicia uma nova trajetória neste ano de 2023: temos um governo comprometido com a reconstrução do país e que certamente  vai se empenhar em fortalecer a Economia Solidária.

O encontro com o secretário foi muito importante nesse sentido, porque houve troca de saberes e de experiências. Fica cada vez mais claro que a transformação na sociedade envolve participação popular, formação política e o movimento de conhecer a realidade concreta, como Paulo Freire orientava.  

Carvalho esteve em contato com parte da Economia Solidária no Paraná e, como secretário, terá mais subsídios para pensar as ações necessárias ao seu fortalecimento, como ele mesmo ressaltou: “É muito importante tocar o concreto, ver o que está acontecendo. E aqui, vendo materialmente as pessoas trabalhando, se envolvendo… isso traz uma energia muito forte para o coração da gente, a consciência de que de fato dá certo! Eu saio daqui com o espírito ainda mais feliz por ter optado em trabalhar com a Economia Solidária”, declarou.

Central de Distribuição é resultado de um grande trabalho coletivo

Central de Distribuição da Reforma Agrária e Economia Solidária Produtos da Terra. Foto: Lucas Paulatti

A CD ou o CD, como é chamada a Central de Distribuição da Reforma Agrária e Economia Solidária Produtos da Terra, é fruto da ampla articulação de anos entre cooperativas da reforma agrária do estado do Paraná, entidades de economia solidária de Curitiba e entidades da agricultura familiar da região metropolitana de Curitiba.

Tudo começou em 2016 com o surgimento das Cestas Agroecológicas Campo-Cidade, articulação entre a Cooperativa Terra Livre, do Assentamento Contestado, na Lapa, a Incubadora Trilhas de Economia Solidária, da PUCPR, o Centro Comunitário e de Proteção Alimentar Pe. Miguel (Cecopam), o Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria) e o empreendimento Sinergia Alimentos Saudáveis.

A iniciativa consistia na comercialização e entrega coletiva quinzenal, num primeiro momento, e depois semanal, de hortaliças, tubérculos, legumes, frutas e temperos in natura agroecológicos produzidos por cooperadas e cooperados da Terra Livre, assim como outros produtos processados, vindos de áreas da Reforma Agrária e Agricultura Familiar.

Entre os anos de 2017 e 2018, a demanda por atender mais pessoas e em mais regiões da cidade cresceu e, diante da complexidade das ações para desenvolver essa logística, a a Cooperativa Central da Reforma Agrária do Paraná (CCA) passou a na gestão da iniciativa. 

É também no ano de 2017 que nasce a marca Produtos da Terra e o site de mesmo nome, como uma forma de facilitar a comercialização das Cestas Agroecológicas e expandir o trabalho de formação em consumidores e consumidoras conscientes na cidade.

Montagem de pedidos de Cestas Agroecológicas na CD. Foto: Nelson Orlando de Andrade

Em 2018, inicia-se o sonho de uma Central de Distribuição em Curitiba. Um local para facilitar a logística da diversidade de produção da Reforma Agrária, da agricultura familiar e da Economia Solidária, como contou Ademir Fernandes, na época integrante da CCA e hoje coordenador da Frente de Logística e da Frente de Feira do Produtos da Terra.

“Assim que estiver tudo estruturado, a ideia é também fazer uma logística para o pessoal da agricultura familiar que vem do campo. Por exemplo, quem entrega merenda escolar, a ideia é que venha pra cá, numa viagem só, e faça a distribuição”, disse ao Brasil de Fato durante a 17ª Jornada de Agroecologia.

Em setembro de 2018, a CCA ingressa na Rede Mandala potencializando seu próprio vínculo campo e cidade e trazendo mais elementos para a materialização do sonho da CD. A autogestão, integração de atores do campo, bem como empreendimentos da cidade, fez com que CCA e o Sinergia Alimentos Saudáveis assumissem, em 2019, a gestão compartilhada das iniciativas da marca Produtos da Terra. 

Em 2020, a equipe de gestão finalmente consegue alugar um barracão no bairro Xaxim para ser a sua Central de Distribuição e, assim, ampliar as atividades de comercialização. Serviços de armazenagem, estocagem e distribuição de mercadorias de outras cooperativas que atendem o mercado institucional nos programas governamentais de segurança alimentar passam a ser atividades realizadas na CD. A venda de produtos pelo site e whatsapp se intensifica, como em feiras pela cidade. 

Com a CD, a iniciativa também conseguiu fortalecer outras práticas de consumo consciente em Curitiba e cidades do Paraná, agregando diversidade de produtos a grupos de consumo e cestas, como foi o caso das Cestas Agroecológicas da UFPR-Litoral, do grupo LAMA da UEPG e do Grupo de Apoiadores da Agroecologia do bairro Xaxim.

Também em 2020, com a pandemia de COVID-19, surgem as Cestas Esperança, projeto de cestas de doações que são obtidas por consumidoras e consumidores da marca Produtos da Terra e doadas nas ações mensais de solidariedade do MST e parceiros, alimentando famílias que estão em situação de insegurança alimentar.

Cesta Esperança montada na CD. Foto: arquivo Produtos da Terra

A CD também possibilitou a participação mais ativa na Rede Armazéns do Campo e a construção de uma logística nacional para fazer com que as produções da reforma agrária e da agricultura familiar dos diferentes estados estejam em todas as lojas e iniciativas da rede.

Atualmente, a CD recebe e vende uma variedade de cerca de 250 itens de produtos para consumidoras e consumidores de Curitiba e região metropolitana, através de 5 feiras semanais na cidade sob a marca Armazém do Campo.Três dessas feiras são espaços da prefeitura e exclusivamente orgânicas. Essa variedade também está disponível para compras no site Produtos da Terra Paraná e pelo whatsapp da iniciativa, e conta com cerca de 70 pedidos semanais.

O serviço de armazenagem para as cooperativas filiadas da CCA que fornecem produtos para os programas institucionais Compra Direta Paraná e PNAE também merece destaque. Em 2022, cerca de 201 mil quilos de arroz, 62 mil litros de iogurte e 22,5 mil quilos de outros produtos lácteos passaram pela CD antes de chegar nas escolas estaduais e municipais, restaurantes populares, cozinhas comunitárias, bancos de alimentos e hospitais de Curitiba e região metropolitana. Uma parte dessa quantia foi distribuída com a equipe e estrutura de logística da CD.

*Editado por Fernanda Alcântara