Cine Armazém

“Somos Resistência”: Cine Armazém denúncia a violência contra a população LGBTQIA+ no Brasil

O filme “Assim como o Ar. Sempre nos Levantaremos” foi o instrumento utilizado para o debate
Exibição e debate do “Cine Armazém”, no Armazém do Campo no Rio de Janeiro. Foto: MST

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Na noite desta quinta-feira (9/2), o Armazém do Campo no Rio de Janeiro realizou mais um sessão especial do “Cine Armazém” com o objetivo de realizar um momento de conversa sobre os temas provocados em cada filme assistido. Desta vez, “Assim como o Ar. Sempre nos Levantaremos” foi o material utilizado para o debate no espaço físico da loja, que está localizada no coração da Lapa, que faz parte do Centro Histórico do Rio de Janeiro, e contou com a presença de visitantes da loja.

Para mediar a conversa durante a noite, o Armazém contou com a presença de João Lucas, do Coletivo LGBTI do Movimento Sem Terra, e Tifhanny Flor, do Levante Popular da Juventude da equipe do Armazém do Campo Rio.

O filme apresentado é um documentário de longa- metragem que dá visibilidade às mulheres lésbicas, bissexuais, trans e travestis, retratando suas angústias e medos; além de mostrar, na rotina de suas vidas e nas relações familiares, a resistência e a luta por seus direitos, por suas vidas. O documentário, dirigido por Clara Angélica, visibiliza as violências, mas também, a resistência das mulheres a partir de uma construção individual e coletiva que são as sexualidades e as identidades de gênero.

Tifhanny Flor explica que a proposta de discussão sobre as identidades de gênero e as violências são extremamente necessários. “O atual momento político nacional e internacional, com o avanço do neoliberalismo sobre os nossos corpos reproduz uma violência muito grande, porque o capital resulta em uma hegemonia de privilégio que nos violenta constantemente. Então, é confortável ser homem, heterossexual, cristão e rico no Brasil. Falar sobre as questões da violência, é falar sobre igualdade, falar sobre o anticapitalismo. É pautar o combate as opressões, entendendo que é uma luta constante nos ascensos e descensos”.

“Que cada um possa ser cada um”

Ela destaca que o Brasil é o país que mais violenta os corpos LGBTQIA+, e continua: “desigualdade é algo que sempre ocorreu, desde a tentativa de se formar o brasil. E a gente tem se coloca como resistência. Nos colocamos como um contraponto, como uma tentativa de uma nova sociedade, com novos valores. Falar sobre o fim da violência é falar sobre a diminuição de desigualdades e de liberdades. Então, a gente precisa discutir que cada um possa ser cada um”.

De modo geral, o Brasil tem um problema com a memória. Um país que houveram vários momentos de violação da humanidade das pessoas, quando a gente fala no tema do combate a opressão, do tema do feminismo, do tema da negritude, nós estamos tentando falar de uma luta contra uma estrutura de poder que favorece ao capital, por meio de um modelo de sociedade único, pautado em uma moral e ética, que instrui as pessoas a servir.”

Cerca de 20 milhões de brasileiras e brasileiros (10% da população), se identificam como pessoas LGBTQIA+, de acordo com a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Cerca de 92,5% dessas pessoas relataram o aumento da violência contra a população LGBTQIA+, segundo pesquisa da organização de mídia Gênero e Número, com o apoio da Fundação Ford.

Ainda segundo a pesquisa, esses dados estão atrelados as eleições de 2018. De lá pra cá, 51% das pessoas LGBTQIA+ relataram ter sofrido algum tipo de violência motivada pela sua orientação sexual ou identidade de gênero. Destas, 94% sofreram violência verbal. Em 13% das ocorrências as pessoas sofreram também violência física.

A pesquisa revela ainda que, em comparação com os Estados Unidos, por exemplo, as trans brasileiras correm um risco 12 vezes maior de sofrer morte violenta do que as estadunidenses. Esse é apenas um dos levantamentos que apontam o Brasil como o país que mais mata pessoas trans.O Relatório Mundial da Transgender Europe mostra que, de 325 assassinatos de transgêneros registrados em 71 países nos anos de 2016 e 2017, um total de 52% – ou 171 casos – ocorreram no Brasil.

*Editado por Fernanda Alcântara