Produção de Alimentos

Agroindústria de lácteos da Copran comemora dez anos da inauguração, no Paraná

Com processamento de 36 mil litros de leite ao dia, Cooperativa do Paraná é resultado da luta de famílias assentadas do MST
Processamento do leite na agroindústria de lácteos da Copran, em Arapongas, Paraná. Foto: Joka Madruga

Por Helena Cantão
Da Página do MST

Neste mês de fevereiro completou-se dez anos da inauguração da agroindústria de laticínios da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (COPRAN), instalada no assentamento Dorcelina Folador, em Arapongas, Paraná. A Agroindústria foi inaugurada no dia 04 de fevereiro de 2013, com a presença da presidente Dilma Rousseff.
No seu primeiro ano de funcionamento, a agroindústria chegou a produzir 12.000 litros de leite por dia, atendendo produtores de leite de assentamentos e agricultura familiar de Arapongas, Apucarana, Londrina e Maringá. Atualmente, beneficia em média 36.000 litros de leite por dia e atende mais de 420 produtores de leite situados em mais de 20 municípios das regiões Norte, Centro-Oeste e Noroeste do Paraná.
A conquista de uma agroindústria de beneficiamento do leite foi fruto de anos de lutas do MST no estado, como contou Dirlete Dellazeri, da diretoria da Copran, durante a inauguração: “A indústria de laticínios é uma conquista grande, fruto de anos de luta do MST no Paraná. Essa luta começou desde o acampamento, na obtenção da terra, e agora temos a agroindústria.”

Estrutura da agroindústria no assentamento Dorcelina Folador. Foto: Wellington Lenon

Histórico de Luta

A ocupação da área de cerca de 400 alqueires onde hoje é o assentamento Dorcelina Folador aconteceu em 1999. Na época, os proprietários da até então, fazenda São Carlos, produtora das sementes Balu, sofriam um processo que previa o confisco em leilão pelo Banco do Brasil, por conta de uma dívida de quase treze milhões de reais. O MST organizou as famílias acampadas na região e decidiu participar do leilão, ocupando a área inicialmente com 20 famílias, que foram prontamente despejadas pela polícia. O banco confiscou a fazenda, que passou a pertencer à União e se tornou passível de reforma agrária, destinada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assentamento.
Dirlete, que fez parte da ocupação da área em 1999, também ressaltou que o assentamento é uma referência para a Reforma Agrária, pois, além da distribuição da terra, as pessoas encontraram ali as condições de viver, de ter acesso à educação, saúde, trabalho, de desenvolver a produção de alimentos para a população e também de seus próprios conhecimentos. 

Todas essas questões essenciais para o desenvolvimento da vida nas comunidades camponesas e avanços da Reforma Agrária perpassam pela organização do trabalho coletivo das famílias ao redor de suas produções, como ressaltou a presidente Dilma no ato de inauguração, há dez anos atrás: “Aqui eu vi a construção de uma vida melhor, por homens e mulheres dedicados que, com seu compromisso de ação cooperada, foram capazes de agregar conhecimento e tecnologia na produção e construir uma vida melhor para seus filhos.” E complementa: “A Reforma Agrária é a democratização da posse da terra. Ela terá resultados melhores se puder, ao mesmo tempo, mudar os padrões de produção. Hoje vimos que não só pode, como ocorreu. Vi um modelo de cooperação, participação coletiva e a capacidade de organização de todos os envolvidos no projeto. Vi aqui um caminho firme para o Brasil, que transformará nosso país.”

Preparação do evento de inauguração da agroindústria em 2013. Foto: Douglas Mansur

Trabalho coletivo e cooperação

A organização do trabalho coletivo em torno da produção no assentamento acontece através da cooperativa, a Copran que, além de administrar a agroindústria do leite, também é responsável pela agroindústria do hortifrutti que existe no assentamento desde 2019.

Fundada em 1997, no município de Tamarana, por famílias assentadas do norte do Paraná, no início a Cooperativa se dedicava apenas à produção de frutas e legumes. A partir do processo organizativo dentro do MST, as famílias optaram por se dedicar à produção de leite e estruturar a Cooperativa para a comercialização do alimento. A sede da Copran passa então a ser no assentamento Dorcelina Folador e, com a produção organizada, a conquista de beneficiar e comercializar os produtos já processados e embalados vem com as agroindústrias.

“O que eu posso afirmar e testemunhar da grande importância que tem uma agroindústria dentro de um assentamento, é só perguntar para qualquer pessoa no Dorcelina o antes da Copran e o depois da Copran. É muito diferente no aspecto do desenvolvimento, de geração de renda, de trabalho, de perspectiva para a juventude, para as famílias assentadas, para as mulheres”, ressalta Dirlete hoje, após dez anos de vivência dentro da Cooperativa. 

As agroindústrias são responsáveis pela geração de mais de 100 postos de trabalho, preenchidos especialmente pela juventude dos assentamentos da região, dedicada tanto à produção do laticínio como na parte da administração e logística. Dirlete estima que 90% da força de trabalho vem da juventude que enxerga na agroindústria a possibilidade de continuar no assentamento e se envolver nas tarefas coletivas.

Dirlete conta ainda que, antes de 2013, muitos dos jovens deixaram o assentamento para irem para a cidade em busca de renda. Com a inauguração da agroindústria, além dessa juventude voltar ao assentamento para tocar os negócios coletivos, também tiveram incentivo de produzir no próprio lote.

Dessa juventude que trabalha na agroindústria, parte significativa são mulheres. Dirlete destaca a importância de se criar condições de geração de renda para as mulheres diante do enfrentamento e superação do machismo: “a autonomia financeira vai despertando nelas também a autonomia, o desejo de superar alguns limites que tem e de superar, especialmente, o machismo imposto em nossa sociedade.”

A Copran, assim como as demais cooperativas, teve um papel importante nas ações de solidariedade feitas pelo MST durante os anos de pandemia da COVID-19. A cooperativa foi a responsável por mobilizar mais de 600 famílias da sua base cooperada para a doação de leite, assim como beneficiar, empacotar e transportar o alimento para que chegasse até as pessoas beneficiadas pelas ações.

Entrega de leites produzidos na agroindústria. Foto: arquivo MST

Padaria

Hoje, a Cooperativa com 1.070 sócios, em sua maioria de camponesas e camponeses da Reforma Agrária, além de tocar as duas agroindústrias, possui também uma pequena padaria. A produção da agroindústria do leite e do hortifrutti atende o mercado varejista da região e o mercado institucional através dos programas de merenda escolar estadual e municipal das escolas da região e de Curitiba. Já a padaria atende especificamente o programa da merenda escolar de Arapongas.

Os 20 produtos lácteos – leite pasteurizado, queijos, iogurtes, bebida láctea, manteiga e requeijão – que levam o nome da marca coletiva de algumas das cooperativas da reforma agrária do Paraná, a Campo Vivo, também podem ser encontrados por consumidoras e consumidores nas lojas da Rede Armazém do Campo do Paraná e de São Paulo.

Alguns dos produtos feitos na agroindústria e comercializados pela Rede Armazém do Campo. Foto: arquivo Produtos da Terra

Agroindústria garante permanência das famílias no campo

Nos dez anos de experiência, por meio da Cooperativa, a agroindústria triplicou sua produção, estendeu seu território de atuação junto a produtoras e produtores, construiu sua comercialização e fortaleceu jovens e mulheres de sua comunidade, na perspectiva do acesso ao trabalho digno.

A expectativa é continuar avançando e, até o final do ano, chegar ao processamento diário de 50.000 litros por dia. Para isso, a Copran contou, nesta última semana, com a aquisição de um silo com capacidade de 30.000 litros, através de emenda parlamentar da deputada federal Gleisi Hoffmann. Segundo Dirlete, o silo “vem nos ajudar muito para que possamos aumentar nossa capacidade de coleta, pois possibilita que os caminhões tanques cheios de leite sejam descarregados imediatamente quando chegam na plataforma do laticínio. Além disso, o silo nos proporciona condições de manter a qualidade do leite, mantendo-o nas condições ideais de refrigeração.”

Chegada do silo adquirido por emenda parlamentar na agroindústria. Foto: arquivo Cooperativa

Produzir alimentos saudáveis faz parte do cotidiano das famílias Sem Terra, que vem avançando na organização da produção via cooperativas. No Paraná, são 23 cooperativas que organizam a produção, cumprindo sua função econômica, agregando valor e aumentando a renda das famílias, e sua função social, ajuda a potencializar a organicidade do território onde está inserida. Defender a produção de alimentos e o cooperativismo estão entre as principais bandeiras do MST.

Assista o vídeo produzido na época do evento pelo coletivo do Setor de Comunicação do MST-PR sobre a inauguração da agroindústria e a luta pela reforma agrária.

Veja também a transmissão completa feita pela TV Brasil sobre o evento de inauguração há dez anos.

*Editado por Solange Engelmann