Entrevista

‘A grande meta é garantir renda ao agricultor e levar comida onde ela falta’

Novo presidente da Conab, Edegar Pretto diz que o governo federal será o grande cliente da agricultura familiar
Indicação de Edegar Pretto (à dir.) para assumir Conab partiu de Lula (à esq.) e se insere em contexto de retomada das políticas públicas agrárias voltadas à agricultura familiar. Foto: Ricardo Stuckert

Por Katia Marko
Do Brasil de Fato | Porto Alegre

Na semana passada, o ex-deputado Edegar Pretto foi confirmado como o próximo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA). Sua indicação faz parte da retomada das políticas públicas direcionadas aos agricultores familiares pelo governo Lula.

Nos períodos Temer e Bolsonaro, a Conab sofreu sucateamento, expresso, por exemplo, no fechamento de 27 das suas unidades armazenadoras em 2019. Com seus estoques reguladores em baixa, sem conseguir equilibrar oferta e procura, falhou em impedir a disparada nos preços dos alimentos, prejudicando os consumidores. Agora, ao contrário da lógica neoliberal, a ideia não é deixar que o “mercado” defina por si só o preço dos alimentos. 

“Queremos voltar a formar estoque público, intervir, enfrentar a inflação dos alimentos e garantir comida boa para quem passa necessidade, que não são poucos”, adianta Pretto nesta conversa com Brasil de Fato RS, realizada durante a 45ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul.

BdF RS – Qual sua expectativa ao assumir a Conab?

Edegar Pretto – Primeiro com uma grande responsabilidade de atender ao chamado do presidente Lula para presidir a maior companhia de abastecimento da América Latina. Está presente em todos os estados. São em torno de quatro mil servidores altamente qualificados.

A Conab, para o campo brasileiro, sempre teve uma importância extraordinária. Sempre esteve no Ministério da Agricultura e agora passa para um novo ministério que está sendo reconstruído, que é o MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, extinto no mandato Bolsonaro e agora recriado).

A Conab, se depender de nós, vai continuar prestando o serviço que prestou até aqui, mais e melhor, com muito mais entusiasmo e organização. Vão ser acrescidas à Conab outras funções, como viabilizar o agricultor familiar, garantir que aquele agricultor terá renda e dignidade. O governo (federal) será o grande cliente da agricultura familiar.

Queremos voltar a formar estoque público, intervir, enfrentar a inflação dos alimentos e garantir comida boa para quem passa necessidade, que não são poucos. São 33 milhões de brasileiros que dormem e acordam com fome todo o santo dia. É a grande meta: levar comida onde está faltando na mesa, garantir para o agricultor renda e dignidade, para a gente ter mais oferta de alimentos e baixar o preço na prateleira dos supermercados.

Nas secas anteriores, a gente ia à Brasília e voltava só na expectativa do ‘pode ser’

BdF RS – O Rio Grande do Sul está mais uma vez com os agricultores sofrendo com a estiagem. Na semana passada, cinco ministros do governo Lula estiveram no estado para ver a situação…

Pretto – Vieram cinco ministros. É totalmente diferente das últimas duas secas em que eu participei (das discussões) como deputado estadual, liderei missões oficiais em nome da Assembleia Legislativa. A gente lutava para ser recebido e, quando era recebido, não via nenhum anúncio e voltava pro Rio Grande do Sul naquela expectativa do “pode ser”, “de repente”, “conforme”…

Os ministros foram à Hulha Negra (Sul do estado) e participei naquele momento como futuro presidente da Conab. Hulha Negra é uma das regiões mais sofridas com a estiagem. Fomos anunciar medidas importantes e para dizer aos agricultores que o governo Lula não vai faltar nesse e em nenhum outro momento.

O governo tem que estar ao lado das pessoas, especialmente em horas difíceis como essas. O presidente Lula na semana passada estava em São Paulo, naquela enchente que vitimou muitas vidas, levando além da solidariedade, também anúncios para amenizar o sofrimento daquelas pessoas.

Vamos anunciar a volta do Programa de Compra de Alimentos da Agricultura Familiar

BdF RS – No dia 17 de março vamos ter a festa da colheita do arroz orgânico do MST, que já é uma tradição no nosso estado. Qual a importância desse momento?

Pretto – Já participei de duas reuniões preparando a vinda do presidente Lula. Até aqui está acertado que será a primeira visita que ele fará ao Rio Grande do Sul como presidente da República. Vai ser no território agroecológico do assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, o maior produtor de arroz ecológico da América Latina. Ele virá para a festa e, por certo, também trará muitos anúncios.

Estamos preparando um anúncio nacional e formal, que é a volta do PAA, o Programa de Compra de Alimentos da Agricultura Familiar. Nele, a gente incentiva a agricultura a produzir, o governo compra e entrega para quem está precisando. É a tal da entrega simultânea. Você dá um recurso para o agricultor, ele paga com alimentos e a Conab direciona para os locais que estão precisando dessa comida. O Brasil vai entrar nos eixos novamente. Estamos com muita força para fazer essa reconstrução.

Edição: Ayrton Centeno