Mulheres Sem Terra

Mulheres do MST acampam em BH e doam alimentos para famílias da maior favela do estado

Além da denúncia do agronegócio e da violência, ações deste ano são em defesa da democracia
Como pauta, as mulheres ainda reivindicam o enfrentamento a todos os tipos de violência. Foto: Arquivo MST

Por Ana Carolina Vasconcelos
Da Página do MST

Na manhã desta terça-feira (7), a praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Belo Horizonte, amanheceu movimentada, com a chegada de mais de 500 de mulheres do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), das nove regiões do estado.

O Acampamento Pedagógico faz parte da jornada de lutas, que culminará em uma grande marcha no dia 8 de março, data que simboliza o Dia Internacional de Luta das Mulheres.

“Nosso objetivo é fortalecer a unidade das mulheres, construindo ações de formação, de cultura e de diálogo com a sociedade, apresentando o nosso projeto de reforma agrária popular”, afirma Michele Capuchinho, da direção do MST, ao explicar os objetivos do encontro.

Com a chegada das delegações, as atividades começaram com uma feira agroecológica e oficinas. No período da tarde, a atenção das mulheres sem-terra foi voltada para o debate sobre o atual momento político, os desafios da luta pela terra e a defesa da democracia, alinhada ao processo de reconstrução do país.

Na noite desta terça (7), a programação conta de um “banquetaço”, com produtos da reforma agrária popular, e apresentações artísticas e culturais.

MST distribui 5 toneladas de alimentos

Na manhã desta quarta (8), o dia de luta das mulheres começa com uma ação de solidariedade e de plantio de árvores, organizada pelo MST, no Aglomerado da Serra, maior favela de Minas Gerais.

Ao todo, o movimento irá doar para as famílias da comunidade cinco toneladas de alimentos. As cestas possuem arroz, feijão, farinha, abóbora, mandioca, banana, milho-verde, batata-doce, melancia, abacaxi, goiaba, limão, abacate, jaca, chuchu, beterraba, quiabo, couve, taioba, entre outros alimentos.

Com a ação, o MST busca demonstrar que os desafios enfrentados pelas mulheres da cidade são os mesmos enfrentados pelas mulheres do campo. Entre eles, aparece com centralidade a fome.

“Nossas lutas são as mesmas. São as mazelas do capitalismo que fazem as mulheres terem jornadas triplas. Somos nós as principais atingidas com o modelo predatório de mineração presente em Minas, que vem acabando com as nossas riquezas naturais e desenvolvendo um projeto de morte”, comenta Michele.

Ela ainda destaca que, em todo o território do estado, as mulheres têm sentido na pele os impactos da política neoliberal do governo de Romeu Zema (Novo).

“O governador implementa uma lógica que destrói a vida das mulheres, que retira direitos e coloca a responsabilidade para a pagar a conta do capital, cada vez mais nas costas dos trabalhadores, principalmente das mulheres”, avalia.

Às 16h de quarta-feira (8), o MST se soma à marcha do 8 de março na capital mineira. A concentração será na Praça da Liberdade. Mais tarde, às 19h, está programado o encerramento do Acampamento Pedagógico e o retorno das delegações para suas cidades.

Denúncia ao agronegócio e defesa da democracia

Neste 8 de março, o movimento coloca o seu bloco na rua com o lema “O agronegócio é responsável pela fome e pela violência. Por terra e democracia: mulheres em resistência”.

Com as ações, o MST busca dialogar com a sociedade sobre o papel do agronegócio no financiamento das ações antidemocráticas no país, no estímulo à política do ódio e na volta da fome ao Brasil.

“O agronegócio é responsável pelos mais de 33 milhões de brasileiros que passam fome e os quase 60 milhões que vivem a insegurança alimentar. Nos lares nos quais as mulheres negras são as responsáveis, isso incide de forma ainda maior. Ele é responsável pelo trabalho escravo e pela escassez dos nossos recursos hídricos”, destaca Michele.

Como pauta, as mulheres ainda reivindicam o enfrentamento a todos os tipos de violência. Para o movimento, o 8 de março é também uma oportunidade para debater sobre a emancipação humana.

“Então, estamos apontando a necessidade da construção de novas relações entre as mulheres, os homens, as crianças, os idosos, a comunidade LGBTQIA+. Nossa busca do enfrentamento às violências é construir desde já um novo projeto de sociedade”, continua a dirigente do MST.

As mulheres do movimento também se organizam neste ano em defesa da democracia, denunciando os intentos golpistas no país.

“Desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, vivemos ataques profundos à democracia brasileira. Nós nos colocamos nas ruas em defesa da democracia, dos direitos sociais e de políticas públicas para o povo”, conclui Michele.

Edição: Larissa Costa