Jornada Nacional

Em Minas Gerais, Jornada das Mulheres é marcada por solidariedade e enfrentamento à violência

Além de doar 5 toneladas de alimentos e realizar plantio de mudas frutíferas, as Sem Terra debateram a defesa da democracia e o combate às violências
Em BH, 500 mulheres participaram de ato unitário e debateram o enfrentamento ao agronegócio e às violências. Foto: Mariana Jaimes

Por Agatha Azevedo
Da Página do MST

Como parte do calendário nacional de lutas, o MST de Minas Gerais realizou, nos dias 7 e 8 de março, o Acampamento Pedagógico das Mulheres Sem Terra, na Praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Com delegações das nove regionais do Movimento no estado, a ação trouxe 500 mulheres para a capital mineira para debater o enfrentamento ao agronegócio e às violências e a defesa da democracia no atual cenário político.
No dia 7 de março, a Praça foi tomada pela Feira Primavera das Mulheres, que contou com produtos de todo o estado e de parceiras da agricultura familiar. Ao longo da atividade, houveram diversas oficinas, encontro com parlamentares aliadas da luta pela Reforma Agrária Popular, ações de solidariedade, banquetaço e plantio de árvores.

Com o objetivo de enfrentar o agronegócio e trazer alimento para a mesa, as mulheres Sem Terra levaram para a Feira Primavera das Mulheres a cultura camponesa e a comida saudável. Solange Silva, militante do assentamento João Pedro Teixeira no norte de Minas, falou da importância de retomar a luta e trazer alimento para a cidade. “Eu produzi e eu trouxe para a feira, e é muito bom poder voltar pra rua trazendo nosso doce cristalizado, nosso tempero, nossa farinha, abacate, licor e nossa comida do assentamento, a mulher tem um papel muito importante”, conta.

Para Carolina Rodrigues, militante do assentamento Dênis Gonçalves na Zona da Mata, a cultura também é uma forma de enfrentar o agronegócio e as violências. “Eu produzi instrumentos musicais, tambores e ganzás para trazer pra Feira, a organização das mulheres é importante para a nossa libertação, porque é muito difícil sair de uma situação de violência sozinha”, afirma.

Este ano, o enfrentamento à violência e a defesa da democracia ganharam um caráter de unidade entre o campo e a cidade em todo o país, com ações de troca de saberes e solidariedade. Segundo Fernanda da Silva, do Setor de Gênero do MST-MG, a organização popular, que sempre foi central na estratégia do Movimento, se intensifica e retoma o foco de unidade neste ano, ao construir a Jornada do dia 08 de março com as mulheres do Aglomerado da Serra, periferia de Belo Horizonte.

“Nós estamos pautando a questão ambiental, a degradação do meio ambiente, da nossa fauna e da nossa flora no 8 de março, um dia que não é para se ganhar flores, mas para se fazer luta, e é importante estar na comunidade do Aglomerado da Serra nesse dia de luta porque nós mulheres conhecemos a necessidade de fortalecer nossa luta coletiva, no campo e na cidade, e nós seguimos pautando e protagonizando a luta contra a fome e contra a violência”, afirma Fernanda.

Solidariedade Sem Terra

Fotos: MST MG

As ações se estenderem para o Aglomerado da Serra, a maior favela do estado mineiro, e lá foram realizados o café de Tereza, o cortejo com o Bloco Pisa Ligeiro, o embelezamento do espaço coletivo com atividade de muralismo e plantio de árvores; além da distribuição de alimentos às famílias da comunidade da Serra.

Além de doar 5 toneladas de alimentos produzidos de forma agroecológica, sem o uso de veneno e sem trabalho escravo aos moradores do Aglomerado, as mulheres Sem Terra também estiveram presentes no local o dia todo e marcharam para o ato unificado de Belo Horizonte, junto com a comunidade.

Para Maíra Santiago, do Setor de Produção do MST, estar na comunidade é esperançar um futuro sem violência e com alimento na mesa. “Nós viemos aqui para uma comunidade urbana em Belo Horizonte para fazer um plantio solidário na Praça Bola de Ouro, a partir de um desejo da comunidade de plantar mudas frutíferas. Nós vamos doar mais de 300 mudas, e vamos plantar 20 mudas no espaço coletivo. É importante a gente afirmar que nós somos natureza também e nós precisamos defender a natureza, assim como nós precisamos defender a vida das mulheres”.

Foto: MST MG

Ela também denuncias as violências do agronegócio contra as mulheres. “Da mesma forma que o agronegócio destrói os nossos biomas, com muita violência a partir do desmatamento e dos crimes ambientes, também se faz isso com as mulheres. A gente defender a natureza é também defender a vida e os corpos das mulheres, combatendo a violência e a fome”, afirma.

Colorida e arborizada, a Praça é a sede Ponto de Cultura do Bloco do Caranguejo, que também foi revitalizado a partir da ação das mulheres. “Eu imagino daqui uns anos, as crianças aqui do aglomerado podendo comer essas frutas, e os frutos da luta das mulheres que são a resistência, a luta contra a violência e pela moradia, florescendo dessa articulação política também”, afirma Maíra.

*Editado por Solange Engelmann