Mulheres Sem Terra
Dos dias de Março
Por Kenvin Nicolas
Da Página do MST
Depois da partilha de um café da manhã recheado, a roda vai se formando, algumas companheiras tímidas, outras sorriam francamente, os olhares traduziam as noites quentes e os dias frios, que em marcha cantam março e escrevem a poesia rebelde.
Todas se levantam, fazem exercícios dito “jogos de teatro”. O espaço é tomado pelas gargalhadas, a timidez se acanha, e todas desde a mais nova a mais velha, esbanjam tamanha alegria do estar juntas.
Apresentação feita! Uma das mais velhas da roda toma a palavra, e de forma sutil descreve as opressões e violências sofridas, que por sinal não espanta as outras, ao contrário, desperta fúria e as faz seguir na teimosia de não retroceder.
Depois da primeira, as outras levantam a mão e pedem a palavra, que em sussurros e lábios trêmulos, falam dos estupros, das expulsões, dos chutes e ponta pés.
Paridas da mesma dor desse ser mulher, decidem de mãos dadas em não sucumbir!
Algumas percebem a chegada de alguns homens e decidem dar uma pausa, não pela falta de dizer, mais sim, por compreender que o exercício era de CONSPIRAÇÃO.
Os homens saem e elas seguem:
Ocupação
Gravidez
Conquista
Esperança
Juntas
Mulher!
Essas eram as palavras que nas tantas bocas permitem continuar.
Acampadas e assentadas, compartilham o desejo da terra, de parir o futuro, germinar o novo, sonhar a liberdade, organizar as fileiras e gritar aos quatro cantos, que pra cada cerca de arame farpado, haverá fogueira em chamas, lenços de chita e bandeiras em riste.
Agora em bando, se banham e confraternizam, porque é nas mulheres que deposito minha fé!
*Editado por Solange Engelmann