Interesses do Agronegócio

Dono do arroz Prato Fino financiou campanha de deputado que propôs criação de CPI do MST

Empresário doou R$ 60 mil à campanha de Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), que também recebeu de CEO da Gerdau
Manifestantes bloqueiam entrada da fábrica da Gerdau/Açonorte em Recife. Foto: Alan Tygel

Por Paulo Motoryn
Do Brasil de Fato | Brasília (DF)

O empresário gaúcho Celso Rigo, dono da indústria de beneficiamento de arroz Pirahy Alimentos, fez a maior doação individual à campanha do deputado federal Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), nas eleições de 2022. O montante de R$ 60 mil foi destinado à campanha do congressista, que é o autor do pedido de criação da CPI do MST.

A doação de Rigo chama a atenção, já que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganhou destaque nos últimos anos por ser o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. O fato foi tema de discussões na campanha eleitoral, inclusive em debates presidenciais e entrevistas concedidas pelo então candidato presidencial Lula (PT).

De acordo com Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina há mais de 10 anos. Comandada por Rigo, a Pirahy Alimentos é dona da marca de arroz Prato Fino e terceira maior beneficiadora do grão no Rio Grande do Sul.

Além do empresário do ramo do arroz, André Gerdau, CEO da Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço, também doou R$ 25 mil à campanha de Zucco. A relação do MST com a Gerdau tem episódios marcantes, como quando, em 2016, uma fábrica da Gerdau/Açonorte, em Recife (PE), amanheceu fechada por cerca de 200 militantes sem-terra.

Conhecido como “mecenas do Grêmio”, Celso Rigo é dono da indústria de beneficiamento de arroz Pirahy Alimentos. Foto: Reprodução/Facebook

As doações individuais são permitidas por lei e não configuram uma ilegalidade. Os montantes doados por Rigo e Gerdau foram registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e estão disponíveis para consulta na plataforma DivulgaCandContas, administrada pela Corte.

A criação da CPI do MST foi proposta por Zucco e pelos também deputados federais Kim Kataguiri (UB-SP) e Ricardo Salles (PL-SP) com o objetivo de criminalizar ocupações de terra feitas pelo movimento. Na quarta-feira (15), alcançou o número mínimo de assinaturas para ser instalada, em uma ação coordenada pela bancada ruralista.

O requerimento de abertura já foi protocolado no sistema da Câmara dos Deputados depois que os defensores do pedido decidiram não esperar por nenhuma nova assinatura além do mínimo exigido (172 deputados federais).

Brasil de Fato tentou entrar em contato com o gabinete do deputado federal Tenente Coronel Zucco, com a indústria de beneficiamento de arroz Pirahy Alimentos e com a Gerdau. Até o momento, nenhuma das partes envolvidas respondeu aos contatos. O espaço segue aberto para manifestações.