Luta pela Terra

Acampamento no Paraná luta pela consolidação de comunidade em área de corruptos

Famílias realizaram curso de formação com foco nos desafios para consolidação da comunidade camponesa, rumo aos 40 anos do MST
Foto: Igor de Nadai 

Por Igor de Nadai, do Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST

Durante os dias 14 a 16 de março, famílias do acampamento Claudete Vive, de Boa Ventura do São Roque, no Paraná, se reuniram para atividades de estudo, troca de experiências e atividades culturais na comunidade. O curso é uma iniciativa do Setor de Formação do MST, no intuito de fortalecer a construção das comunidades camponesas e organizar as tarefas na construção da Reforma Agrária Popular. Ainda, é uma atividade de animar e organizar os preparativos para os 40 anos do MST.

Segundo Marinho Prochnow, do setor de formação do Movimento, “o curso discutiu com as famílias sobre a conjuntura política que vive o país na entrada do governo Lula, a história da luta pela terra, assim como os desafios internos na luta pela reforma agrária a partir da realidade do acampamento. Porém, a própria organização do curso pelas famílias e o olhar para os problemas concretos da comunidade, já são sinais de avanço organizativo e de unidade interna”. 

O curso reuniu dezenas de pessoas da comunidade. Foto: Marinho Prochnow

Foto: Igor de Nadai 

Ainda como parte da programação, foi realizado um mural no espaço educativo da comunidade em homenagem ao educador Paulo Freire, simbologia discutida e planejada pelo setor de educação do acampamento. Por fim, como parte da mística e da missão da preservação do meio ambiente, foi plantado pela turma, uma muda de Peroba rosa, árvore bastante presente e simbólica das matas da região. 

Reforma Agrária em terras de corruptos

O acampamento está localizado na antiga fazenda da família Rocha Loures, que pertence à família do “homem da mala”, o ex-deputado federal pelo Paraná, Rodrigo Santos Rocha Loures (PMDB), parlamentar ganhou destaque no noticiário brasileiro, em maio de 2017 como pivô do escândalo que abalou o governo Michel Temer (PMDB), após delação dos donos da JBS à operação Lava Jato. Indicado por Temer para receber propina e favorecer a empresa, o paranaense foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley Batista, da JBS.

O “homem da mala” pertence a uma família tradicional do Paraná, que está na linhagem dos “fundadores” de Curitiba. As terras da comunidade Claudete Vive estão em nome da Agropecuária Belarrisa, de propriedade de Rodrigo Costa da Rocha Loures, pai do deputado federal Rodrigo Rocha Loures.

O pai do ex-deputado ocupou cargos de peso. Entre eles, a presidência da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) de 2003 a 2011. Neste período, Rodrigo Costa da Rocha Loures foi indiciado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por supostas fraudes na gestão. 

A maioria das denúncias estava relacionada à despesas não justificadas, um repasse de R$ 265 mil e R$ 561 mil ao Instituto Paraná de Desenvolvimento (IPR), presidido por Rodrigo da Rocha Loures, entre outros gastos com familiares sem comprovação ou justificativa. 


Fotos: Igor de Nadai

Preservação da vida e produção de alimentos saudáveis

Cerca de 70 famílias moram e trabalham na comunidade, onde buscam melhores condições de vida e com a missão de produzir alimentos saudáveis e preservar o meio ambiente. A área, localizada no vale do Rio Ivaí, se destaca pela quantidade de áreas verdes preservadas e pela fartura de alimentos agroecológicos produzidos pelas famílias. 

Tainá Damasceno, moradora da comunidade acompanhada de seu enteado e 3 filhos, relata que “aqui neste acampamento, há uma fartura muito grande de alimentos, vejam, quase toda alimentação do curso que fizemos veio daqui de dentro, o feijão, milho, mandioca, batata doce, carne de porco, galinha, jiló, salada! Só compramos o sal e o arroz. Meu maior sonho é conquistar definitivamente a terra, e poder ter uma vida digna para mim e meus filhos neste assentamento!”. 

Fotos: Igor de Nadai

Produção de alimentos e solidariedade permanente

Na chegada do acampamento, é possível ver em um local de destaque e privilegiado, a horta coletiva “Antônio Tavares”, uma iniciativa também realizada por diversas comunidades de acampamentos no Paraná, com a finalidade de produzir alimentos para o autossustento das famílias e para doação nas ações de solidariedade. 

Fotos: Igor de Nadai 

Segundo Marciano da Vega e Dolores Ribeiro, ambos moradores do acampamento, a horta Antônio Tavares é cultivada e zelada pelos próprios moradores do acampamento. “Aqui a gente trabalha e colhe para os acampados terem o alimento bom para suas famílias, mas também para doação nas cidades e hospitais dos municípios. A gente já realizou algumas doações com muitos alimentos retirados daqui e pretendemos continuar ajudando!”. 

*Editado por Solange Engelmann