Semeando Resistência
MST pede fim da pulverização de agrotóxicos e reforço da produção de alimentos no MA
Por Mariana Castro
Do Brasil de Fato
Como parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, cerca de 300 militantes do movimento protocolaram, no dia 8 de março, uma pauta coletiva de reivindicações ao governo do Maranhão. As demandas incluem desde o fim da pulverização de agrotóxicos até melhorias nas estradas e escolas e o fortalecimento da produção de alimentos da agricultura familiar.
O Maranhão ocupa a liderança de rankings de violência no campo, analfabetismo e insegurança alimentar, além de amargar um lamentável histórico de crimes ambientais relacionados à pulverização de agrotóxicos, atingindo principalmente as comunidades de Carranca, Capão, Belém, Angelim, Cacimbas, Mato Seco, Brejinho, Baixão e Araçá. Nesta última, o caso de uma criança atingida por veneno recebeu repercussão nacional.
Dessa maneira, as prioridades apontadas nas reivindicações do movimento levam em consideração a realidade local de cada território, entre acampamentos e assentamentos da reforma agrária.
“A nossa pauta de reivindicação é bastante ampla. Estamos denunciando inclusive a questão ambiental, o desrespeito desses grandes projetos na Amazônia, no Maranhão, ao nosso bioma amazônico, aos nossos territórios, ao nosso direito de moradia. Hoje é uma grande reivindicação, inclusive, [ações para combater] o aumento da fome no Brasil”, explica Júlia Iara, da direção nacional do MST.
Para a entrega do documento, as mulheres seguiram em marcha até o Palácio dos Leões, sede do governo estadual, e foram recebidas pelo vice-governador, Felipe Camarão (PT), que compõe a chapa de Carlos Brandão (PSB), sucessor do ex-governador Flávio Dino.
“Nós recebemos a pauta apresentada, da luta que é permanente das mulheres do movimento, e aqui foi selado um momento de comprometimento do governo Carlos Brandão com essa pauta apresentada”, garante Camarão.
Felipe Camarão, que é também Secretário de Educação do Estado, aponta algumas diretrizes do requerimento proposto pelo MST que ele concorda serem imprescindíveis para a garantia de paz no campo.
“A paz no campo envolve obviamente reforma agrária, educação no campo com qualidade, respeito às mulheres, produção, desenvolvimento tecnológico, a compra daquela produção da agricultura familiar, assistência técnica e uma série de medidas importante que o governo Carlos Brandão terá como prioridade nesses próximos quatro anos”, complementa.
Proteção ao trabalhador no campo
O tema da violência no campo foi um dos mais debatidos durante o encontro, considerando a escalada de ameaças e assassinatos a lideranças nos últimos meses, atingindo especialmente indígenas, quilombolas e lideranças com atuação na garantia de terra.
Ainda em fase de transição de governo, a recém-empossada Secretária de Direitos Humanos, Lília Raquel, garante atuação nesse sentido.
“Ainda temos tristes números que precisamos refutar com ações assertivas e com efetividade para tentar combater e diminuir o índice de violência no campo (…) estamos em diálogo permanente com o Movimento Sem Terra, com os outros equipamentos e dispositivos que compõem o governo do estado, para que a gente possa avançar na proteção do trabalhador e da trabalhadora do campo”, explica Lília Raquel.
As mulheres Sem Terra cobram ainda uma atenção especial para o fortalecimento da produção e comercialização de alimentos da reforma agrária, que complementaria um amplo projeto de combate à fome no país.
No estado do Maranhão o movimento se destaca, especialmente, pela produção de mandioca, beneficiada em farinha e como subsídio para a produção de cerveja local, mas garante potencial para a produção em larga escala de alimentos.
“Nós vamos reivindicar, inclusive, produzir alimentos saudáveis. Queremos que o acesso à terra, o direito ao território, passe pelas condições do desenvolvimento da produção agroecológica, saudável, de alimentar o nosso povo e alimentar o povo brasileiro”, garante Júlia Iara.
Ex-deputado federal e atual Secretário de Agricultura Familiar, Bira do Pindaré (PSB) analisou o documento que, segundo ele, vai orientar as ações da pasta ao longo do mandato.
“Nós vamos cuidar dessa pauta, e ela vai nos servir como uma bússola, para orientar nossa atuação durante os próximos quatro anos. Vamos fazer uma gestão com participação e em parceria com o MST, porque entendemos que sem participação popular, não tem gestão de qualidade. É dessa forma que vamos atuar frente à Secretaria de Agricultura Familiar”, diz Bira do Pindaré.
Edição: Nicolau Soares/ Brasil de Fato