Despejo Zero

330 anos de Curitiba: campanha denuncia a cidade para além do cartão-postal

No aniversário da cidade, moradia é um dos principais desafios para famílias
Cartão Postal mostra a Curitiba que luta por moradia e direitos sociais. Arte: Gustavo Soares MST/PR

Por Campanha Despejo Zero
Da Página do MST

Nos cartões postais, Curitiba é conhecida como a cidade modelo, sustentável, capital europeia, mas não escapa de problemas sociais como qualquer outra. Famosa pelo planejamento urbano de vanguarda, a capital se esforça para esconder mais de 413 ocupações irregulares de moradia e mais de 84 mil pessoas vivendo em extrema pobreza, ou seja, com menos de 89 reais por mês.

Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia (2020) e quantificam Curitiba fora do que é mostrado em publicidade. No aniversário de 330 anos da cidade, a campanha “Curitiba além do cartão postal” quer denunciar a invisibilidade das comunidades da periferia, dos problemas na saúde, saneamento básico, energia e alto custo de passagem de ônibus, entre outros. A iniciativa vai mostrar as famílias que ficam para além dos prédios e parques.

Vila União, Ocupação Tiradentes, Dona Cida, Formosa, Primavera, Caximba, 29 de março, 1º de maio, Moradias Iguaçu, Parolin, Campo de Santana, entre tantas outras ocupações de moradia, compõem a articulação Despejo Zero. A campanha luta pela suspensão de qualquer atividade ou violação de direitos, sejam elas fruto da iniciativa privada ou pública, respaldada em decisão judicial ou administrativa, que tenha como finalidade desabrigar famílias e comunidades.

De acordo com a Cohab (Companhia de Habitação Popular de Curitiba), o déficit habitacional de Curitiba é de 50 mil moradias, e mais de 22 mil moradias em condições impróprias, sem saneamento básico e energia, em locais isolados sem acesso à cidade. Mesmo com todas essas dificuldades, nas ocupações de moradia, os moradores conseguem fazer melhorias nos locais onde vão morar – na maioria das vezes, espaços abandonados por mais de anos e sem manutenção. São os próprios moradores que abrem ruas, fazem fossas sépticas, compram postes, lutam para melhoria do bairro e cuidam dos territórios.

Despejo Zero apresenta demanda para os 330 anos de Curitiba

A articulação Despejo Zero tem um único desejo para o aniversário de Curitiba: o fim dos despejos e regularização das moradias em Curitiba. Moradia é a principal porta de entrada para todas as políticas públicas. A população que vive em Curitiba merece acesso à cidade e ter seus direitos garantidos. 

Despejo na comunidade Povo Sem Medo aconteceu sem aviso prévio. Fotos Juliana Barbosa MST/PR

Em janeiro deste ano, a comunidade Povo Sem Medo, que era localizada no bairro Campo do Santana, região Sul de Curitiba, foi despejada e centenas de pessoas ficaram sem ter para onde ir.

Crianças, idosos, homens e mulheres trabalhadores sofreram a brutalidade de um despejo, e a área voltou a ficar vazia, sem cumprir com a função social da propriedade. Advogados, jornalistas e até mesmo moradores foram impedidos de entrar no local durante a ação. A comunidade existia desde 2021, formada por pessoas que não podiam mais pagar aluguéis caros em tempos de crise econômica e aumento da fome, problemas que ainda assola milhões de brasileiros e brasileiras.

A articulação Despejo Zero reúne movimentos sociais da cidade e do campo pela defesa da moradia, um direito que está na Constituição do Brasil, além de ser uma necessidade humana básica. Desde 2022, diversas marchas foram realizadas em Curitiba com trabalhadores(as) urbanos, povos indígenas e camponeses(as). Em 7 de Março, como atividade referente ao 8 de Março (Dia Internacional da Mulher), mais de 1500 mulheres marcharam na capital paranaense por Terra, Teto, Trabalho e Democracia Sem Anistia. As mulheres tiveram uma reunião com representantes do poder público e leram uma carta apresentando diversas pautas, como garantia da moradia, saneamento básico e educação, entre outros.

Contraste entre casas de madeira e prédios luxuosos na ocupação Nova Guaporé 2, em Curitiba. Foto: Leonardo Henrique MST/PR

*Editado por Fernanda Alcântara