Educação

Os desafios da Educação diante da necropolítica

Artigo de Vicente Thiago Freire Brazil lembra: "O covarde ataque de assassinou uma professora e feriu mais cinco em São Paulo é sintomático de um tempo"
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Por Vicente Thiago Freire Brazil
Do IHU

Educação – e aqui nomeio-a com letra maiúscula para frisar que não estou a falar de um modelo, segmento ou proposta específica, mas da operação reflexiva de fundamento coletivo que demarca certa noção de humanidade – tem sido violentamente atacada no atual cenário político brasileiro. A sistematicidade desta violência contra a Educação – e todos os agentes que a constituem – pode ser observada de modo multifatorial: alteração dos dispositivos das políticas educacionais, construção social de um ambiente adverso ao processo educacional em si que se materializa no desenvolvimento da política do ódio contra os atores partícipes da causa educativa.

A autopropagandeada reforma para estabelecimento de um “Novo” Ensino Médio não passa de um processo de esterilização de futuros. A ilusão mais difundida do NEM – e como um educador cearense, não há abreviatura/onomatopeia melhor para expressar meu desprezo por essa política deseducacional – é aquela que vende a liberdade discente de escolha de itinerários. Se na letra morta da legislação tudo ganha brilho e cores, na experiência fática do chão da sala de aula o que testemunhamos é o futuro de milhares de jovens da Educação Pública – friso este enorme segmento, pois as instituições privadas fizeram apenas adequações cosméticas ao NEM – sendo abortado pois não existem opções muito menos autonomia para escolhas. É preciso revogar o NEM já!

O covarde ataque de assassinou uma professora de 71 anos, feriu mais cinco outros docentes e estudantes em São Paulo é sintomático de um tempo. Somente o espírito público de serviço à sociedade por meio da educação mantém alguém septuagenária em atividade em sala de aula. A mão que esfaqueou aquela idosa até à monstruosa morte foi de um jovem, mas as digitais são de uma política genocida que, desde sempre, escolheu a Educação como vítima prioritária. Como educadores não queremos mais armas, nem mais ódio, acreditamos na potência humanizadora da Educação, por isso, neste momento tão decisivo da história brasileira, nós educadores continuaremos a defender o educar como um ato de coragem, como a maior desobediência civil que alguém pode ter contra uma política da morte.